Após uma confusão envolvendo a Vetements e o site Highsnobiety, outra marca de streetwear vira o foco das atenções nesta semana. Em uma entrevista ao Hypebeast, o russo Gosha Rubchinskiy pegou todos de surpresa ao dizer: “Estou cansado de fazer coleções temporada após temporada. Quero mudar minha estratégia para algo mais baseado em projetos. Talvez isso signifique que apareça uma coleção feminina de vez em quando, mas queremos focar mais nas colaborações com a Paccbet”. No mesmo dia, ele avisou em seu perfil no Instagram que a marca Gosha Rubchinskiy não existe mais da forma como a conhecemos e que algo novo está para surgir.
Paccbet – a principal paixão de Gosha hoje – é a marca de skate que ele fundou em 2016 com seu amigo e skatista profissional Tolia Titaev. O foco agora está em expandi-la.
Como um primeiro passo dessa nova estratégia, a Paccbet lançou uma coleção colaborativa com a Carhartt e vai abrir uma loja de skate em Moscou chamada October, que é o nome da equipe russa de skate. “Será a primeira loja realmente legal de skate na Rússia”, contou ao Hypebeast.
Porém, toda a propriedade intelectual de Gosha pertence, desde 2012, ao grupo Comme des Garçons, incluindo nome e logomarca. Enquanto o designer cuida da parte criativa, Adrien Joffe e seu time coordenam o lado dos negócios, como produção, vendas, marketing e distribuição. Coincidência ou não, o aviso de Gosha veio simultâneo ao anúncio de uma nova marca da holding que será lançada em julho baseada na internet e focada diretamente no consumidor final.
O que será que vem por aí? Certamente, a reunião de duas pessoas que conseguem se manter relevantes no mercado sendo disruptivos – e no caso da CdG, construir um império – deve render uma nova proposta de como um estilista jovem hoje pode existir como marca. As colaborações devem virar o foco dessa nova etapa de Gosha, o que faz sentido: a união de forças em áreas como criação, produção, distribuição e comunicação só potencializa o sucesso do produto.
Sua decisão também volta a questionar a obrigatoriedade das marcas em lançar coleções sempre no mesmo ritmo. Uma marca jovem como a dele pode se dar ao luxo de se desamarrar desse sistema e criar o seu próprio modelo de negócios. Uma de suas respostas na entrevista mostra bem sua facilidade em se desprender: “Eu não sou estilista ou fotógrafo profissional, sou mais um contador de histórias. Posso encerrar minha marca e parar de fotografar amanhã e começar algo novo. E sempre será interessante porque eu tenho uma história e se você tem isso, pode fazer qualquer coisa. É importante tentar coisas diferentes através de outros meios”.
E na paralela, Gosha mira seu esforço na Paccbet, que por sinal, não se pronuncia da forma como imaginamos. A grafia da marca faz um jogo entre o alfabeto cirílico e o nosso, usando letras que são parecidas, mas têm pronúncias totalmente diferentes. No cirílico, o p é r, c é s e o b é v. Então, a pronúncia certa é rassvyet, que significa nascer do sol em russo.
A mesma brincadeira eles faz com suas roupas, que tem elementos claros do streetwear, mas com uma estética russa. O resultado é como o alfabeto russo aos olhos ocidentais: é familiar, mas é diferente.
Além de passar uma mensagem positiva e de grande beleza, o nome também tem a ver com a nova energia criativa que está surgindo no país, uma nova geração que está usando a moda como plataforma – até há pouco tempo, o único nome conhecido na moda vindo da Rússia era o de Natalia Vodianova. Em seus desfiles, Gosha faz questão de contratar profissionais russos, de DJs a modelos, criando uma escola e inspirando novos profissionais.
Seja lá qual for a próxima jogada, ela virá carregada dessa energia criativa jovem e disruptiva.