Imagem de editorial da revista “L’Officiel” de Singapura, de setembro de 2012 ©Reprodução
Há 10 anos, o termo “nerd” designava, basicamente, sujeitos aficionados por tecnologia, ficção científica, games ou qualquer assunto “intelectualóide”. Até o final da década de 1980, eles eram retratados no cinema e na televisão como outsiders, estranhos que, sem se enquadrar, lutavam para sobreviver ao ensino médio. Nos últimos anos, no entanto, a moda (com uma mãozinha da Prada) acolheu o estilo certinho e, às vezes, excêntrico dos nerds: com o perdão dos estrangeirismos, ser geek hoje é cool.
Alexa Chung, Susanna Lau (Susie Bubble) e Louise Ebel ©Reprodução
O “Stylesight” fez um apanhado do estilo nerd na moda e de sua evolução cronológica na mídia. O relatório deixa claro que os estereótipos estão caindo por terra e que ser intelectual não significa não ter senso de humor ou preocupações estéticas. Talvez graças à influência de Alexa Chung, Tavi Gevinson, Louise Ebel ou Susanna Lau, as “Nerdettes” (como apelidou o bureau de tendências) tornaram-se símbolo de modernidade, irreverência e conforto.
Sheila Kuehl como Zelda Gilroy em “The Many Loves of Dobie Gillis” e Sarah Jessica Parker, Amy Linker e Tracy Nelson em “Square Pegs” ©Reprodução
De 1959 a 1963, Sheila James Kuehl, hoje política, interpretou a adolescente Zelda Gilroy no seriado “The Many Loves of Dobie Gillis”, apontada pelo “Stylesight” como uma das primeiras personagens femininas verdadeiramente nerds da televisão. Até Sarah Jessica Parker já esteve bem longe do glamour de “Sex and the City”: em “Square Pegs”, ela viveu Patty Greene, uma das protagonistas do programa, que, com seus óculos de aros grossos e lentes “fundo de garrafa”, fazia de tudo para se ajustar na escola. Ainda na década de 1980, dezenas de produções ainda podem ser citadas: “A Vingança dos Nerds” (1984), “Clube dos Cinco” (1985), “Os Goonies” (1985) e “A Garota de Rosa-Shocking” (1986) são apenas alguns (ótimos) exemplos.
Scarlett Johansson e Thora Birch em “Ghost World – Aprendendo a Viver” ©Reprodução
America Ferrera em “Ugly Betty” e Zooey Deschanel em “New Girl” ©Reprodução
Mais recente, “Nunca Fui Beijada” (1999) mostra Drew Barrymore como uma jornalista, ex-outsider, que tem a chance de voltar ao colégio para uma reportagem, enquanto o clássico cult “Ghost World – Aprendendo a Viver”, de 2001, traz Scarlett Johansson e Thora Birch no ápice da adolescência, mas também excluídas e prestes a graduar-se no colégio com poucos amigos e nenhum namorado. E como esquecer America Ferrera em “Ugly Betty” (2006-2010) e Zooey Deschanel no novíssimo “New Girl”? A moda, que se vale de distintas referências, não poderia deixar de perceber tal ascensão: mesmo de maneira discreta, é possível perceber alusões ao estilo nerd em coleções da Prada, Carven, Simone Rocha, Peter Jensen e Clements Ribeiro.
Óculos de Anna Sui e look de Primavera/Verão 2013 de Clements Ribeiro ©Reprodução/Imax TREE
Apesar da adoção de designers e revistas à “causa”, a popularização do visual nerd deve-se, sobretudo, à moda de rua. À parte às blogueiras famosas que se valem do estilo, e de celebridades como Elle Fanning e Lena Dunham, o estilo foi difundido nas metrópoles mais importantes do mundo, em especial em Tóquio, Londres e Nova York. Sem dúvidas, claro, que nem toda garota (ou garoto) que se valha dos tradicionais códigos de vestir do nerd – de óculos, colarinho alto, meias ¾ ou 5/8, oxfords e cardigãs – é realmente nerd, no sentido mais literal da palavra.