Um dos desfiles mais lembrados da Blue Man, de Verão 2006/07, que aconteceu nos Arcos da Lapa, com mais de 700 figurantes negros, dirigido por Bia Lessa ©Divulgação
Nesta estação, a Blue Man comemorou 40 anos de moda praia e usou seu desfile para homenagear outras marcas que também fazem parte dessa história. Os estilistas da Salinas, BumBum, Cia. Marítima e Lenny estavam sentados na primeira fila e, ao final da apresentação, subiram na passarela para agradecer junto com Thomaz e Sharon Azulay, respectivamente sobrinho e filha de David Azulay, fundador da marca, carioca de raiz e uma das figuras mais marcantes da moda brasileira. “Tenho 20 anos de idade e um de moda praia. Como vou falar sobre tudo isso? Era para o meu pai estar aqui e falar sobre esses 40 anos de história”, diz Sharon, emocionada, no backstage do desfile.
Sim, são 40 anos de história. Dos anos 70 para cá, vimos diversos estilos surgir, sumir e voltar de novo às areias.
David e o irmão Simão chegaram ao Rio vindos de Belém em 1967. Simão vendia bottons dos Beattles e fazia peças bordadas, com David sempre do lado vendo o irmão costurar. Até que um dia Simão recebe uma encomenda para fazer dois biquínis de jeans. Foi quando David saiu com as peças na mão, batendo de loja em loja e em apenas uma tarde, vendeu 1.800 peças. A vontade por novidades estava no ar e aquela era uma baita novidade e com apelo ao público jovem.
Porém, esse primeiro modelo apresentou um grande problema: ou ficava largo ou não passava da canela das mulheres. Muitas provas foram feitas e nenhuma solução encontrada. Foi um amigo que deu a ideia: corte a lateral e faça um laço, adaptando a peça a qualquer corpo. Foi o nascimento do biquíni de lacinho. E também o da marca Blue Man, em 1971.
Rose Di Primo em um anúncio da marca na década de 1970 ©Divulgação
O primeiro estouro veio quando a modelo Rose Di Primo foi fotografada usando uma das criações de David, o que funcionou como um aval para aumentar a credibilidade dessa nova grife. A tanga passou a aparecer em diversas revistas e em jornais internacionais e em cinco anos David transformou seu negócio caseiro em uma indústria. Mais novidades vieram: biquíni de cordinha, feito de retalho de patchwork, e o famoso biquíni de enrolar, uma espécie de shortinho cuja cintura era enrolada ao gosto do freguês.
Na década de 1980, outra musa passou a representar a marca, Monique Evans, no auge da sua fama. E a Blue Man seguiu criando maiôs e biquínis que David gostava de chamar de “ipanemenses”, bonitos, coloridos, novos, sexy, mas o mais importante: usáveis e reais. E até hoje se mantém assim.
Azulay entre Monique Evans e Daniela Cicarelli no desfile de Verão 2003 ©Divulgação
Azulay faleceu em 2009 em sua casa em Visconde de Mauá. Sharon e Thomaz, super jovens, assumiram em 2011 e desde então, têm levado com respeito a bandeira da Blue Man e a ideologia de seu criador: “Não sou estilista, nem gostaria de ser. Estou muito mais preocupado em manter a ideologia da minha marca: ser brasileira e ipanemense”. “Tive que olhar para trás e reviver essa história toda. Foi tudo tão moderno e o mundo tá tão careta hoje em dia…”, diz Sharon.
David Azulay com uma pequena Sharon no colo ©Divulgação
Sobre estar à frente de uma empresa como essa com apenas 20 anos de idade, ela diz: “Dá frio na barriga e medo. Há uma pressão emocional gigante”. Em uma das estampas da nova coleção, vemos David na praia dando um tchauzinho. “Queria que ele estivesse aqui. Colocamos meu pai na estampa e nos abençoando. Ele é meu amuleto da sorte”.
No meio da estampa, David Azulay (de camiseta escura e calça) acena com sua alegria habitual
Leia abaixo o depoimento dos estilistas que também foram homenageados pela Blue Man nesta estação:
Jaqueline de Biase, Salinas
“Foi um desfile emocionante até porque o David era uma pessoa muito especial para mim, uma pessoa muito querida. Não esperava claro, logo eu que quando era pequenininha, lembro de o David me carregar ao colo para a praia! Nós convivemos há tantos anos juntos que é quase uma família, a da moda praia: a Salinas com 30 anos, a Blueman com 40, a Lenny também com bastante tempo e o Cidinho nem se fala, enfim, acho emocionante estar aqui e comemorar com eles todos esses anos”.
Cidinho Pereira, BumBum
“Eu sempre gostei muito do David. É um concorrente que eu tinha muita intimidade de falar coisas, de discutir. E eu fico pensando, que até lá em cima ele mexe com a gente. Tá mexendo agora, convidou-me, convidou a Lenny e tantos outros estilistas de moda praia. Eu adorava ele, era uma pessoa muito verdadeira. Às vezes ele ficava na loja e falava ‘Cidinho, adorei aquela modelagem ou aquele tecido, vou copiar’, ele falava mesmo, não tinha medo de dizer o que queria. O biquíni hoje está mais estruturado. Quando eu comecei não se usava forro e hoje, na cor branca, por exemplo, tem que usar três forros, dois brancos e um bege. Antigamente, a mulher não estava tão preocupada. Agora, você usa cinco máquinas para fazer um biquíni”.
Lenny Niemeyer, Lenny
“Fiquei muito orgulhosa, acho que é uma homenagem nossa. Estar aqui sem o David… Mas é que a moda dele é tão importante para o Brasil, especialmente para o Rio de Janeiro, e o mais legal de tudo é poder estar aqui com os estilistas todos assistindo. Sempre fomos mais unidos porque a gente era muito do submundo da moda. Até que a gente pudesse começar a fazer desfile foram muitos anos, a gente não era nem considerado estilista!”.