Miuccia Prada por Guido Harari em 1999 ©Reprodução
Todo mundo sabe que são raras as vezes em que Miuccia Prada concede entrevistas. Mas também é do conhecimento geral que, quando as concede, não tem medo de falar o que pensa. Na sexta-feira passada (27.07), em uma entrevista publicada no diário italiano “La Repubblica”, Miuccia discute assuntos que incluem arte, moda e política, mas principalmente como ela acha que a Itália se posiciona diante esses temas. Afinal de contas, foi o calendário de Milão que ajustou as suas datas para melhor se adaptar aos restantes line ups internacionais, e não o contrário.
Apesar de acreditar que o seu país continua a ser o melhor em produção, a designer expôs a sua preocupação em relação à dispersão de talentos e marcas nacionais, e em relação à Itália passar a ser um país de segunda liga devido à venda das marcas de luxo a investidores estrangeiros. Ela comentou ainda como importantes talentos criativos começaram já a desconsiderar a Itália e a optar por Paris. “Eu não os culpo”, diz citando o caso de Raf Simons, ex-Jil Sander, atualmente Dior, onde “o seu devido valor lhe será atribuído”. A própria Miuccia admite que essa valorização parisiense é precisamente o que a faz apresentar a sua coleção da Miu Miu na “cidade luz”.
A culpa, segundo a designer, é da imprensa italiana, que se recusa a olhar para a moda como uma forma de arte séria. “Vivemos em um mundo culturalmente fraco, e somos um país que nunca quis nem soube como proteger e promover o seu território ou o seu patrimônio artístico”, acrescenta. Miuccia ainda dividiu a culpa com as classes intelectual e politicamente de esquerda, que sendo relutantes em relação à riqueza e ao glamour, não se dão conta de que o dinheiro “é o que ajuda a organizar a arte, a cultura e a moda”, confessou ao final da entrevista.