Por Raphael Lobato e Joyce Kiesel
Cada vez mais notória no circuito mundial da música eletrônica, São Paulo recebeu no último final de semana a segunda edição do Dekmantel Festival. Em busca de fixar bases na capital paulistana, o coletivo de Amsterdã trouxe uma curadoria com mais participação de artistas nacionais. Apesar de terem sido apenas 21% do line up oficial, foram as mulheres os maiores destaques nos dois dias de evento.
A estrutura com quatro palcos desenhados para a festa de 10 mil ravers no terreno onde funcionava o Playcenter, verde e familiar, adicionou estilo e leveza à dinâmica do evento. Apesar da multidão, a andança de um palco para outro, por vezes, se assemelhava a uma experiência de trilha. O chão de terra molhado pela chuva do domingo, então, foi parte natural da aventura. Logo ao entrar no evento, a equipe de produção corria para oferecer repelentes de insetos.

O palco Selectors em meio às árvores do antigo Playcenter /Foto: Ariel Martini
Boas surpresas nesta edição, artistas de performance foram escalados às vésperas do evento, após intensa campanha puxada por criativos da cena paulistana, tais como o Coletividade Namíbia, de representatividade negra. “Apesar de não ter visto muitas pessoas negras por lá, me senti confortável porque eu sempre busquei me sentir assim em qualquer lugar”, disse a modelo e performer Valentina Luz.
OS PALCOS
Foi a DJ sul-coreana e ex-estudante de moda Peggy Gou quem ferveu as estruturas do Main Stage assinadas pelos estúdios Sala28 e Superlimão pela primeira vez no fim da tarde de sábado. No dia seguinte, a sequência Mall Grab, com sua pool party music, e Four Tet, solar e dreamy, mantiveram o espaço com grande energia para um fechamento perfeccionista da musa russa Nina Kraviz – headliner pela segunda vez do evento.

Nina Kraviz / Foto: Gabriel Quintão
O palco UFO foi, durante o festival, o queridinho da cena noturna local. Passar pelo espaço era como vivenciar um pouco de eventos como Mamba Negra, ODD ou outros coletivos paulistanos. O motivo: as apresentações dos brasileiros Tessuto, Cashu e Zopelar, combinadas com a atmosfera mais clubber do palco. Ravers puderam então se sentir em casa. No domingo, a dinamarquesa Courtesy passou pelo local apresentando a sonoridade que tem colocado Copenhague no mapa do eletrônico. Não faltaram elogios.

A DJ Cashu / Foto: Gabriel Quintão
O cheio de estilo palco Selectors também teve seus mais memoráveis momentos protagonizados por performances femininas. A bela canadense, ambientalista e produtora Jayda G emocionou o público com uma construção de grooves latinos, disco e house. Jayda foi também uma das pouquíssimas artistas negras no line-up. Contagiante, ela dança e canta com suas músicas. Ao final, foi ovacionada pelo público recebendo uma enérgica sessão de aplausos e um coro que gritava seu nome.

Jayda G / Foto: Gabriel Quintão
O intimista palco Gop Tun, coletivo responsável pela ponte entre a marca holandesa e a cidade de São Paulo, foi o mais brasileiro dos espaços do evento, intencionalmente. Ao longo do dia, um mood de sonoridades orgânicas. Ao final, atrações internacionais esperadas. Em outro curioso episódio do fim de semana, a italiana Elena Colombi esteve mais confortável em sua performance solo na Radio Manteiga do que na dobradinha com o electro Interestrelar Funk.
Mirando construir aqui uma nova casa, o Dekmantel se mostra um festival imperdível para uma fanbase interessada na experiência que o festival holandês tem conseguido reproduzir em São Paulo. Muitas pessoas vieram de outras cidades (e até de outros países) para o evento. Uma abertura ainda maior para a efervescente e diversificada cena de artistas locais só deixará o festival ainda mais interessante do que já tem se mostrado.
Veja na galeria uma seleção de looks dos frequentadores do festival.