Por Guilherme Meneghetti
Foi nos 90 que o estilista Amir Slama fincou seu nome na história da moda brasileira. Na época, ele fundou a Rosa Chá, marca que virou referência no beachwear nacional. Com a grife desfilou no SPFW desde as primeiras edições, o que trouxe projeção e reconhecimento do mercado internacional. Em 2010 ele vendeu a Rosa Chá e, no ano seguinte, lançou sua marca homônima, que desfila no SPFW desde 2015. Conversamos com o estilista para saber sobre sua longevidade na moda brasileira.
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Num mercado com tantas mudanças, em que novas marcas surgem a todo instante, o que é primordial para atravessar décadas e manter-se?
No Brasil tudo é muito difícil. A gente que trabalha com moda de um jeito mais autoral, uma coisa mais de ateliê, somos muito apaixonados pelo que fazemos, pois é muito difícil se manter. Falamos direto que a gente mata um leão por dia, por isso é um trabalho de paixão, de vocação, porque se não fosse assim a gente não conseguiria trabalhar. Além da humildade, que é uma coisa que tem que ter muito, porque é muito trabalho, muito chão de fábrica… As pessoas têm uma ideia de glamour, que acontece uma vez a cada seis meses, mas o dia a dia é bem pesado.
Qual é a maior dificuldade?
Acho que a falta do poder de consumo. O brasileiro é um povo extremamente consumidor de moda. A mulher e o homem gostam de moda, mas sem dinheiro, não tem como consumir. Acho que o grande problema é esse, falta de riqueza, que existe, mas circula errado.
Você acompanha esse movimento de marcas que já surgem com um novo pensamento – não veem necessidade de ter uma loja física, por exemplo, e focam no digital?
Sim, claro. Eu acho que hoje se tem muitas alternativas. A gente tem um esvaziamento das revistas físicas, por exemplo, mas, por outro lado, as revistas e a comunicação digital, os digital influencers… Todos eles criaram uma situação que a gente acompanha, sim.
O que você diria para os que estão entrando agora no mercado?
Ter persistência. Insistir, segurar a paixão e ir embora, senão não rola.
E uma lembrança da moda?
Tenho vários momentos marcantes. Eu participo praticamente desde o início do SPFW. Vivi situações incríveis. Tive meu trabalho projetado para o mercado internacional através da semana de moda. Então além de participar, sou fã do trabalho do Paulo [Borges] e de toda a equipe do FFW.
São vários desfiles marcantes. Um deles foi uma coleção masculina em que surgiu um modelo nu, algo muito memorável. Outro desfile tinha como referência o sertão e todas as modelos deveriam estar com todo o corpo maquiado com uma textura seca, ressecada. Foi uma maquiagem que desenvolvemos na época. Testamos, funcionou super bem e, no dia do desfile, não pegava – foi super agonizante. E vários momentos lembro de costurar, bordar as peças no corpo das modelos, no momento em que estavam na fila prestes a entrar na passarela, uma coisa que a gente acaba não aprendendo, tudo acontece na hora.
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