Look e cenografia do desfile de Zegna na semana de moda de Milão ©Juliana Lopes
E eis que se confirma o caminho natural das tendências: quando uma estrada se desgasta, a moda começa a manobrar-se para uma direção oposta. Na marca (super) italiana Ermenegildo Zegna, com direção criativa de Stefano Pilati (ex-YSL), encontramos sinais dessa curva. A busca direcionada até agora a uma impecabilidade começa a perder força. Desde que os anos 2000, na moda, conseguiram desbancar os valores do grunge desarrumado, o legal foi ser, claro, o oposto. Então começamos a achar mais interessante estar ciente do próprio look e das raízes da moda. Tudo isso ainda continua, porém, cada vez mais, a vestimenta ganha detalhes bagunçadinhos. Relaxados. Tendência reforçada pelo fenômeno do normcore, valor contemporâneo de comportamento que define nossa volta ao “normal”, ao humano e consequentemente não-perfeito. Ainda que com um styling final que transmita beleza.
+ Veja aqui todos os looks da coleção de Ermenegildo Zegna em Milão
Onde estão, então, os detalhes da coleção da Zegna que nos passam essa pitada de “relax”? A presença da silhueta suave, arredondada. Que chega a ser uma operação de minimalismo, de tirar a estrutura dos ombros, como fez Armani nos anos 1980, quando os megaombros eram tudo. Mas hoje muita gente tem feito isso, então não dá pra chamar de vanguarda. Outros pontos: as sobreposições menos formais, o desalinho dos suspensórios caídos. A “cereja do bolo” é o casaco amarrado na cintura. Quer símbolo mais forte do approach “não tô nem aí” do grunge dos anos 1990? Há quanto tempo não consideramos ícone de estilo o casaco amarrado na cintura? E claro, nesse discurso de “baixar o tom” da moda, não podiam faltar as sandálias com meias. Que aparecem há mais de dois anos no mundo hipster e daqui a pouco desembarcam em algum escritório de economistas. Sandália com meia é o tal do slouchy-chic, o relaxado-chic. De tanto bater na tecla, essa moda ainda vai conquistar os mais burocráticos. Mas como o mundo dos costumes masculinos é muito mais lento e menos escancarado, previsões podem errar.
Com esse olhar, pode parecer coisa de outro mundo a informação oficial da marca: uma espécie de ode à arquitetura. Mas sim, essa homenagem está na coleção e vemos o racionalismo arquitetônico, mesmo com esses detalhes de uma moda que está “se desmontando”. Encontramos esse racionalismo nas listras e no cenário, que parece saído de um quadro de Piet Mondrian. E Stefano Pilati não esquece de nos informar que brinca com contradições e, entre elas, formalidade X lazer. Então, sim, Pilati, estamos raciocinando juntos.