O primeiro dia de Pense Moda 2012 começou com a esperada sabatina de Regina Guerreiro realizada por Paulo Martinez. Este, profissional dos mais respeitados do cenário atual da moda brasileira — e parte da geração de “formandos” da lendária editora –, guiou a conversa em clima bem informal e as pérolas foram surgindo naturalmente.
O fio condutor foi a carreira de Regina, que começou a trabalhar aos 18 como jornalista. “É inimaginável a diferença do ontem e do hoje”, ela afirmou, relembrando uma ocasião em que, aos 25 anos, em uma viagem à Espanha, viu uma mulher ser apedrejada porque estava de minissaia. “A minissaia foi um grito; a primeira vez que os homens viram uma mulher com o tornozelo de fora, já ficaram excitados, imagina com a minissaia! Foi um boom, só que é muito diferente de hoje, porque havia silhuetas absolutamente gráficas, inteligentes, e hoje infelizmente eu acho banalizado, vulgarizado. Fico assustada quando vejo na rua essas menininhas de shorts, abanando a celulite, acho de muito mau gosto”, ela opinou.
A sabatina teve ótimos momentos de reminiscência (como a história compartilhada por Paulo Martinez, que, em certa ocasião, ainda assistente da poderosa editora, queria ser liberado para o Carnaval, mas recebeu de Regina a resposta: “Nós da “Vogue” estamos acima dessas manifestações populares”, com trabalho marcado bem no dia do feriado) e de frases poderosas, quase sempre seguidas pela risada contagiante de Regina Guerreiro. Confira alguns trechos da conversa:
“Não existe mais individualidade, a perua ficou profissional”.
“Na minha vida teve altos altíssimos, baixos baixíssimos”.
“Todas essas regras, “tem que usar isso com aquilo”, eu acho uma bobagem. Nem na vida nem na moda existe certo e errado. Pelo contrário, tem que dar a cara pra bater, tem que ousar, tem que olhar o que está acontecendo em volta; a mulher precisa de emoção. Se todo mundo está sempre igual, o mundo fica muito chato. É como eu falei no meu livro, eu prefiro cometer um erro fundamental do que cair na mesmice universal”.
“Eu perdi todos os meus maridos não porque eu chegava tarde, mas porque eu não chegava”.
[Paulo Martinez: “Eu acho que você tem sangue azul”] Regina: “Não não, o meu é rosa choque, o da Costanza é que é azul!”.
“No começo da carreira, você tem que saber se quer ser empresário ou estilista. Acho que os alunos em geral têm uma visão glamorosa do mundo da moda que não é bem assim. É muito difícil. Eu fico irritadíssima quando vejo um empresário que mal sabe se vestir passar na passarela como se fosse o estilista da marca. Acho um absurdo, porque na realidade há uma equipe por trás que fez tudo aquilo”.
“A autoria de texto é um dom, que você tem ou não tem. Acho que a imagem engoliu muito o texto, mas é normal, hoje em dia as pessoas veem mais que escrevem, tudo virou mais visual, e é uma pena ao mesmo tempo. O jornalismo de moda não é falar “estou vendo um vestido vermelho” – todo mundo está vendo o vestido vermelho. Tem pessoas que são boazinhas crônicas, tudo é lindo, maravilhoso, é amiga de todo mundo. Precisa ter coragem, enfrentar, e não é “gosto, não gosto”; é “não é bom por causa disso, porque está carregado, vulgar” – tem que explicar. (…) O jornalismo de moda está meio envelhecido”.
“Eu não gostaria de ser editora de uma revista, eu não gostaria de ser chefe, é a posição mais difícil. A pessoa que está por baixo não sabe a pressão que vem de cima”.
“A beleza está na cara da gente. Eu não estou absorvendo agora porque estou muito chata, mas vocês têm um mundo enorme para instigar vocês, e espero que vocês queiram fazer sempre o melhor. Não se economizem”.
“A nossa profissão não tem horário, não dá pra se medir. Ou você se entrega, ou você faz outra coisa”.
O final da sabatina ainda teve um depoimento de Paulo Borges, diretor criativo do SPFW, que falou sobre sua experiência trabalhando com Regina Guerreiro: “Comecei a trabalhar com a Regina quando tinha 18 pra 19 anos; (…) esse tempo e essa experiência me fizeram ficar apaixonado por moda. E não que eu ficasse olhando pra moda em si; rapidamente percebi que o que me fascinava era a paixão que a Regina tinha por todo aquele universo. Eu me apaixonei por uma pessoa apaixonada. E desenvolvi uma paixão na moda através das pessoas. O que mais me apaixona e excita na moda hoje é a capacidade das pessoas fazerem coisas. A Regina continua sendo uma das pessoas que mais me inspiraram, e inspiram as pessoas que gostam de moda, e a gente não pode perder essa chama. Isso é um pavio, um fósforo, um sentido de vida. A Regina é uma pessoa especial, muito especial”.
A segunda parte da programação da noite teve ainda o debate “Mundo digital: Especialistas debatem a ética na internet”, com a participação de Bia Granja (youPIX), André do Val (site Chic), Carol Quinteiro (FHits), Ana Brambilla (especialista em jornalismo digital), Felipe Teobaldo e Nina Lemos, com mediação de Fernando Luna (editora Trip). A conversa, que começou com o tema “há uma ética específica para o jornalismo de internet?”, passou para a discussão sobre os jabás (hoje rebatizados de “mimos”, como bem lembrado na hora) tanto em blogs quanto em veículos de jornalismo. O clima esquentou mesmo quando o assunto foi o novo formato da publicidade, trabalhada em um formato muito próximo ao conteúdo editorial. “Eu fico meio assustada, desculpa, você estão falando muito de dinheiro, publicidade, não estou acostumada a pensar nisso, estou acostumada a pensar no leitor. (…) Você tem que pensar muito em quem tá te lendo, a gente tem uma responsabilidade imensa quando coloca qualquer texto em qualquer lugar. Eu posso ser careta, mas antes de pensar em dinheiro, isso é mais importante”, defendeu Nina Lemos.
A rede social como escape da vida real (e daí a leva de eternos felizes de facebook, instagram e afins) também foi discutida, assim como o que vem por aí no mercado web. Ana Brambilla acredita em serviço, e na valorização de marca por parte dos veículos de comunicação; e Bia Granja, apoiada por Felipe Teobaldo, opinou que o caminho das redes sociais é o mobile.
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