O São Paulo Fashion Week acontece em formato inédito e 100% digital entre os dias 4 e 8 de novembro e, entre as novidades, veremos a estreia de seis marcas no calendário do evento. Renata Buzzo é uma delas. Designer formada em Desenho de Moda pela faculdade Santa Marcelina, ela já foi escolhida pela Vogue Itália para representar o Brasil entre os sete designers do The Next Green Talent, evento de sustentabilidade que aconteceu no ano passado durante a semana de moda de Milão.
Até 2019, Renata integrava o line-up da Casa de Criadores com sua marca que é vegana e funciona no sistema slow fashion, usando o upcycling e uma produção sob encomenda e controlada com peças numeradas como uma maneira de causar menos impacto e entregar uma peça com qualidade e experiência afetiva. Em seu trabalho, ela estuda maneiras de introduzir o resíduo têxtil proveniente do corte das peças como carro chefe em bordados e manipulação de superficie.
A apresentação de Renata Buzzo acontece dia 6.11, às 18h e será transmitida ao vivo no @spfw e você poderá acompanhar tudo pelo FFW. Conheça mais sobre a estilista em nossa conversa com ela abaixo:
O que define a RENATA BUZZO em termos de estilo e propósito?
Em termos de estilo é uma roupa de festa estranhona, divertida, meio excêntrica mas com uma silhueta confortável que veste vários corpos porque nada é muito justo no corpo. Em termos de propósito, o veganismo é a principal pauta. Eu não uso nada animal e outros pilares de sustentabilidade fazem parte da marca porque eu utilizo muito do resíduo de corte das peças no desenvolvimento das superfícies e bordados têxteis da roupa portanto a redução do resíduo têxtil da coleção é considerável. A marca também não possui estoque e só produz sob encomenda, um número de peças limitadas e numeradas por modelo, é tudo bem artesanal, um produção bem controlada, tudo slow.
O que você está planejando para sua estreia?
A coleção chama Estudos Melancólicos e partiu de um poema meu com o mesmo nome, as roupas conversam com o tema que fala sobre melancolia, depressão, medos e algumas questões femininas, relação com o passado e etc. Várias questões em um único poema. Tanto as superfícies da roupa quando a cartela de cor traçam uma narrativa em paralelo com o texto, os remendos frágeis, os retalhos retilíneos soltos, largados, lânguidos, os nós pendurados nas roupas, tudo são elementos do texto.
A cartela vai desde um azul celeste otimista (mas não tanto porque ainda é um ‘blue’), passa pelo lavanda (a transição pro hematoma), vai pro roxo hematoma, cai nos pretos depressivos, melancólicos, passa por um pink mentiroso, tem os neutros apáticos, um rosinha fingido, até chegar no verde inseto.
Os sapatos fazem referências às escadas da última coleção chamada Trajeto Esférico e são uma collab com a Urban Flowers (marca vegana do Sul), as joias são nós de cerâmica tabaco com ouro em collab com a Ímpar Ateliê.
Como está sendo criar uma apresentação digital? Lado positivo e desafios.
Fiz um fashion film dirigido pelo Thierssys Wender e uma campanha fotografada pela Giovanna Gebrim, styling do Márcio Banfi e beleza da Ana Carolina Sabadin. Foi uma experiência interessante que me trouxe muitos aprendizados, é bem mais difícil destrinchar uma narrativa em forma de vídeo porque envolve roteiro e muitas horas de filmagem pra chegar em uma edição de oito minutos, é um trabalho exaustivo, diferente de um desfile onde a forma de apresentação acaba sendo mais simples e linear.
O lado positivo é que com o vídeo você consegue desenhar mais o tema, explorar mais a narrativa, você explica melhor a roupa. O lado negativo é ficar sem a experiência da passarela, o contato, a energia das pessoas, do backstage que é uma delícia e estou sentindo falta.
O que significa para sua marca agora estar no line up do SPFW?
Estou realizando um sonho de garota. A real é que eu nunca imaginei, sempre foi algo bem distante, ainda não caiu a ficha. Eu ainda tenho bem vivo na cabeça eu abordando amizades recentes que eu fazia na época da escola e falando: “oi tudo bem? Vamos abrir uma marca? A gente pode fazer uma sociedade!” Já paguei muito de lunática, todo mundo achou que a marca era mais uma invenção da minha cabeça, um hobby, até que começou a dar certo, até que eu entrei na SPFW. Agora todo mundo enxerga como algo sério.
Como você vê o futuro da criação de moda?
Feito pelos pequenos, pelos independentes e socialmente e ambientalmente responsáveis com um compromisso não só com vendas e números mas artístico e existencial. A roupa fala, se você quiser.