Um dos ambientes da Missoni Home ©Reprodução
De há uns anos para cá, já se tornou comum ver nomes de designers que normalmente associamos a passarelas em vários outros tipos de negócio. Bares, restaurantes, hotéis e recentemente, feiras ou salões de móveis. Na mais importante de todas, o Salone Internazionale del Mobile, que acontece anualmente em Milão, as marcas Marni, Maison Martin Margiela e Hermès são algumas que este ano se destacaram. Mas não são os únicos com linhas para a casa. Missoni, Rick Owens, e até a fast-fashion Zara já criaram linhas “Home”, para quem quer vestir a sua casa exatamente com a sua cara.
As cadeiras da casa Marni em exposição no Salone Internazionale del Mobile em Milão ©Reprodução
As instalações da Hermès no Salone Internazionale del Mobile em Milão ©Reprodução
A casa Hermès estreou no ano passado no Salão com uma coleção de mobiliário contemporâneo e repetiu o feito este ano, com a colaboração do arquiteto japonês Shugeru Ban, que criou uma instalação em painéis de alumínio coloridos, intitulada “Module H”, inspirada na arte nipónica do Origami, que pode ser usada para separar cômodos da casa. A Maison Martin Margiela, que já tinha apresentado a sua coleção em São Paulo, esteve presente também no salão italiano, no showroom dos designers de mobiliário Cerruti Baleri, com quatro ambientes diferentes, todos com uma inspiração surrealista, a que chamaram “Cher Voisins” (queridos vizinhos). A Marni apresentou este ano uma série de 100 cadeiras em PVC colorido feitas por ex detentos colombianos. O lucro da venda das peças será revertido a favor de uma instituição que ajuda os presidiários a se inserirem na sociedade.
Um sofá da linha de mobiliário de Rick Owens e um dos looks da sua última coleção ©Reprodução
Nem sempre as peças são feitas somente com a proposta de criar uma linha de mobiliário, muitas vezes elas nascem de uma vontade do designer de criar outra coisa que não roupas. Rick Owens, por exemplo, tem uma coleção de móveis que recheia a sua casa e agora exposições pelo mundo, com peças inspiradas em Michele Lamy, sua esposa, e que concretiza com a ajuda da mesma. Segundo o designer, é ela quem se responsabiliza por toda a produção, interagindo com os artesãos na procura de matérias primas originais e diferenciadas.
Se por um lado o designer, enquanto artista, sente necessidade de expelir a sua criatividade excessiva através de outras formas, por outro, o fato das marcas de moda venderem móveis não deixa de ser um bom negócio. As peças de mobiliário criadas por estilistas conceituados acabam sempre por refletir traços caraterísticos dos próprios e ainda carregam o seu nome, tradição e mais importante que isso, o seu estilo de vida.
Poltrona criada por Alexandre Herchcovitch para a Tok Stok ©Reprodução
No Brasil temos também alguns exemplos disso. A Tok Stok, marca de varejo para quem quer decorar a sua casa com móveis mais modernos sem estourar o orçamento é perita em fechar parcerias. A lista de designers (não só ligados à moda) que já criaram coleções para as suas prateleiras vai longe. Desde o arquiteto Marcelo Rosenbaum até os estilistas Alexandre Herchcovitch, Amir Slama e Ronaldo Fraga, todos criaram linhas, inspiradas em coleções desfiladas nas passarelas.
O designer Reinaldo Lourenço, que criou uma coleção especial para a Dell Anno, fala no vídeo abaixo sobre a estreita ligação que a moda tem com a decoração de interiores e com o design de móveis.
E parece que todos os designers ou diretores criativos dividem uma mesma opinião. Em sua visita ao Brasil, Eduardo Dente, diretor criativo da Maison Martin Margiela, quando perguntado sobre o que sentia ao unir moda com mobiliário, respondeu: “Não acha que são mais ou menos a mesma coisa? Todas são belas formas de arte.” E se todas são belas formas de arte, nada mais natural então deixa-las conviver no mesmo universo, o da beleza.