No Inverno 2010, uma coisa ficou clara: os estilistas do Brasil e do mundo deram início a uma “faxina” de estilo. A moda quer ficar mais “limpa”, livre de decorações e excessos. Less is more, como nos anos 1990. A consequência disso é que as formas ficam mais puras, os cortes simplificados, as proporções práticas, as cores neutras e os tecidos, de alta qualidade, ganham superfícies inovadoras.
“Há uma mentalidade modernista por trás do modo como os estilistas trabalharam tecidos e formas nessa temporada”, afirmou a consultora de tendências globais do Stylesight.com, Sharon Graubard, em entrevista ao portal FFW. Faz todo sentido: com a limpeza estética, surge a necessidade de chamar a atenção para a qualidade da tecelagem das roupas.
Por isso veludos, tweeds, lãs, tricôs, cashmeres, casimiras, peles falsas, plumas e couros em contraposição com cetins, musselines, sedas e plastificados vão ganhar destaque neste inverno, levando a ideia que temos sobre texturas às últimas consequências.
Detalhe do tweed com pele da Chanel e veludo com seda de Alexander Wang, ambos Inverno 2010 © firstVIEW
As texturas – e suas diversas coordenações – se tornam elementos essenciais para agregar valor e acrescentar informação aos looks da próxima estação. Pense no Inverno 2010 de Marc Jacobs, ou na coleção limpa e pronta para vida real da Céline, que levou assinatura de Phoebe Philo. Até mesmo Miuccia Prada, em sua linha principal, trouxe de volta valores de feminilidade através de tecidos e materiais que resultaram na imagem quase retrô da coleção.
Detalhes de looks Céline e Prada Inverno 2010 © firsVIEW
Detalhes de Marc Jacobs e Balenciaga Inverno 2010 © firstVIEW
Já na Balenciaga, o tratamento têxtil é voltado para o futuro. A base da matéria-prima é clássica, mas o efeito final é 100% fashion foward. Aqui no Brasil, as texturas também marcaram presença: tricôs de pontos largos nos desfiles 2nd Floor e Maria Garcia, os bordados de Alexandre Herchcovitch ou Isabela Capeto, e outros recursos que despertam o desejo táctil numa época de extremo individualismo e isolamento, retomando valores tradicionais de confecção e tecelagem.
Mas isso tudo tem um preço: o foco na qualidade do design, nos processos de confecção e nos tecidos elaborados acaba gerando custos elevados de matérias-primas, tratamentos tecnológicos e mão de obra qualificada. Quem paga a conta? O consumidor, que vai encontrar no mercado roupas com preços nada amigáveis num período de economia instável.