Uma das cantoras mais importantes de sua geração, Alice Caymmi estreia na próxima semana o espetáculo de seu novo álbum, Electra. O show, que tem direção de Paulo Borges e figurino da À La Garçonne por Alexandre Herchcovitch, estreia no CCSP nos dias 18 e 19 de junho e tem mais uma data confirmada no Rio, dia 9 de julho no Teatro Riachuelo.
Electra tem sido exaltada por críticos especializados, inserindo Alice em um lugar de destaque entre as novas intérpretes da nossa música. Mas enquanto o álbum é uma experiência de beleza sonora, o show que vem por aí é uma experiência multifacetada, assim como a cantora: tem música, teatro, história, moda, arte, encenação, tudo ao som do repertório tão consistente quanto inusitado, com compositores e músicas dos anos 50, 60 e 70 que ganham nova força na voz de Caymmi. “Electra é a exaltação da potência vocal”, diz Paulo Borges, que também dirigiu seu espetáculo anterior, Rainha dos Raios.
Na psicologia junguiana, Electra é a contrapartida feminina do complexo de Édipo, simbolizando o desejo da filha pelo pai, mas na mitologia grega sua história é mais profunda e impulsiva e seus atos são provocados não pela maldade, mas pela fúria. “Eu já gostava da tragédia, mas entendendo como ela era, entrando nisso e trazendo pra história que eu gostaria de contar”.
E tudo começou a partir daí. “Passei a criar a personagem e a partir de sua complexidade, fui criando o repertório e trazendo à tona o espetáculo como experiência em todos os sentidos. Electra é uma experiência musical, estética e cênica da construção desse corpo”, Alice me conta em uma conversa por telefone.
A personagem ganha peso cênico com o figurino criado pela À La Garçonne. “Alexandre sempre foi uma referência pra mim, então é um luxo poder trabalhar com ele agora. Paulo e eu demos um briefing a partir do roteiro que já tínhamos, e ele entendeu rapidamente”.
A seleção das músicas foi conduzida em parceria com o DJ, produtor e grande pesquisador musical Zé Pedro. “Em Rainha dos Raios, Alice já mostrava interesse em revisitar o passado da música brasileira. Propus então a ela um mergulho mais profundo onde as canções fossem praticamente desconhecidas e que se encaixassem perfeitamente no discurso de hoje. Canções que ela poderia ter feito, como Diplomacia, da Maysa que é de 1958 e alguns fãs de Alice pensam que foi ela que escreveu. A partir dessa minha lista de ‘provocações’ ela respondeu com algumas que eu não conhecia como Mãe Solteira, do Tom Zé e Medo, da Amália Rodrigues”, conta Zé.
No foyer do auditório, o público poderá ver em exposição o ensaio criado para a capa do álbum (algumas das fotografias ilustram essa matéria), com fotos de Gustavo Zylbersztajn, styling de Paulo Martinez e direção de arte de edu Dugois. São imagens fortes no sentido de beleza que impacta. Algumas fotos especialmente nos remetem ao barroco de Caravaggio em que tons escuros contrastavam com pontos de luz e uma combinação de elementos nobres e rústicos.
Paulo Martinez embrulhou o corpo de Alice em pedaços de tecidos que ia enrolando e criando formas e volumes na hora. “Não tem nenhuma roupa, são apenas tecidos que peguei do meu acervo, como um pano vermelho bordado, pedaços de tafetá e sacos de estopa”.
E assim criou-se Electra. E Alice tem corpo para sustentar a força dessa personagem. Como reflete Zé Pedro, “na música, existem cantoras e intérpretes. Poucas conjugam essas dois fatores numa só garganta. Mulher cantar nesse país é uma realidade. Raras atingem o sublime. Alice Caymmi é cantora, intérprete, diversa e rara. Seu trabalho Electra vai colocá-la definitivamente no patamar das grandes artistas do Brasil”.
Electra
Data: 18 e 19.06
Horário: 21h
Local: CCSP – sala Adoniran Barbosa (rua Vergueiro, 1.000)
Ingressos: R$ 25 (na bilheteria ou através do Ingresso Rápido