A top Jourdan Dunn ©Reprodução
Na véspera do desfile de alta-costura Inverno 2013/14 da Dior, a top inglesa Jourdan Dunn recorreu ao Twitter para explicar por que tinha sido cortada do casting. “Ahahahahahahaha cancelada da Dior por causa dos meus peitos! Eu <3 moda #Couture”, tuitou a modelo em tom irônico. O desabafo fez surgir comentários desagradáveis contra a marca que a dispensou. Minutos depois, Dunn escreve (em um tom ainda mais irônico): “Normalmente cancelam-me por ser negra, portanto o cancelamento por causa dos meus peitos é de o menos”. E mais comentários surgiram. Jourdan tem 81 cm de medida de busto. Para comparar, Joan Smalls, que desfilou para a Dior, tem 83 cm, de acordo com informações publicadas nos sites das agências das modelos, Storm e IMG, respectivamente. Os desfiles de alta-costura exigem um padrão de corpo mais esguio.
Dunn explica porque ficou de fora do desfile da Dior ©Reprodução
Dunn é uma das modelos mais bem cotadas do mundo, ocupando o 28º lugar do ranking do site models.com. A primeira vez que Dunn pisou em uma passarela foi em Nova York, em 2007, nos desfiles de Marc Jacobs e Polo Ralph Lauren, e foi considerada pela indústria como a nova Naomi Campbell. Desde então, ela já desfilou para a Prada, Victoria’s Secret, Topshop, Burberry, Calvin Klein e Saint Laurent, sendo que foi rosto de campanha dos três últimos. Em 2008, o fotógrafo Steven Meisel escolheu-a para a capa da edição dedicada exclusivamente a modelos negras da “Vogue” italiana; ela também já estampou editoriais de publicações como “Elle”, “i-D”, “Dazed & Confused”, “W” e “V Magazine”. No ano passado, a modelo foi destaque na cerimônia de encerramento da Olimpíada em Londres, ao lado de Kate Moss, Naomi Campbell e Georgia May Jagger.
Dunn na “Vogue” espanhola vestindo Saint Laurent ©Reprodução
Dunn é assumidamente uma defensora dos direitos das modelos negras. Na edição de março da revista “The Edit”, do site Net-a-Porter, a top afirmou que durante a sua carreira tem lutado contra o racismo, que muitas vezes cria uma concorrência desleal entre as modelos da sua cor. “Já aconteceu de Dunn estar a caminho do casting e ter que voltar porque o cliente não queria mais modelos negras”, lê-se no artigo.
Cinco das seis modelos negras que desfilaram na passarela de alta-costura Inverno 2013/14 da Dior: Alek Wek, Joan Smalls, Maria Borges, Kelly Moreira e Grace Mahary ©Imaxtree
Quanto à escolha da Dior, a questão prende-se ao fato desta ser a primeira vez, desde que Raf Simons assumiu o comando, que a marca inclui no seu casting modelos negras. A top do Sudão do Sul Alek Wek, a canadense Grace Mahary, a porto-riquenha (nº 1 de acordo com o models.com) Joan Smalls, a angolana Maria Borges, Kelly Moreira, do Cabo Verde, e Yasmin Warsame, nascida na Somália, foram as seis escolhidas por Simons para desfilar algumas peças da “mais desafiadora coleção que o designer já criou para a maison”, segundo Cathy Horyn, editora de moda do “The New York Times”.
As passarelas totalmente “brancas” da Dior já custaram a Simons e à grife algumas críticas polêmicas. James Scully, diretor de casting de marcas como Tom Ford e Jason Wu, é um dos que têm uma opinião forte sobre o caso. “Acho que o casting da Dior é tão obviamente branco que parece deliberado. Vejo o desfile e me incomoda – quase nem consigo me concentrar nas roupas por causa do casting. A Natalie Portman pode se queixar de que o John Galliano era racista, mas eu acho que Simons manda a mesma mensagem. Não vejo onde está a diferença.”, disse ao site BuzzFeed em março. O FFW apurou que, do Inverno 2007 ao Inverno 2012, há modelos negras na maior parte dos desfiles, mesmo que representadas por uma minoria.
A inclusão deste time de belezas negras foi uma resposta às críticas recentes? Ou foi o tema da coleção (os quatro grupos geográficos: Europa, Américas, Ásia e África) que orientou o casting? Polêmicas à parte, o acontecimento mostra como até as modelos mais cobiçadas podem sofrer com alguns parâmetros colocados pela moda.