Alber Elbaz ©Reprodução
Um dos atuais criadores da moda mais interessantes de se ouvir as opiniões, e que ainda conserva um humor dos bons, é Alber Elbaz, diretor criativo da Lanvin, que recentemente deu uma entrevista ao site da revista “Vogue” UK, falando principalmente da pressão sobre os estilistas nos dias de hoje. O bom humor fica por conta da participação de Elbaz no vídeo-campanha da Lanvin, ao lado de Karen Elson e Raquel Zimmermann, que tem que ver até o final! Confira abaixo os melhores pontos da entrevista.
“Eu não entendo essa maratona da moda”, disse o designer à “Vogue” UK. “Hoje, espera-se que os estilistas produzam trabalhos maiores, melhores, mais rápidos e – nos dias de hoje – mais baratos. Um cantor pode sair depois que ele ou ela tenha feito dez grandes canções, um diretor pode terminar sua carreira uma vez que tenha feito cinco filmes incríveis, um escritor só precisa escrever três ótimos livros. Agora vamos dar uma olhada nos estilistas – eles produzem de seis a oito desfiles por ano, a maioria dos designers têm uma carreira de 20 anos, portanto, é preciso criar cerca de 250 coleções nesse tempo. Nem mesmo Danielle Steel poderia escrever 250 livros”, falou Elbaz.
O designer acrescentou: “Você começa a entender por que alguns estilistas fazem coisas estranhas, por que alguns estilistas falam com si mesmos, você tem que encontrar uma maneira de lidar com tudo isso”. Sobre as ferramentas que ele utiliza – ou utilizaria, faz graça: “Eu não uso drogas porque se eu fizesse, eu amaria isso – eu seria um drogado. E como eu sou judeu, provavelmente seria traficante também”.
Trabalho de Elbaz na YSL na temporada de Inverno 2000 e Verão 2000 ©Reprodução
Alber Elbaz também falou sobre um período ruim em sua carreira, quando trabalhou como diretor criativa da Yves Saint Laurent, e foi demitido, em 2001, por Tom Ford, e quase deixou de vez o mundo da moda. “Na YSL eu me sentia como o genro, como se eu fosse parte da família, mas nem tanto. Quando fui demitido, me senti como a viúva. Foi doloroso e destruidor, mas não acabou comigo. Eu nunca fui Alber da Saint Laurent, assim como eu não sou Alber da Lanvin. Eu sou apenas o pequeno Alber. E eu sou bem pequeno”. O mundo tem muito a agradecer que ele não tenha desistido da moda, já que foi ele quem revitalizou a maison Lanvin, que estava praticamente entregue às traças.
Antes disso, no entanto, o estilista pensou em entrar na medicina: “Eu pensei em me tornar um médico. Eu sou hipocondríaco, por isso fazia sentido ir para a medicina – eu gosto de enfermeiras, gosto de comida de hospital, mas eu pensei ‘dez anos é muito tempo para treinar e me tornar um médico’. Eu simplesmente não via mais sentido na moda, mas me lembro de estar assistindo algo na televisão e uma mulher tinha perdido seu marido em um ataque terrorista. Eu pensei ‘o que essa mulher está vestindo não importa’, mas depois eu percebi que na verdade nosso trabalho como estilistas é fazer as mulheres sorrirem; levá-las chocolate sem calorias”.
Alber Elbaz na Lanvin, nos três últimos desfiles da marca ©Reprodução
Hoje o estilista é detentor de inúmeros prêmios importantes de contribuição na moda, como Designer Internacional do Ano em 2005 pelo CFDA, mas o que ele mais se orgulha de ter feito na moda não tem a ver com premiação nenhuma. “Yves Saint Laurent deu às mulheres poder, Chanel as deu liberdade, então quando entrei na Lanvin, eu pensei ‘o que eu daria para as mulheres?’”, contou. “Um dia, eu recebi uma mensagem de texto de uma amiga de Nova York – ela estava em um táxi a caminho do tribunal para enfrentar seu ex-marido idiota, e ela me disse ‘Alber, eu estou usando um vestido Lanvin, e eu me sinto tão protegida’. Aquele foi o maior elogio que eu já recebi. Fazer com que um pedaço de 500 gramas de seda a fizesse se sentir protegida – aquilo me fez muito feliz, de fato”.