Colaborou Stephanie Noelle
Os The Hiltons Brothers deram a deixa, falando sobre o bombardeio de informação e a ansiedade constante que assola a sociedade contemporânea. A mesa de discussão com Guga Ketzer (da agência VP Loducca), Mateus Santos (da produtora Lobo), Felipe Teobaldo (do blog Neonico) e Paulo Martinez (da revista “MAG!”) serviu para dar continuidade ao assunto.
Felipe Teobaldo, Paulo Martinez, Katia Lessa, Guga Ketzer, Mateus Santos © Luciana Prezia / Divulgação
O foco da discussão, mediada pela repórter da “Folha de S. Paulo”, Katia Lessa, era sobre como ferramentas de internet influenciam e modificam a comunicação de moda. Em outras palavras, como marcas estão se relacionando com seus clientes e quais os melhores formatos para se comunicarem com o mundo e apresentarem suas coleções. Debateu-se a necessidade das marcas entenderem o mundo digital antes de adentrá-lo com a mesma abordagem dos impressos: conhecer melhor seu cliente/consumidor, para não simplesmente impor informações, mas sim torna-lo parte de uma estratégia de criação e comunicação.
A discussão ainda abordou assuntos polêmicos sobre como a internet mudou não só a forma de como as pessoas _e o mundo_ se comunicam, mas a maneira como pensamos, a falta de linearidade do pensamento fragmentado em 140 caracteres, mais vídeos e imagens sem fim.
Até o “fim” da internet foi anunciado para daqui 20 anos.
>> O que o FFW pensa:
Seja pela negligência da mediação ou pela atualidade do tema discutido, o foco se desviou muito do proposto. Ao invés de discutirem os reais efeitos da internet na comunicação de moda, o debate girou mais em torno das formas diferentes _e pessoais_ de se usar a internet e suas ferramentas.
Em 2008, na 2ª edição do Pense Moda, aconteceu o debate “Nova Mídias: a explosão e a importância dos blogs na imprensa contemporânea”. Em 2009, na então 3ª edição do evento, aconteceu uma mesa em torno do futuro das mídias. O assunto, então, não é novidade para o evento, muito menos para seus convidados e participantes. Sendo assim, ficou no ar a pergunta: por que discutir o mesmo assunto de novo? E por que agora?
Talvez seja pela real complexidade, talvez pelo esvaziamento que todo esse imediatismo + sobrecarga de informações gera na sociedade, ou simplesmente porque “estamos discutindo a contemporaneidade, ainda dentro dela”, como disse Felipe Teobaldo. Sem distanciamento temporal, sem abstração, não há como avaliar nada com precisão. Daí a dificuldade de compreensão de tudo isso. Como disse Franca Sozzani em entrevista exclusiva aqui no FFW: “A moda precisa de tempo”. Tudo precisa de tempo.
O FFW concorda com Paulo Martinez, que falou com muita propriedade _e bom humor_ sobre a necessidade de acompanharmos a evolução: “Você precisa acompanhar essas mudanças, se não vira uma melancia podre na cabeça”. Mais ainda com as afirmações do fotógrafo Mario Daloia alertando para a constante e exagerada atenção ao formato, em comparação com o total descaso para o conteúdo.
Conteúdo é importante, sim. “Se você passa todo o seu tempo separando o lixo do que considera bom, como vai assimilar algo de fato?”, perguntou Paulo Martinez. A stylist Letícia Toniazzo falou sobre a atual superficialidade _e falta de inteligência_ que o excesso de informação pode trazer. Já Felipe Teobaldo, dos Neonicos, defendeu a tese de que o “conteúdo não importa” e decretou que em “cerca de 20 anos a internet vai acabar”.
Estar exposto a tudo que existe na internet não significa assimilar o conteúdo de fato. Ler centenas de feeds por dia não significa compreensão, entendimento ou digestão das informações.
De que adianta ser apenas um “vomitador” de dados pré-fabricados sem um ponto de vista elaborado ou uma opinião consistente?
No fim das contas, o meme E.T. Bilu é que está com a razão: terráqueos, apenas busquem conhecimento.
>> O que os convidados pensam:
Sobre a mesa de discussão com o tema: Ferramentas de internet renovam a comunicação de moda.
Jackson Araújo (consultor criativo): A discussão foi muito válida e me senti representado, pelo menos um pouco, em cada fala dos participantes. Mas no final a minha conclusão foi a mesma com que cheguei: a moda precisa entender as convergências (com as novas tecnologias). Como essa rapidez da internet a moda ficou velha, e o grande desafio dessa banalização toda é conseguir surpreender e ter “ineditismo”, porque sem ser inédita, a moda deixa de ser moda.
Jorge Wakabara (editor do blog Lilian Pacce): Talvez a discussão tenha se perdido, porque é diferente como a gente (pessoa física) usa a internet e como as marcas e mídias lidam com a internet. E na discussão acabamos presos nessa história do “eu”, e sinceramente, tanto faz como cada um usa a internet. Mas a questão é como as marcas e mídias podem ser atraentes e presentes nesses meios. E acho que tem marca que não precisa, porque não tem a ver com ela, e com o público-alvo dela. Então tem que haver um estudo, uma pesquisa, pra ver se vale a pena pra marca estar presente (e atraente) na web. A gente tem muito que caminhar e entender, porque podemos ter dois cases de sucesso, mas existem 20 mil de fracassos.
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