Podemos dizer que os desfiles de Ronaldo Fraga são grandes acontecimentos, que ultrapassam as paredes das salas de desfile. São sempre os mais lotados, concorridos e aplaudidos. Por que? Porque as pessoas sabem que vão se emocionar, que serão tocadas pela sua delicadeza, seu humor e sua visão tão ampla e generosa de mundo. E nós, seres humanos, precisamos ser tocados.
E foi o que aconteceu hoje, durante seu desfile chamado As Mudas, no último dia de SPFW. Não teve uma única pessoa que não tenha saído da sala diferente de como entrou. Muitas choraram, muitas se seguraram. Todas se levantaram para aplaudir, assobiar e gritar quando ele entrou para agradecer. Na verdade é a gente que precisa agradecer, pois dificilmente nos deparamos com experiências como esta.
Pelas redes sociais vocês já viram as lindas roupas e também a participação de Marília Gabriela. Então aqui eu escrevo o que não pode ser visto, as sensações provocadas por tanta beleza.
De certa forma, a tragédia de Mariana foi a inspiração para sua coleção. Não a tragédia em si, mas o processo de renascimento – ou a tentativa de – que tem ocorrido na região.
Em um áudio antes do desfile, Ronaldo disse que foi atrás de bordadeiras locais e pediu que elas bordassem os jardins que ali existiam, para criar, através de suas roupas, a reinvenção desse lugar.
Com imaginação amorosa e fértil, ele transformou Mariana em uma poesia audiovisual. Vestidos simples – no sentido de pureza e inocência – remetem a esse renascer, ornados por bordados aplicados diretamente nas peças em forma de coração e folhas, e um trabalho muito precioso de joias em folhas bordadas feitas pela artista Clarice Borian. Esse trabalho da Clarice é uma das coisas mais bonitas que vi em ornamentos recentemente. Assim como as músicas cantadas ao vivo por Lívia Nestrovski e o músico Fred Ferreira – Lívia é filha de outro grande talento, o compositor, músico e escritor Arthur Nestrovski.
Durou apenas 15 minutos. Mas 15 minutos a flor da pele valem por uma eternidade.