No último ano, nas Olimpíadas de Tokyo, na estreia do skateboarding como categoria olímpica, as competidoras mostraram de uma vez por todas que o lugar das mulheres é sim sobre um shape de skate. Nomes como Rayssa Leal e Karen Jonz desafiam o machismo no esporte.
No entanto, o esporte, que surgiu entre jovens surfistas na Califórnia, ainda é uma cena bastante machista. Quando o papo é a moda do skate e o streetwear, isso não é muito diferente: Existe uma espécie de regra não dita entre marcas de skate, de não produzirem vestuário feminino. Além disso, é possível contar nos dedos de uma mão as marcas de skate e streetwear que são capitaneadas por mulheres no Brasil ou mesmo no mundo, hoje. Essas mulheres enfrentam o machismo para criar um vestuário que as contemple com estilo e performance dentro do universo do skate.
É o caso de Rafaela Sayuri, fundadora da marca Say Ur e co-fundadora da Class que começou a praticar o esporte aos 16 anos: “Quando um homem começa a andar de skate, ele rapidamente encontra uma crew, um grupo. Quando comecei a praticar, eu andava sozinha” conta. Foi nessa época, que Rafaela Sayuri conheceu Eric Cesar, que havia recentemente parado de praticar skate ao se machucar e juntos fundaram a Class, uma das gigantes do streetwear nacional, fundada ainda em 2014. “Não precisamos de uma pesquisa muito grande para dizer que a Class é uma das poucas, se não a única marca de skate que tem uma mulher como fundadora” afirma Rafaela.
A Class segue os códigos do streetwear e skate internacionais, com essa espécie de protocolo fechado e que olha menos para o público feminino. “Produzimos roupas para os atletas. Eu não considero necessariamente como roupas masculinas, até porque eu as uso, mas não existia uma atenção voltada ao vestuário feminino no skate, e a Say Ur vem para mudar isso” afirma Rafaela Sayuri.
Através do Local Studios, grupo independente por trás da Class e do qual Rafaela Sayuri é co-fundadora, ela criou a Say Ur, nova marca de skate e streetwear focada no público feminino, lançada no último mês. A marca estreou com uma collab com a Class, que celebra a visão criativa de Rafaela ao adicionar uma nova camada estética e uma beleza orgânica à sobriedade e design urbano já conhecido da Class.
A Say Ur inova em seu primeiro drop ao trazer peças tradicionalmente femininas com design para performance, focadas nas atletas mulheres do skate. Fibras naturais, sintéticas e tecnológicas são combinadas ao design utilitário de peças como saias e casacos, assim como nos acessórios, como bucket hats, tote bags e o clássico boné.
A coleção conta também com uma linha completa de shorts. Nas camisetas, duas grandes referências marca: o pipa, símbolo de elegância e violência; e Santos Dumont, pai da aviação e inventor brasileiro, que encomendou o primeiro relógio de pulso à Cartier, chamado Santos.
“As meninas do skate fizeram muita diferença no ano passado. Antigamente era estranho que uma mulher fosse sozinha numa pista, hoje a gente vê mais crews femininas e pessoas indo prestigiar as mulheres no skate.” diz Rafaela “mas ainda existe muito machismo nessa indústria. Acredito que existem marcas que nem estejam pensando em incluir as mulheres e não vão pensar em produzir para o público feminino por mais uma década, por exemplo”.
É fato: nem marcas referência como Supreme, Palace, BAPE e outras gigantes do skateboarding se dedicam a criar peças de vestuário feminino. O que torna ainda mais interessante que marcas nacionais como a Say Ur se dediquem a isso, sem se prender aos códigos não-ditos do streetwear e skate mundial. Isso também reitera a importância de haver diversidade – nesse caso, de gênero – em posições de decisão dentro das marcas.