Direto de Milão
Desfile da Gucci na semana de moda de Milão Verão 2014. Fotos: ©Juliana Lopes
FFW analisa o desfile da Gucci em três dimensões; acompanhe.
A superfície
A Gucci foi a principal marca do primeiro dia da semana de moda italiana e isso é bom. A coleção veio como um escancarar de janelas numa noite de festa. Os elementos usados na passarela atiçam um instinto de feminilidade do qual poucas mulheres escapam. Brilhos, tecidos esvoaçantes, franjas, decotes, transparências. Estava tudo lá. Um caldeirão com as poções mágicas que encantam meninas. Ainda que muitas não usem looks über sexies quase carnavalescos, impossível não cutucar a memória feminina com eles.
Construção de design e referências à parte (chegaremos lá), esses elementos foram usados com coerência matemática. Mas o desfile não pareceu ter se comportado como um demonstrativo de estilo que quer ser catalogado no atual mundo-moda. Pareceu algo avulso. Que não dá muita vontade de encaixar em ismos, ou em épocas, ou num ícone. Será que não é disso que precisamos um pouco, ir atrás de algum brilhinho ou franjinha, com espontaneidade infantil, para apenas nos divertirmos? Esquecer um pouco a informação, o conceito, a planilha que isso carrega? Será que dá pra escapar de vez em quando do tempo histórico das tendências? Quem acha que sim, não leia os próximos tópicos.
O interior
O desfile da Gucci desta temporada é uma boa oportunidade para dar uma repensada nas definições “moda conceitual” e “moda comercial”. A separação dessas definições pode dar certo na arte, mas na moda uma coisa precisa da outra. Ainda que o apelo da Gucci transmita vontade comercial (e quem não quer vender?), foi preciso seguir um conceito. Dessa vez Frida Giannini informou oficialmente que partiu de inspiração ligada a roupas de atividades esportivas. E nas estampas, evoca o trabalho do artista francês Erte, nascido no fim do século 19, responsável por muitas ilustrações da “Vogue” e “Harper’s Bazaar”. O mood no styling geral é, à primeira vista, menos esportivo e muito glam, como a iluminação, as atitudes e a velocidade do caminhar das modelos. A moda é profunda, mas a imagem que produz é rápida.
Talvez seja por isso que Miuccia Prada quase nunca revela suas inspirações. Na peça pronta, as referências, quando são boas, costumam se diluir. E fica um abismo entre a ideia inicial e o que veio à tona. Mas o consumidor quer saber e se diverte com isso. Por isso registramos alguns detalhes para entender a receita da coleção.
Os detalhes
FFW registrou e estudou detalhes, direto da primeira fila do desfile. Veja:
A diferença de ver uma roupa vestida e uma roupa no cabide é brutal para algumas peças. Essas, por exemplo, precisam de um corpo que as mova para acontecerem. São roupas que foram feitas para mexer. Nem o design nem a estampa são estáticos.
A escolha de bolsas de franja é um ponto funcional no styling. Sobrepondo os tecidos esvoaçantes, as franjas criam uma imagem que vibra.
Com tantos elementos que “voam”, ainda bem que os cabelos estão “parados”, penteados para trás e sem volume. A escolha de beleza não brigou com a roupa.
A entrada final das modelos juntas nos faz ver com maior clareza o que disse Frida sobre roupas de atividade esportiva. O ar de “active wear” aparece nas costuras, nas redes, nos cortes, mangas de t-shirt.
Olhando mais de perto, o elemento esportivo que aparece numa segunda análise depois do impacto do glam. Quase um roupão de boxeador, mas rasgado e sexy na frente.
Com tantas informações nos looks, os acessórios não devem ser nada arrogantes.
Paleta de cores que nos transmite Art Nouveau, Carnaval, Mulher-Maravilha