Na década de 1950, a moda era altamente influenciada por um novo tipo de diversão fascinante e altamente persuasivo: a televisão ©Acervo Família Munno Corrêa
Se o que as pessoas vestem é um reflexo do que acontece no campo social, econômico e político, nada mais justo do que fazer um resgate histórico de moda usando apenas imagens de pessoas reais no dia a dia. Esse foi o desafio que a editora de moda, artista plástica e designer de joias Jussara Romão impôs a ela mesma: fazer um apanhado da moda no Brasil desde 1900 só usando fotos de álbuns de família. A pesquisa resultou no livro “Arquivo Urbano – 100 anos de fotografia e moda no Brasil”, que terá pré-lançamento no dia 18 de dezembro (quarta-feira) em São Paulo. “A ideia é mostrar o que as pessoas realmente usavam nas ruas, porque a moda é um reflexo do momento vivido”, explicou a editora em entrevista ao FFW.
Os textos que acompanham as imagens contam o que acontecia no Brasil e no mundo na época, e como isso estava relacionado, por exemplo, com os comprimentos das saias ou as cores mais usadas. No último século, o mundo passou por fatos marcantes como as duas guerras mundiais. “Isso resulta em modificações sociais, e as pessoas sentem vontade de mudar a forma como se vestem. Dependendo, as roupas também precisam ser mais práticas.” No início do século 20, por exemplo, as mulheres usavam muita renda, as roupas eram delicadas e tinham muitos detalhes. “Com a guerra, se aprendeu a usar uma roupa quase militar, mais simples e com tecidos mais rústicos.” Como muitos homens morreram na primeira guerra, conta Jussara, nos anos 1920 as mulheres tiveram que sair de casa para trabalhar e sustentar a família. Em busca de praticidade, o comprimento da saia subiu acima dos joelhos. O movimento é o oposto do que aconteceu nos anos 1950, quando a população masculina aumenta e há muitos casamentos: a mulher volta, então, a se vestir de forma feminina e romântica. Por mais que a guerra não fosse travada em solo brasileiro, todos esses efeitos podiam ser percebidos também no Brasil, que sentia os reflexos do que acontecia no mundo.
A retrospectiva histórica também demonstra que nem sempre a fotografia teve a mesma importância. Jussara conta que, muitas vezes, não foi fácil encontrar imagens para retratar um determinado período, mesmo pesquisando nos arquivos de instituições como o Instituto Moreira Salles (IMS) e do Museu da Imagem e do Som (MIS). A conclusão a que chegou é que se fotografou muito nos anos 1920 e 50, mas há poucas fotos dos anos 80 e 90. “Achava que seria mais difícil encontrar fotos dos anos 1910, 20, 30, mas não. As fotos dessa época são lindas. Nos anos 1980 e 90, se tem menos material, e o que se tem é de menor qualidade.”
O livro mostra fotos até os anos 2000. Avaliando os dias de hoje, Jussara afirma que fica claro que a moda é uma sobreposição de muitas ideias. “Hoje a moda se inspira em todas essas décadas porque estamos em um momento de transição social. Não podemos dizer que chegamos em uma situação consolidada, e não temos nem ideia de onde queremos chegar. Por isso, a moda hoje é praticamente um pot-pourri de informações.” Ela pondera que já houve outros momentos de transição na história da moda, mas o que faz o atual ser diferente é o excesso de informação, a tecnologia e a globalização. Além disso, vivemos a era da inclusão, o que resulta que cada um tem um estilo de vida e vive do jeito que quer, o que também é percebido na moda.
O livro é uma publicação da Luste Editores, com texto escrito por Mário Mendes, curadoria fotográfica de Goya Cruz e direção de arte de Guilherme Rex. As lojas Renner patrocinam o projeto.
Pré-lançamento do livro Arquivo Urbano @ São Paulo
18 de dezembro de 2013, 19h
Preço: R$ 85
Livraria Cultura – Shopping Iguatemi
Avenida Brigadeiro Faria Lima, 2232, Jardim Paulistano
lusteditores.com.br
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