Peças da Hermès expostas antes de serem leiloadas ©Reprodução
Originalmente usada para avaliar a idade de um vinho, a palavra “vintage” se juntou ao vocabulário da moda para definir uma peça de roupa ou acessório de um estilo pertencente a outra época, nomeadamente das décadas de 1920, 30, 40, 50 e 60. Mas esta é uma definição que podemos encontrar no dicionário. Na prática, o que é vintage? O que significa? Por que faz tanto sucesso ultimamente? O site BoF – Business of Fashion – fez as mesmas perguntas em uma matéria sobre o tema.
A definição do que é vintage é o que parece dar sempre o mote para discussão. Poderíamos limitar a definição apenas à idade da peça, mas estaríamos sendo simplistas. Principalmente se olharmos para as mudanças que ocorreram no mundo da moda nos últimos tempos: um vestido não-póstumo de Alexander McQueen ou uma peça de Raf Simons para a Jil Sander é quase tão vintage quanto uma bolsa de crocodilo da Hermès (grande sucesso nos leilões das casas especializadas) com mais de 20 anos.
Cameron Silver, dono do brechó Decades, em Los Angeles ©Reprodução
Para Cameron Silver, dono do Decades, um dos brechós mais conhecidos de Los Angeles, “vintage implica valor de arquivo”, diz ao BoF. Matt Rubinger, diretor de acessórios de luxo na prestigiada casa de leilões texana Heritage Auctions, complementa esta definição afirmando que, além do valor de arquivo de uma peça, é a importância que as pessoas lhe dão que confere o seu verdadeiro significado: “Para algumas pessoas, o uso que a peça tem é o mais importante; para outras essa importância está muito mais relacionada ao seu aspecto visual; e ainda tem quem acredite na singularidade da peça, de serem os únicos a tê-la”, acrescenta. Mas não é só. A experiência de compra de um artigo vintage pode também ser um fator importante. A caça ao tesouro que muitas vezes acontece nas araras bagunçadas de um brechó só ajuda nessa valorização.
Julia Roberts na cerimônia do Oscar em 2001 usando um Valentino vintage; e Reese Witherspoon em 2006 e Natalie Portman em 2012, ambas em Dior vintage, também na entrega dos prêmios da Academia ©Reprodução
O que todo o mundo parece concordar é que nos últimos tempos, vintage é tendência. Segundo o BoF, alguns experts no tema atribuem a paixão por roupas e acessórios de outras épocas ao aparecimento, cada vez mais comum, em desfiles de celebridades no tapete vermelho. Há dez anos, poucas estrelas usariam um vestido vintage em cerimônias de gala, mas hoje em dia é mais comum a exibição de um longo “datado” — no bom sentido da palavra. Após o aval das celebridades, não tardou até que os veículos de moda começassem a introduzir com mais assertividade a palavra vintage no seu vocabulário, e que lojas de departamento de luxo como a Liberty e a Bergdorf Goodman reservassem espaços especiais – The Dress Box Vintage e Coquette Atelier, respectivamente -, para coleções impressionantes de artigos vintage, a maior parte deles mais caros do que as peças atuais.
O espaço reservado à coleção vintage The Dress Box Vintage na londrina Liberty, loja de departamento de luxo ©Reprodução
O preço dos artigos vintage é outra das questões colocadas pelo BoF. Nos leilões da Christie’s, por exemplo, uma bolsa Hermès de crocodilo em bom estado de conservação e de uma cor rara pode atingir o dobro do seu valor em loja. E não precisa ser assim tão antiga – no último leilão anual de luxo “Elegance”, foram vendidas um total de 58 bolsas Hermès, a maior parte fabricada há menos de cinco anos, por 2 milhões de reais, aproximadamente. Ou seja, quase R$ 34.500 cada, sendo que uma bolsa nova da grife francesa custa cerca de R$ 16 mil. A marca, o modelo, o estado de conservação, o material e a cor são os fatores que levam a peça a atingir este preço. Nos brechós, o esquema é mais ou menos o mesmo, já que eles podem se guiar pelos preços dos leilões. Existem itens que são precificados pela época a que pertencem, outros pelo designer, alguns pela raridade e outros ainda pelo estado de conservação.
Independentemente do critério, o que um artigo vintage não pode deixar de ter é um significado – algo que faça com que o consumidor se apaixone e consiga justificar o fato de pagar o dobro do valor que pagaria em uma peça atual.