Uma das imagens de divulgação da retrospectiva de Azzedine Alaïa em Paris ©Reprodução
Uma grande retrospectiva em homenagem ao estilista Azzedine Alaïa abre neste sábado em Paris, no Musée Galliera, que acaba de passar por uma ampla reforma. A vernissage para convidados aconteceu na terça (24.09), na abertura da semana de moda da capital francesa.
A mostra traz 70 peças icônicas, desde sua primeira coleção em 1970 até as mais recentes. Entre elas, o icônico vestido de zíper, dos anos 1980, e a veste enorme com as cores da bandeira francesa que criou para a soprano Jessye Norman. Para os amantes de moda que estiverem ou passarem por Paris durante o período da exposição, é uma visita obrigatória.
Além da mostra, o estilista comemora a abertura de seu novo HQ (no número 5 da rue de Marignan) em um prédio de três andares. Parte do espaço será dedicado à Alaïa Foundation, parte será loja e a outra receberá clientes por agendamento na Couture House. E em 2015 lança seu primeiro perfume.
Esses são planos em ação do grupo Richemont, também dono da Cartier e da Chloé, que comprou a Alaïa em 2007, e planeja uma expansão global para a marca.
Se dependesse de Azzedine, ele continuaria no mesmo esquema: pequeno e sem ter que criar grandes hits de mercado. Com mais de 70 anos, ele vê sua marca passar por grandes transformações e sabe que mesmo após sua morte, os negócios irão continuar. “Tudo pode continuar sem a minha presença. E deve continuar. Um dia você fala: basta. Mas não para uma maison”, ele disse ao “The New York Times” em janeiro deste ano.
Alaïa é um grande mestre e o estilista vivo mais respeitado no mundo. Um artesão do luxo, visionário e perfeccionista. Em uma época em que os estilistas são mais diretores gerais do que criativos, Alaïa ainda é um costureiro que corta seus tecidos e faz as roupas com suas mãos. Até hoje, lança suas coleções no seu ritmo, mostrando quando acha conveniente. E dessa forma, conseguiu manter seu negócio paralelo à loucura do esquema que tomou conta da moda, com lançamentos mensais de coleções e oito desfiles por ano (dois masculinos, dois femininos, dois cruise e dois de alta-costura).
Looks do desfile de alta-costura 2011 de Azzedine Alaïa ©Reprodução
É o último dos moicanos e um profissional com um legado único. Seu design transcende o tempo, sua roupa faz mágica na silhueta feminina. “Nenhum outro vestido pode fazer uma mulher se sentir melhor do que um Alaïa”, já disse Naomi Campbell, dona de um corpo espetacular e que muitas vezes desfilou para o estilista, a quem chama de “papa”.
De colecionadoras a jovens clientes, sua lista de fãs não para de crescer. E uma vez Alaïa, sempre Alaïa. Certamente é assim que pensam mulheres como Tina Turner, Madonna, Carine Roitfeld, Michelle Obama, Lady Gaga, Nicole Kidman e Gwyneth Paltrow, algumas de suas fãs mais célebres. Um vestido de Alaïa é considerado uma obra-prima, técnica e visual. Além de bem cortadas e modeladas, suas roupas têm um forte apelo sexual, sem jamais ser vulgar.
Alaïa é livre por inteiro e não tem medo de dizer o que acha. Chamou Anna Wintour de “ditadora” e provocou uma polêmica na abertura da exposição “Model as Muse” (2009), no Metropolitan, em Nova York. Não havia uma peça sua sequer exposta na mostra. Sete modelos, Linda e Naomi entre elas, haviam encomendado vestidos dele para ir à gala de abertura, mas quando Azzedine soube que nenhuma peça sua entraria, pediu que elas simplesmente não usassem nada da marca. Não só elas acataram o pedido, como não foram à festa em protesto. Em uma coletiva de imprensa, Marc Jacobs, que estava patrocinando o evento, disse: “Ele tem uma influência enorme em como as mulheres são hoje. Ele é uma das maiores influências da moda, uma pena que não esteja nessa exposição”.
Azzedine nasceu na Tunísia em 1939 e mudou-se em 1950 para Paris, onde trabalhou com Christian Dior, Guy Laroche e Thierry Mugler. Nos anos 70, já com seu próprio ateliê, ele vestia as elegantes do jet set e atrizes como Greta Garbo.
E desde então foi assim. Alaïa é um estilista da vida toda e não um hype de algumas estações. Ele foca em roupas e não em “it bags”. Sua empresa mantém-se pequena e fazendo cerca de US$ 60 milhões por ano (muitas marcas fazem centenas de milhões). E assim, no seu ritmo, ele continua abalando Paris.
Em tempo: em 2009, a equipe da revista “Mag!”, junto com Bethy Lagardère, foi recebida na casa de Alaïa, que cozinhou um couscous marroquino. Esse encontro está na edição Paixão (nº 14) da revista.
Alaïa
De 28 de setembro de 2013 a 26 de janeiro de 2014, das 10h às 18h
Musée Galliera (10 avenue Pierre 1er de Serbie)
Entrada: € 8 (cerca de 24 reais)
Curadoria: Olivier Saillard, diretor do Galliera