Imagem de editorial da revista “Flair” de novembro 2010 ©Reprodução
Quem nunca passou pelo dilema de ter que escolher entre uma peça ou outra na hora de sair de casa? Eis que as passarelas (sobretudo as gringas) sugerem uma solução bem simples: use tudo ao mesmo tempo! Algo como um “nômade pós-moderno” que precisa carregar no corpo tudo aquilo que possui. Seu look, seus pertences, sua(s) identidade(s), sua(s) personalidade(s).
Tudo começou de forma tímida lá no verão 2010, quando o tribalismo e outros elementos de diversas etnias surgiram como uma das principais vontades da temporada. Na estação seguinte, o inverno 2010, todo esse clima étnico ganhou extrema força com sobreposições, quase acúmulos de heranças e tradições passadas ao longo do tempo. Ciganos nômades modernos, como os de Jean Paul Gaultier com seus turbantes, estampas primitivas e equipamentos de alpinismo. Ou então como em Vivienne Westwood com seu recorrente gosto pela história propondo um delicioso clash de estampas retros de borboletas e flores, bem como um papel de parede embolorado.
A lista de estilistas que aderiram ao movimento é ainda maior: Tao Kurihara com seu patchwork de tecidos típicos de China e Índia; Kenzo com sobreposições “infinitas” de tonalidades neutras, Missoni com seus tricôs tribais, Rodarte com seus florais apocalípticos e até mesmo a tradicionalíssima Chanel com suas (falsas) peles.
Imagens de editorial da “Vogue” alemã de novembro de 2010 ©Reprodução
Isso foi um prato cheio para stylists e editores de moda que desdobraram a vontade em diversas interpretações nas edições de outubro e novembro das principais publicações de moda do mundo.
Em termos práticos, estamos falando de um mix de possibilidades fundindo alfaiataria com referências safári, com peças leves de sportswear contrapostas à outras pesadas do outerwear, mais o incansável jogo do artesanal versus o tecnológico. Passado, futuro e presente num look só. Tecnologia e tradição conjugadas numa mesma mensagem de forma totalmente livre e despretensiosa.
E não precisa nem ser necessariamente étnico. Daniel Ueda, stylist e colaborador super querido do FFW, mostrou algo similiar, conjugando elementos da cultura de rua e do surfe com uma parafernália imagética pop em nosso mais novo FFW Shooting.
Essa ideia nômade, na verdade, esconde um desejo escapista, uma fuga da realidade. Também pode sugerir uma super sobreposição de elementos, um mosaico de referências com as quais nossas personalidades e identidades são compostas e alteradas a todo segundo, sobretudo numa época onde a maior parte das informações têm a vida útil limitada aos 140 caracteres.