A blogueira Jes Baker, em protesto contra as declarações anti-gordinhas do CEO da Abercrombie & Fitch ©Reprodução
Em 2006, o presidente e CEO da Abercrombie & Fitch, Mike Jeffries, deu declarações sobre sua marca só querer atingir adolescentes “cool” e atraentes. Recentemente, veio à tona o fato de que a grife, um hit entre o público adolescente, não fabrica roupas no tamanho GG para mulheres.
Foi o que bastou para a jovem americana Jes Baker escrever em seu blog uma carta aberta a Mike mostrando que o tamanho G de sua marca veste, inclusive, meninas gordinhas como ela. Jes fez um ensaio fotográfico em que posa sensualmente ao lado de um bonitão magro querendo mostrar que as diferenças podem ser celebradas e atacando o fato da A&F (e não apenas ela) excluir de suas campanhas e de sua grade numérica meninas e meninos que não têm o corpo considerado ideal. “A única coisa que você faz com seus comentários é reforçar o conceito banal de que mulheres gordas são fracassos sociais, indesejadas e sem valor”, escreve Jes. “Empresas como a sua imortalizam a ideia de que mulheres gordas não podem ser bonitas”.
Em abril do ano passado, a hashtag #46naoentra virou trending topic brasileiro no Twitter por conta de uma declaração da empresária Alice Ferraz, do F*Hits, à “IstoÉ Dinheiro”, falando que o cadastro do e-commerce F*Hits Shops não permitia que mulheres que vestissem tamanhos maiores que 46 comprassem na loja online. Após publicada a matéria, um comunicado foi enviado à redação da revista explicando o real motivo. “Não conseguimos comprar peças com esse tamanho, por isso não vendemos”, diz Alice. Mesmo assim, a hashtag rapidamente se espalhou pelas redes sociais, com respostas de celebridades, como Preta Gil: “Sou uma mulher feliz e realizada vestindo 44 e algumas vezes 46, como eu sempre digo: gordura não mede caráter”, disse a cantora.
Jennie Runk, tamanho 44, posa para a última campanha de moda praia da H&M ©Reprodução
A moda plus size é uma discussão sempre presente. Os padrões definidos pela sociedade excluem uma boa parte da população. Pelo mundo, marcas como Donna Karan, Macy’s e a Burberry – que fecharia uma parceria com a cantora Adele para uma linha plus size, após Karl Lagerfeld chamá-la de gorda -, já produzem peças para mulheres acima do peso.
E no Brasil? Será que um país que fomenta o culto ao corpo tem espaço para construir um mercado de moda plus size? O FFW conversou com Cristina Horowicz e Sylvia Sendacz, sócias da Flaminga, multimarcas de venda online cuja numeração começa no 44. “Se você olhar para o mercado, o excesso de peso é desprezado, e o contrário não acontece”, diz Cristina. Apesar de só existir há seis meses, a marca apresenta um crescimento de 100% no faturamento ao mês.
Cristina Horowicz e Sylvia Sendacz, sócias fundadoras da Flaminga ©Divulgação
Confira abaixo a entrevista:
O fato de não existir um mercado de moda plus size no Brasil é uma questão cultural?
Cristina: Lá fora muitas marcas já fazem roupas maiores porque existe uma cultura do Big e do Tall muito grande. Aqui eu acho que não é só cultural, mas também temos estilistas com pouca visão. É um desafio trabalhar na diversidade. Maquiar uma pessoa bonita é fácil.
Por que você acha que isso acontece?
Cristina: Existem marcas que não fazem roupa plus size por puro preconceito. Têm medo de perder o público “magro”. Antes da Clô Orozco falecer, tínhamos fechado verbalmente uma coleção exclusiva da Huis Clos para a Flaminga. Queremos ir atrás dessas e de outras marcas de luxo para fechar coleções, mas é difícil.
Sylvia: E moda é aspiracional. Não é porque você é mais gordinha que tem que usar roupa feia. Queremos criar uma relação de respeito mútuo – se melhorarmos a imagem das pessoas com peso a mais, talvez as marcas olhem para elas de outra forma. As marcas abrangem idades diferentes, mas não consideram biótipos diferentes.
Como surgiu a Flaminga?
Cristina: Tenho uma confecção há 25 anos e comecei a produzir roupas plus size meio sem querer porque tínhamos muitos pedidos de clientes. Mais tarde, me juntei com a Sylvia, minha prima, e resolvemos abrir um e-commerce que vendesse peças com numeração maior que 44 de qualidade, e criamos a Flaminga, uma multimarcas online. Agora acabamos de lançar a Bold, linha para um público mais jovem.
Como funciona a consultoria?
Cristina: Prestamos uma consultoria informal, ajudando a cliente que tem uma autoimagem muito destruída. Ajudamos as mulheres a se conhecer melhor, porque elas sempre se acham maiores do que realmente são. Prova disso é que temos muita troca de peças por uma numeração menor.
Não pensam em ter loja física?
Sylvia: A ideia de ser online surgiu exatamente porque, para as pessoas com problemas de peso, ir às compras não é um prazer, é uma resolução de um problema. Muitas vezes aquilo que ela compra é apenas o que ela achou no tamanho dela, não significa que seja exatamente o que quer. E muitas vezes existe na loja um certo constrangimento de pedir uma numeração maior ou falar que não serviu.