A produtora Gainsbury and Whiting é uma das mais reconhecidas na indústria da moda. Produz desfiles, editoriais, filmes e eventos audiovisuais de gente como Nick Knight, Steven Klein, Glen Luchford, Stella McCartney, Yves Saint Laurent, Alexander McQueen, entre outros.
O próprio McQueen (1969-2010), um dos mais criativos em relação aos seus cenários, contou ao WGSN que teve que esperar 10 anos para colocar um holograma na passarela e que definitivamente há uma relação, não sempre direta, entre a coleção e a cenografia. “É algo que eu gosto muito de fazer [planejar os cenários]”, disse o inglês que morreu em janeiro de 2010.
A maior parte dos cenários de McQueen foram feitos pela equipe de Sam Gainsbury, o diretor da produtora que conversou com o WGSN. Aqui no portal FFW, a gente aproveita para reproduzir o bate-papo na íntegra:
Me conte sobre o processo inicial de organizar um desfile. O que está envolvido?
Trabalho de maneiras diferentes com cada estilista, seguindo um processo criativo diferente, mas geralmente começamos com um brainstorming para discutir a coleção e as ideias iniciais.
O ponto de partida de um conceito pode surgir de qualquer coisa – uma coleção de referência, filme ou imagem – e daí começamos o processo de traduzir a ideia em formato de desfile. Durante o desenvolvimento, contudo, essa definição passar por algumas mudanças – adaptacões.
Você costuma trabalhar próximo aos estilistas?
Construí relações muito fortes com meus clientes que me permitem trabalhar bem perto deles. No entanto, cada estilista é um indivíduo e não há um formato. Alguns estilistas mantêm o envolvimento até o dia do desfile, outros só participam das primeiras discussões e depois saem de cena.
Quais são os pontos cruciais na produção de um cenário?
O principal é coordenar todas as pessoas criativas envolvidas. Isso pode incluir diretores de arte, técnicos de luz, som, cenário, acessórios de palco, etc.
A outra coisa é o orçamento. Você tem o conceito, junta todos os custos e cria um budget com essas informações. Se o total é mais do que o proposto pelo estilista ou pelo cliente, você precisa voltar aos fornecedores para achar alternativas ou renegociar.
Quanto tempo você tem para implementar o set?
Depende da escala do cenário e do acesso a locação. Uma montagem pode levar de 24 a 72 horas. Há um número enorme de pessoas envolvidas na montagem de um desfile de moda, de times de produtores, diretores de arte e técnicos de luz a aparelhadores, construtores, camareiras, modelos e assessoria de imprensa.
A iluminação é importante?
Trabalhamos com os melhores técnicos de luz para ter certeza de que a iluminação não só mantenha o clima e o conceito do desfile mas também – e o mais importante – permita que a coleção seja bem vista pela plateia e bem fotografada pelos profissionais no pit.
Onde você garimpa os materiais que usa?
Procuramos nossos acessórios no mundo inteiro, dependendo do conceito. Por exemplo, para um desfile masculino de McQueen nós queríamos procurar paraquedas brancos do exército francês. Acabamos encontrando alguns na França, outros na Alemanha e, para completar o número que queríamos, tivemos que recorrer a alguns colecionadores ingleses.
Você reusa ou recicla materiais?
Quando é possível fazê-lo, sim. A gigante parede viva do desfile de Verão 2008 da Stella McCartney era feita de centenas de plantas de verdade em um sistema irrigado. Depois do desfile, ela foi desmontada e reinstalada em um projeto habitacional de baixa renda nos arredores de Paris.
Acho que os estilistas estão mais cientes do meioambiente do que costumavam ser, em termos de materiais usados nos cenários.
A parede viva do Verão 2008 de Stella McCartney: criada por Sam Gainsbury, foi reutilizada num conjunto habitacional depois do desfile © WGSN
Como garantir que o cenário não vai interferir na imagem da marca?
Os estilistas e grifes que são nossos clientes possuem identidades tão fortes que a sua imagem sempre vai estar no primeiro plano, não importa o quão grandioso seja o cenário.
Para finalizar, quais são os cenários mais marcantes que você já criou?
A pirâmide de vidro do desfile de Inverno 2006 de Alexander McQueen foi forte porque a tecnologia usada era inovadora e o efeito foi visualmente impressionante e muito teatral.
“Windows of Culloden”, o desfile de Inverno 2006 de Alexander McQueen: Kate Moss holográfica dentro de uma pirâmide hi-tech © WGSN
Também teve a caixa espelhada para o desfile de Verão 2001 de Alexander McQueen. Quando a caixa era acesa por fora a plateia não conseguia ver o que tinha dentro, mas quando era acesa por dentro os convidados podiam ver claramente as modelos. No final, uma caixa dentro da caixa se abriu para liberar centenas de mariposas vivas e revelar uma mulher deitada.
“Voss”, o desfile de Verão 2001 de Alexander McQueen: ilusão de ótica e mariposas vivas ©WGSN
E também teve o desfile de Verão 1998 de Alexander McQueen. O budget era apertado e tivemos que trabalhar com água, eletricidade e supermodelos – todas amigas dele!
“Rain”, o desfile de Verão 1998 de Alexander McQueen: o orçamento apertado forçou Gainsbury a usar somente água e eletricidade © WGSN