Ilustração da “Vanity Fair” de janeiro de 2012 ©Reprodução
A primeira década do século 21 foi toda marcada por releituras. Revivemos praticamente todas as décadas do século 20 – desde os anos 1920 até recentemente os anos 1990 – em uma mistura de referências e estilos que traziam algum tipo de memória visual. Em uma matéria da revista “Vanity Fair” americana, me chamou a atenção a ilustração (acima) que demonstra como o excesso de releituras chegou a brecar a inovação. Esse movimento contínuo provocou uma certa timidez no novo design de moda e também em nós mesmos, que muitas vezes preferimos usar estilos que já conhecemos.
Em um momento em que as novas tecnologias entraram na nossa casa, no nosso carro, no nosso trabalho e onde mais estivermos, mudando a maneira como fazemos tudo, na moda nos apegamos a estilos já confirmados: Ray Ban Wayfarer, jaqueta perfecto, bolsa Chanel, além de inúmeras referências de tempos passados, seja Mod 60, Gipsy 70, Rock 80 ou até Grunge 90. Parece que a ideia de usar esses estilos se tornou mais confortante se comparada a arriscar um look futurista.
No cenário global, entre os picos das releituras, novos estilos emergem quase toda temporada. O desejo pelo novo nasce quando algum criador detecta o inconsciente coletivo e antecipa aquilo que desejamos, mas ainda não sabemos. Lembro-me da volta da estilista Phoebe Philo à moda na Céline. Uma matéria de uma jornalista inglesa dizia: “Quando o desfile começou, nós esquecemos o que estávamos vestindo e desejamos imediatamente vestir as roupas da passarela”. Esse estilo – que foi apresentado há quase três anos – segue influenciando a moda e a maneira como as mulheres se vestem até hoje. Foi uma pincelada de algo novo.
Céline Primavera/Verão 2010 ©Reprodução
Em um direcionamento oposto, a coleção Versace para H&M no ano passado fez o mundo se curvar à marca. A parceria reverenciou o histórico de estampas, brilhos e cores fortes que fizeram Gianni Versace famoso, agora de uma maneira mais acessível e compatível com os dias de hoje. Isso inspirou toda a indústria com o nascimento de uma nova onda maximalista. Em 2009 havia sido a Balmain com o estilista Christophe Decarnin apresentando uma estética nova que segue influente.
Balmain Primavera/Verão 2009 ©firstVIEW
Enfim, cada um marcou uma temporada com estilos que movimentaram a moda global. Sendo esses estilos novos ou releituras, eles aqueceram a economia, movimentaram nossos guarda roupas e, principalmente, mudaram um sentimento dentro de nós.
Hoje começamos a buscar uma nova estética. Não há mais o que reviver. O estudo de macro tendências de Outono Inverno 2012 do Stylesight previa – lá em 2010 – que hoje iríamos parar de olhar para trás – uma pausa – e passar a usar novas tecnologias e referências de artistas vivos e atuantes para criar o novo.
Será que estamos prontos para vestir o novo? Ou será que preferimos, em um momento de alta velocidade, continuar usando os estilos nos quais já confiamos?
Nos desfiles de Primavera/Verão 2013 no Brasil, vimos algumas marcas já arriscando uma nova estética. A ideia é criar em uma folha em branco. Repensar a maneira como os materiais são usados e como as cores são combinadas. Incluir novos materiais. Uma nova estética deve brilhar nos olhos porque é inédita. Ela não precisa ser necessariamente futurista, mas em muitos casos acaba sendo.
Neon e Osklen no SPFW Verão 2013 ©Agência Fotosite
Fernanda Yamamoto e Ronaldo Fraga no SPFW Verão 2013 ©Agência Fotosite
Para criar uma moda nova, é preciso arriscar. Nos grandes grupos de moda nacional, existe um controle muito grande do design pelos departamentos comerciais, o que inibe a criação livre do novo, mas ainda assim, pelo menos nos desfiles, conseguimos ver novos conceitos emergindo nas passarelas.
Será que algum estilista nacional está pronto para criar uma tendência inédita que gere desejo global? Façam suas apostas.