À esquerda, a versão de Geoffrey Beene, de 2004; à direita, o look apresentado na coleção de Inverno 2013 da Céline ©Reprodução
Tem circulado pela internet e esquentado os foruns de moda a notícia de que Phoebe Philo teria copiado um casaco do estilista americano Geoffrey Beene, morto em 2004. A “versão Phoebe” foi vista no desfile de Inverno 2013 da Céline. O primeiro site a mostrar os dois looks foi o Garmento Zine.
Um email com fotos das duas peças chegaram até as caixas postais de estilistas como Alber Elbaz e Karl Lagerfeld, que, segundo o “WWD”, se diz chocado com a similaridade.
O casaco em questão é um de lã com bolsos grandes e as mangas amarradas na frente. Dizem que, na época, o casaco de Beene foi fotografado com as mangas amarradas para ilustrar sua leveza. “A peça, recriada pela Céline em 2013, era uma peça assinatura do senhor Beene e uma amostra de como seu trabalho é atemporal”, disse ao “WWD” um porta-voz da Fundação Geoffrey Beene, que ainda afirma que o estilista inspirou muitos outros profissionais nos últimos anos.
A marca Céline não se pronunciou oficialmente.
Leitores do “WWD”, de blogs e tumblrs, e participantes de fóruns de moda esquentaram a discussão sobre os limites que separam cópia da homenagem. Muitos atacaram Phoebe Philo, uma das principais estilistas do mercado hoje, enquanto outros saíram em sua defesa. “Depois eles culpam os chineses pelas cópias”, disse um comentário. “Se ainda fosse em outra cor, mas é a mesma cor, o mesmo material…”, aponta outro.
No “WWD”, um leitor escreveu: “É raro ver um designer que pode ser chamado de original, no real sentido da palavra. Onde estilistas buscam suas inspirações? Em designers mais antigos”.
Até que alguém defendeu o direito de Phoebe: “Porque Beene decidiu dobrar as mangas, isso tem que ser registrado? Só porque as mangas, na hora da foto, foram amarradas, isso se torna uma violação de design? Com o passar do tempo, o passado e o futuro referenciam a história da moda para formar um novo futuro”. “Vamos apenas dizer que Phoebe prestou uma homenagem a um incrível estilista americano”.
Conversamos com o estilista Alexandre Herchcovitch, considerado um dos criadores mais autorais do Brasil, e segue sua resposta sobre a polêmica: “Sem se importar com o que as pessoas iriam falar sobre esta cópia, na minha opinião, foi tudo consciente. Ela deve ter pensado: ‘Sou a melhor do mundo e faço o que eu achar certo’. Nunca fui muito favorável a cópia, mas qual seria a diferença se ela não tivesse copiado e sim feito algo original? As vendas iriam baixar? Ela ia deixar de ser a número um do mundo? Nada disso aconteceria, pois não é isso que importa mais. Seu histórico não é de cópias, portanto ela continua com muito crédito. Isso já não acontece com quem copia em todas as coleções. As cópias são detectadas imediatamente pois sabemos de tudo o que acontece em tempo real e não dá mais para enganar as pessoas. De fato, você é criador, estilista ou confeccionista, isto sim é medido pelo número de cópias e apropriações que você faz ao longo da carreira. O que não dá para acontecer é ser um copiador compulsivo, se intitular criador! Ninguém é tão idiota mais”.
Geofrey Beene sempre foi considerado um inovador e grande professor. Entre suas clientes figuravam artistas e personalidades como Faye Dunaway, Glenn Close e Nancy Reagan. E entre seus “alunos”, Alber Elbaz, diretor criativo da Lanvin.
Muitas de suas peças da década de 1960 encontram ecos da moda atual, não apenas nas formas, mas na manipulação de materiais. Beene abriu sua primeira loja em Nova York em 1963 e a partir de então sua carreira deslanchou. Recebeu inúmeros prêmios, do Coty Awards ao CFDA, e em 1988 comemorou 25 anos de carreira com o super desfile “25 Anos de Descobertas”.
Faleceu aos 80 anos, em 2004, devido a complicações de um câncer. Em 2008, a editora Assouline publicou o livro “Geoffrey Beene: An American Fashion Rebel”, e desde 2009, o CFDA (Council of Fashion Designers of America) oferece o Geoffrey Been Lifetime Achievement Award, que, neste ano foi entregue à estilista Vera Wang.
E então? Cópia ou homenagem? O que diferencia um do outro? Mais sobre esse assunto em breve aqui no FFW.