Novidades sobre tecnologia geralmente nos deixam tão impressionados quanto assustados. Este caso não é diferente. A gente vem ouvindo há algum tempo que uma substituição da mão-de-obra humana nas linhas de produção da indústria têxtil é iminente. A tecnologia CNC já se espalhou por muitas vertentes da manufatura, mas, por conta da flexibilidade do material, tecidos ainda eram difíceis de serem totalmente manipulados por máquinas, requerendo um par de olhos humanos e mãos hábeis para o ajustarem às máquinas durante o processo de costura. Isto é, até agora.
Uma companhia baseada em Atlanta, nos EUA, a Softwear Automation, desenvolveu uma máquina de costura robotizada totalmente automatizada. O robô que atende pelo nome simpático de Sewbot tem uma combinação de câmeras e agulhas que fazem o tracking do tecido antes de iniciar o processo de costura e, com isso, é capaz de confeccionar uma peça com um nível de precisão que excede o do ser humano. E o faz num piscar de olhos: uma camiseta, por exemplo, leva apenas 22 segundos para ser produzida.
Muito em breve, o Sewbot será responsável pela produção de 800.000 camisetas da Adidas por dia. Isso porque a empresa chinesa Tianyuan Garments, que atua na fabricação de camisetas da marca esportiva, assinou um acordo com a Softwear Automation para instalá-lo em 21 de suas linhas de produção, tornando-as totalmente automatizadas até o final de 2018. De acordo com o jornal China Daily, o custo de produção de cada camiseta será de apenas 33 centavos de dólar. “Ao redor do mundo, nem mesmo a mão-de-obra mais barata poderá competir conosco”, comenta Tang Xinhong, CEO da Tianyuan.
Curiosamente, as peças não serão feitas na China, mas numa base da fabricante chinesa em Little Rock, nos EUA. “Quando levamos a fabricação dos nossos produtos para fora do país, foi o começo de um processo falido e insustentável. Compramos roupas porque são baratas e é isso que incita a busca por mão-de-obra barata”, explica Pete Santora, VP da Softwear Automation, em reportagem do site Innovation Textiles. “Com a introdução da automatização, podemos trazer a produção para mais perto do consumidor, mais perto da cadeia de suprimento e sermos mais integrados verticalmente, encontrando redução de custos aqui mesmo”. Isso refletirá positivamente, segundo ele, na habilitação de novos profissionais, nos custos financeiros e ambientais de transportação de tecidos e itens confeccionados, possibilitando ainda mais flexibilidade na customização das peças e reduzindo requerimentos de inventário.
Mas será que uma produção tão rápida e barata não vai incitar ainda mais o desperdício e o mindset de consumo desenfreado e desatento que já vemos hoje? Palaniswamy Rajan, CEO da empresa de tecnologia, não enxerga dessa forma. “Estamos trazendo eficiência e sustentabilidade ao mercado. Você pode ter o tecido à sua disposição, e assim, por conta da rapidez da produção, apenas fazer o produto final quando receber o pedido do cliente”, diz. “A visão que eu tenho é que se você tem um campo de algodão, uma fábrica de fios e uma fábrica têxtil perto uma da outra, você cria uma cadeia mais eficiente e integrada”.
https://youtu.be/zI7u9V5aYt4
O protótipo do Sewbot foi desenvolvido 8 anos atrás, com investimento de aproximadamente 2 milhões da DARPA – Defense Advanced Research Projects Agency e da Walmart Foundation. Os testes começaram com a confecção de jeans e foram evoluindo, ao passo que hoje envolvem também peças de vestimenta diversas e roupa de cama, mesa e banho. A empresa, no entanto, quer buscar inicialmente acordos focados em produção de camisetas. “É um elemento-chave para demonstrar quão insustentável é a cadeia de suprimentos estabelecida hoje em dia”, comenta Rajan. Isso porque os Estados Unidos têm o algodão mais barato do mundo, mas 97% das camisetas consumidas lá são feitas fora do país.
Embora uma produção local soe como algo bastante animador para os americanos, gerando empregos e movimentando o mercado lá, sabemos que globalmente a substituição de costureiros e costureiras por robôs significa uma rede enorme de perda de empregos. É claro que, em muitas dessas fábricas de roupas em Bangladesh, Vietnã, Etiópia, na própria China…, as condições de trabalho não são as melhores, em muitos casos abusivas e até desumanas, porém, uma tecnologia que suplanta empregos de trabalhadores treinados em desempenhar uma tarefa – anteriormente impossível de ser realizada por uma máquina –, não deixa de ser um grande problema. “Acreditamos que o trabalho exploratório vai diminuir com a automatização”, rebate o CEO. “A tecnologia precisa ir adiante. Existe toda essa ansiedade sobre perda de empregos e transições, mas a ansiedade é míope. Precisamos seguir em frente e tentar descobrir como transformar nossa economia de outras maneiras, reeducando”.