Um dos poucos nomes da indústria da moda que ainda podem ser considerados de vanguarda, Rei Kawakubo é tão respeitada quanto reclusa; por isso, quando ela fala, o mundo fashion escuta _e foi exatamente isso que aconteceu quando ela concedeu uma rara entrevista ao WWD na abertura de sua nova loja multi-marcas em Pequim.
Rei Kawakubo na abertura de sua nova loja em Pequim ©Jonah M. Kessel/WWD
Durante a conversa, a estilista deu opiniões sinceras e reveladoras sobre sua carreira, motivações e o futuro da Comme des Garçons. Questionada sobre suas inspirações, ela admitiu uma crescente dificuldade na criação de novas coleções: “… A motivação sempre foi criar algo novo, algo que não existia antes. Quanto mais experiência eu tenho e quanto mais roupas eu faço, mais difícil fica para criar algo novo. Uma vez tendo feito algo, não quero fazer novamente, então as possibilidades estão ficando cada vez menores”.
A respeito do mercado de varejo e de luxo, Kawakubo acredita que “Agora, com o fast fashion, o valor da criação está sumindo, e coisas muito caras não são interessantes”, e revela uma vontade de fazer transformações: “Há uma situação de mentes fechadas que impede movimentos e mudanças. Eu sempre penso que eu gostaria de acabar com isso, e eu já usei isso (o “closed-mindedness”) como tema para coleção, mas simplesmente não consigo acabar com isso. Eu quero que as pessoas acordem, mas não acho que consigo fazê-lo tanto quanto eu gostaria”.
A entrevista termina com uma crítica à nova geração (“Falta disciplina. E não é só na moda, eu acho… (pessoas jovens) ficam satisfeitas muito facilmente. Elas não são suficientemente rigorosas consigo mesmas”), mas o clímax da conversa é mesmo quando o assunto é o futuro da marca. Quando questionada sobre a possibilidade de que algum dia ela não queira mais criar ou não tenha mais ideias, Kawakubo se limita, de acordo com WWD, a um “silêncio completo e desconfortável”.
A conversa segue quando a reportagem pergunta se ela consideraria vender a empresa: “Eu acho que não há ninguém quer iria querer comprá-la. Eu faço tudo sozinha, então há muito poucas pessoas que poderiam fazê-lo. Você acha que há alguém que iria querer comprar?”. Nessa hora, Adrian Joffe, diretor executivo da Comme des Garçons e marido da estilista, diz, em meio-tom de brincadeira: “Estamos esperando uma oferta”.