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    Os editores de moda explicam: o que faz um bom desfile?
    Os editores de moda explicam: o que faz um bom desfile?
    POR Camila Yahn

    Pelos corredores de um evento como o Fashion Rio, o mais comum é vermos editores de moda correndo de desfile em desfile e correndo de volta para a sala de imprensa para escrever suas resenhas e análises. Nesta edição de Verão 2013/14 falamos com os principais editores e diretores de veículos nacionais para saber como é o seu dia-a-dia, como olham para os desfiles e o que as apresentações precisam ter para surpreende-los. Confira as respostas abaixo:

    Adriana Bechara, diretora de moda da “Glamour”

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    Eu acordo já seguindo a agenda do evento, procurando cobrir todos os desfiles. Fazemos um top 5 do dia segundo a “Glamour”, que pode não ser todas as tendências que aconteceram, mas é aquilo que achamos que a nossa leitora vai achar interessante. Às vezes é um detalhe, não tem que ser um statement da moda, mas tem que trazer uma dica rápida para a leitora. Apareceu orquídea no desfile da Blueman, apareceu orquídea no desfile da Maria Filó, já é uma tendência útil pra gente falar de estampas.

    O que você repara em um desfile?

    Eu acho que temos sempre que tentar captar algo novo. Às vezes o algo novo está na escolha do casting, outras vezes está na maneira como a pessoa apresentou a moda ou no cenário. Observar o conjunto e depois os detalhes. Tentar captar coisas que talvez não sejam óbvias e que às vezes rendem uma matéria para a revista. Quando acaba tudo, sentamos em equipe e fazemos o plano da temporada em cima dos desfiles do Brasil, que editoriais vamos fazer e em que mês.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    Tem que ter frescor. Às vezes a pessoa capta esse zeitgeist e consegue ter sempre qualquer coisa nova. Não é sempre, mas quando você vê é emocionante, tem desfile que faz você repensar a moda e se emocionar. Em Paris por exemplo, que é o berço da moda, tudo é feito para te impressionar. Às vezes é até uma marca desconhecida, que faz você ver tudo de maneira diferente.

    Como é a sua relação com os designers?

    Ao longo dos anos você vai desenvolvendo uma amizade com algumas pessoas. Tem umas que você mantém uma relação puramente profissional e outras que você desenvolve um tipo de amizade. Eu sempre procuro ir ao backstage conversar com a pessoa, ver coisas que eu acho legal. O investimento é muito grande para você não dar importância. E eu acho que a moda brasileira está passando por uma fase difícil, então precisamos apoiar.

    Vivian Whiteman, editora de moda da “Folha de S.Paulo”

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    São Paulo é bem mais corrido pra gente. O espaço que temos no jornal é maior, então temos um volume de trabalho maior também. Todos os dias temos um balanço do que aconteceu. O nosso foco é no desfile porque o jornal tem um espaço limitado, então apesar de ficarmos sabendo de todos os eventos paralelos, não temos costume de cobrir. Temos a cobertura dos desfiles em que eu faço a crítica, no sentido da palavra mesmo, não só um balanço do que aconteceu, mas uma visão sobre as coleções. A gente tem uma cobertura online forte também, que é feita pela mesma equipe com o acréscimo de uma ou outra pessoa. O perfil do Rio é muito diferente do de São Paulo. As coleções já vêm mais digeridas para o público, o que também torna a crítica com menos substância.

    O que você repara em um desfile?

    Eu reparo em quase tudo. Tem a parte técnica da roupa que você sempre vai olhar e que faz toda a diferença, principalmente nestas semanas de prêt-à-porter de luxo que se espera que tenha uma certa qualidade técnica. Daí tem a própria ideia da coleção, por exemplo, às vezes eu não sei qual é o tema, mas tenho a minha técnica que é formar uma história na minha cabeça a partir da edição, da trilha, do cenário, enfim, de todos os elementos que ajudam a compor a história.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    Para chamar a atenção é muito relativo. Às vezes você tem um desfile que não tem nada, não tem uma mega estrutura e o lugar não tem nenhum adorno, mas a roupa fala sozinha e você fica hipnotizado pela roupa. Eu gosto muito de observar a edição do desfile, faz muita diferença. A Lenny por exemplo, acabou de fazer um desfile em uma passarela super minimalista, sem nada, mas a ideia dela sobre o que é sofisticação aplicada a esse mundo é muito bacana.

    Como é a sua relação com os designers?

    Com a maioria é puramente profissional. Tem alguns, poucos, que eu considero mais próximos e poderia chamar de amigo, mas em geral é profissional mesmo. Até porque a minha posição não é muito tranquila. Como o jornal exige que você fale coisas, e falar coisas – não que precise ser grosseiro nem nada – exige um certo posicionamento. Mantemos uma relação amigável, mas profissional.

    Mário Mendes, editor de artes e espetáculos da“Veja”

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    Para o site eu faço vídeos. Tenho um programa que chama Pano pra Manga em que falo de moda e durante as semanas de moda eu faço boletins. Não vejo só moda, mas comportamento, pessoas, celebridades, mercado, enfim, não é uma revista só de moda, eu tenho que falar para um público que não é convertido.

    O que você repara em um desfile?

    As pessoas sempre vão perguntar coisas como “qual é a cor”, “qual é a tendência”, então eu tento fazer uma coisa mais resumida e mais didática possível. Ao mesmo tempo que falo que preto e branco é a tendência da temporada, falo que nos primeiros dias os desfiles foram fracos, tanto que o que chamou mais a atenção foi a Valesca Popozuda na fila A com uma bolsa Chanel.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    O desfile tem que causar emoção. Quando você senta para ver um desfile, ele tem que ser um belo espetáculo, tem que mostrar uma tendência, mas também tem que passar desejo e mostrar a identidade do estilista. Acabamos de ver Lenny. Ela faz bem essa praia de rica, porque ela é uma mulher rica, ela é assim, as amigas são assim, é o way of life dela e as pessoas aspiram a isso. Despertar desejo é muito importante.

    Como é a sua relação com os designers?

    Eu sou jornalista desde 1978 e cubro moda desde os anos 1990, então conheço muita gente nesse meio e desde o começo, somos da mesma tribo. Mas eles têm uma função e eu tenho a minha, procuro sempre ser o mais isento possível.

    Lilian Pacce, editora de moda e apresentadora do GNT Fashion

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    Consiste nessa correria que você esta vendo. Vou para um lado, vou para o outro, escrevo, faço o ao vivo, é bem dinâmico. Em geral dá para fazer um almoço mais formal durante o dia, de resto são todos com a equipe, combinando as coisas. Às vezes gravo de manhã – hoje não gravei, torrei na única meia hora que fiquei na praia! (risos)

    O que você repara em um desfile?

    Acho que temos que procurar primeiro pegar uma imagem global, depois ir para o detalhe. Você vê a música, com o look, com o sapato, com o cabelo, com o make, enfim, faz um raio-x do desfile.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    No dia em que os desfiles não me surpreenderem eu paro! Eles precisam ser realmente uma surpresa.

    Como é a sua relação com os designers?

    Eu prefiro evitar amizades. Tenho respeito, admiração, simpatia, carinho, mas acho que não dá certo. Embora eu tenha alguns amigos, com esses não teve jeito, a gente realmente ficou amigo…

    Sylvain Justum, editor de moda da “Harper’s Bazaar” e editor do site masculino Hypercool

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    Eu estou aqui, mas a revista está andando em São Paulo. Como os desfiles começam à tarde, eu tiro a manhã para me atualizar sobre o que está acontecendo lá. Esta semana, por exemplo, tivemos reunião de pauta e eu não estava lá, então mandei as minhas pautas daqui. Estou escrevendo todas as críticas dos desfiles para o site e pegando uma ou outra pautinha de tendência de moda — por exemplo, tem uma peça que se repetiu já em cinco desfiles, dá para fazer uma nota.

    O que você repara em um desfile?

    Em primeiro lugar a silhueta, se ela é mais esguia, mais aberta, se ela tem movimento ou se é mais estruturada, é a primeira coisa. Aí você vai vendo os comprimentos, a cartela de cor, as estampas, os pontos-chave. Geralmente eu tento descobrir antes qual é a inspiração do desfile. Aí começo a linkar e a tentar entender como a marca traduziu isso na passarela. Nem sempre dá para ir ao backstage. Eu saio de um, escrevo e já tenho que correr para outro.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    É justamente essa tradução da inspiração. Um desfile não pode ser literal na sua inspiração. Quanto mais diluído, mais interessante é.

    Como é a sua relação com os designers?

    Tem alguns de quem sou mais próximo, por afinidade ou porque aconteceu depois de tantos anos. Tem os que eu tenho mais liberdade, de poder fazer uma brincadeira ou conversar horas com a pessoa, mas não são pessoas do meu convívio diário. Eu consigo separar.

    Sandra Bittencourt, editora de moda da “Marie Claire”

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    Acordo, e como o desfile aqui começa mais tarde, dá tempo de caminhar na praia, que é ótimo. Almoço com tranquilidade e venho para o evento assistir todos os desfiles direto. Temos o site que cobre muito backstage e corredor, mas a “Marie Claire” é uma revista que não é só moda. Há uns anos, fazíamos crítica desfile a desfile, mas vimos que poderíamos fazer de outra maneira. Então agora na edição de maio damos uma cobertura de SPFW e Fashion Rio, tudo junto.

    O que você repara em um desfile?

    Desfile é um conjunto, você nunca consegue ver separado. Se o desfile atrasar 40 minutos para começar ou se a sala está muito gelada, você assiste ao desfile de outra maneira. De resto, reparo em tudo: se a trilha é boa, se a roupa está bem acabada, se as meninas são bonitas. Um bom desfile é aquele que é redondinho do começo ao fim.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    Uma música muito boa, uma edição boa, não pode ser nem muito longo nem muito curto, não pode ser repetitivo e tem que ter alguma coisa que faça você focar, que fique na sua cabeça.

    Como é a sua relação com os designers?

    Alguns nós temos mais contato, mas de maneira geral é uma coisa mais profissional. Com fotógrafos e maquiadores eu até tenho uma relação mais próxima, mas com os designers é mais profissional mesmo.

    Susana Barbosa, diretora geral da revista “Elle”

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    Acordo de manhã e dou uma olhada na cobertura geral, vejo como está o nosso site e as nossas redes sociais, a concorrência, porque faz parte, e vejo a opinião das pessoas que eu acho interessante e quero saber. De manhã também respondo e-mail, porque a redação não para, inclusive agora estamos em fechamento, então temos que trabalhar em tudo o que está acontecendo lá e aqui. No evento, vejo todos os desfiles. Não preciso escrever, a minha equipe é que faz isso, mas nós cobrimos para o site e depois fazemos uma cobertura geral para a revista.

    O que você repara em um desfile?

    Eu sou uma pessoa com formação em área visual, embora eu também escreva. Vejo o potencial comercial da roupa, porque também não sou contra isso, desde que seja bonito, sofisticado e com bom acabamento, mas para quem trabalha com imagem é muito importante uma roupa que tenha um potencial fotogênico, que renda uma imagem bonita, forte. E isso está ficando cada vez mais difícil, reflete muito nas coleções a dificuldade que os nossos estilistas estão tendo para manter o seu negócio e conseguir fazer uma roupa que seja comercial, que as mulheres queiram usar, mas que também encante  e que venha com a novidade que a gente espera ver. E isso não é uma tarefa fácil. Fico observando todas essas coisas, se a coleção tem coerência, se tem força visual, se tem acabamento, se o tecido é bom e se tem novidade.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    Tem que mostrar alguma coisa que você ainda não viu. É muito difícil. Para mim o conceito é o mais interessante, é o que engloba tudo, e poucos conseguem isso de verdade. Um designer como o Ronaldo Fraga sempre tem um trabalho de conceito muito bem amarrado, e você pode gostar ou não do resultado, mas ele tem ali um conceito, uma cara, um estilo e uma identidade. Tem que ter uma inteligência por trás do trabalho. Muitas vezes o que vemos é uma roupa preguiçosa que você veria em qualquer vitrine em qualquer shopping.

    Como é a sua relação com os designers?

    Eu sou amiga de alguns, mas quando se trata da revista eu sou profissional. Não é por eu ser amiga que vai ser favorecido. Na “Elle” não fazemos críticas muito demolidoras que não contribuem para a indústria. Óbvio que você tem que apontar algumas coisas, mas tudo tem que ser feito com respeito. Eu tenho essa relação de amizade com alguns fora do trabalho, mas tenho a minha vida, tenho o meu filho e não vivo essa coisa da moda todo o tempo! (risos) Mas é boa essa troca. Às vezes você tem o privilégio de ver uma coleção antes ou de ter acesso a outras informações, mas o tratamento da revista é igual para todos.

    Costanza Pascolato, consultora de moda e empresária

    ©Felipe Abe

    Em que consiste o seu trabalho em uma semana de moda como o Fashion Rio?

    São muitas vertentes, porque de um lado eu assisto ao Fashion Week desde sempre e até já tinha conversado com o Paulo Borges sobre a importância do novo calendário de moda, então é incontornável eu não vir. Depois porque eu escrevo para a “Vogue”. De manhã fico fazendo o site com a Luiza, minha assistente, ela me manda as fotos e algumas coisas de texto, que eu acrescento outras, então a gente meio que faz um ping-pong ali, porque não sei mexer em nada tecnicamente, sou uma anta tecnológica. (risos)

    O que você repara em um desfile?

    Eu reparo, mais do que detalhes, no overall, o que aquilo representa dentro do mercado. Para mim já não interessa fazer só a análise. Vejo se tem uma relevância criativa – eu sei que não é isso que vai para a loja -, mas a gente identifica o fôlego de uma empresa segundo aquilo que ela mostra e como mostra.

    O que um desfile tem que ter para ser memorável?

    Não sei, são quase 50 anos de desfiles nacionais e internacionais. É muito uma questão de coerência com o momento.

    Como é a sua relação com os designers?

    Alguns sou amiga pessoal, outros não. Acabo sempre conhecendo de alguma maneira, porque tem muitos que são meus clientes.

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