Mais um desfile de Marine Serre e mais uma comprovação de que ela é um dos nomes mais importantes de sua geração – e por que não – do momento onde a moda se encontra atualmente.
Na mesma semana em que líderes se encontram no Climate Action Summit, em Nova York, Serre faz um desfile chamado Marré Noire, que em sua tradução mais literal significa maré negra, mas também é sinônimo para derramamento de óleo. A coleção foi criada tendo em mente um apocalipse, guerras climáticas e extinção em massa, em que poucas pessoas sobreviveram.
Desde que surgiu, essa jovem designer tem usado sua passarela para provocar transformações de atitude na moda, tendo como base o meio ambiente e as mudanças climáticas. Mas ela bem sabe que, para chamar atenção e causar um impacto, é preciso fazer barulho, o que tem conseguido com sucesso em seus desfiles que já viraram hot ticket da semana de Paris.
O desfile que aconteceu debaixo de chuva num parque começa com uma série de looks em preto como o anorak que cobria a cabeça como um véu negro, bolsos, correntes e acessórios utilitários como se estivessem preparados para qualquer emergência. O visual é forte, completado ainda pela imagem das pessoas assistindo sob dezenas de guarda-chuvas pretos.
Depois vieram outros momentos com inserção de cor e um trabalho mais complexo de construção. Aqui vale destacar o excelente trabalho que ela faz de aplicação deu seu logo de lua crescente. Nós já nos acostumamos a vê-los em bodies, leggings ou segunda pele de gola alta, mas aqui eles também aparecem em golas, botas, coletes, bonés e em alto relevo no couro e no jeans.
A lua crescente, símbolo instantâneo para a designer desde seu primeiro trabalho, surgiu de um desejo de abraçar esse símbolo clássico do Oriente, numa época em que ataques islâmicos em Paris e Bruxelas detonaram ondas de medo pelo mundo, aumentando o preconceito.
Apesar de ser uma voz jovem, a designer atua dentro da alta moda com uma maneira mais contemporânea de fazer roupas originais e de qualidade. Ela reúne em seu pensamento, exercício de criação e produção praticamente todos os elementos que uma marca hoje precisa, traduzindo, aparentemente sem esforço, o espírito dos tempos.
Hoje, 50% da coleção de Marine é construída com materiais reciclados ou com técnicas de upcycling – o que sobra é produzido localmente com tecidos provenientes de fábricas francesas. Um dos exemplos são os looks mais claros que dão um respiro ao apocalipse no meio do desfile, criados a partir de uma tapeçaria de toalhas de mesa de crochê vintage.
Em um review sobre a estilista, Suzy Menkes disse no ano passado: “depois de rever cerca de 100 shows em quatro cidades diferentes para a temporada de Inverno de 2018, o que ficou na memória é Marine Serre. Sua mistura de roupas futuristas e conscientes do corpo, com nuances da Arábia, capturou o o momento atual de uma maneira delicada, mas profunda”.
You’ve gotta love a designer who dares put pregnancy – and the possibility of life after the climate emergency – on her runway #MarineSerre #PFW pic.twitter.com/j0nY8ozBOn
— Vanessa Friedman (@VVFriedman) September 24, 2019