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    10 mulheres que movimentam a indústria da moda na primeira década dos anos 2000

    10 mulheres que movimentam a indústria da moda na primeira década dos anos 2000

    POR Redação

    Muita gente acha que moda é coisa de mulher. Aproveitando essa opinião, o FFW escolheu algumas das mulheres mais poderosas da moda atual, no Brasil e no mundo.

    Elas são capazes de lançar tendências, ajudam a definir gerações, transformam a moda em exercício intelectual e, no geral, fazem do ramo algo muito mais interessante do que apenas tecidos costurados.

    ANGELA AHRENDTS

    Não reconhece o nome? Tudo bem, a posição dela não é proeminente em sites de moda. Mas a de seu melhor funcionário, Christopher Bailey, sim. Ahrendts é a CEO da Burberry, a empresa familiar criada no século 19 que tornou-se uma das marcas mais famosas do planeta (tanto que as palavras trenchcoat e estampa xadrez são imediatamente associadas à grife).

    Quando Angela assumiu em 2005 – com a benção de Bailey, que já havia trabalhado com ela na Donna Karan –, os números estavam bem, mas a grife estava superexposta, o que estava fazendo a Burberry perder seu lugar entre as gigantes do luxo.

    A empresária começou eliminando 35 linhas de produtos (a maioria utilizava a então desgastada estampa) e logo expandiu para mercados emergentes asiáticos e também para os EUA. Desde que ela assumiu, os lucros da empresa subiram 30%.

    Outras escolhas certeiras que a norteamericana fez foram criar novas linhas (esportivas, de sapatos, de jeans), contratar a atriz Emma Watson para as campanhas e investir em tecnologia (até agora, a Burberry é quem melhor utiliza o espaço online através de streamings, vendas relâmpago e sites interativos) – tudo para atrair os jovens consumidores. Mulher esperta…

    ANNA WINTOUR

    Editora-chefe da “Vogue” norteamericana desde 1988, Anna Wintour comanda cada aspecto da revista, incluindo o econômico, como escancarou o documentário “The September Issue”, de 2009, e a iniciativa Fashion’s Night Out.

    A “Vogue” de Wintour tem um lugar especial no meio: é, ao mesmo tempo, uma das revistas mais criticadas (há quem a julgue entediante e comercial demais) e uma das mais importantes.

    Ainda considerada uma bíblia digna de referências, a “Vogue” tem uma circulação de 1,2 milhões de exemplares, o que a transforma em uma das revistas de moda mais influentes do mundo. Além disso, Anna é peça-chave das campanhas do CFDA (Council of Fashion Designers of America) e não tem medo de tocar, pelo menos, em assuntos polêmicos, como fez recentemente com a questão do peso das modelos.

    A persona que Anna construiu, mesmo antes de dominar o título, também faz parte do seu sucesso. Sua fama faz muita gente experiente tremer e, se depender dela, ainda vai fazer por um bom tempo.

    CATHY HORYN

    Conhecida por sua língua ferina, Cathy Horyn já trabalhou nas melhores publicações de moda do mercado, e é crítica de moda do norteamericano “The New York Times” desde 1998 (ela é a segunda mulher com esse cargo no periódico).

    Sua opinião é respeitada pela grande maioria, mas há quem a considere ácida demais e aqueles que simplesmente não conseguem aceitar uma opinião tão divergente – é famosa a vez em que Giorgio Armani deixou-a fora de seu desfile por causa de uma crítica.

    O fato é que as resenhas de Horyn, assim como suas outras matérias, são leitura obrigatória para quem se interessa pelo assunto. Ela não tem medo de dizer o que acha e o faz com propriedade – e frequentemente com humor também.

    CLÔ OROZCO

    Clotilde Maria Orozco de Garcia (explica tudo, não?) aprendeu modelagem com duas tias nos anos 1970. Naquela época já fazia roupas para si e para as amigas, mas só começou a vendê-las na faculdade.

    Em 1975, a confecção era sob encomenda e vendida em algumas lojas do Shopping Iguatemi, em São Paulo. No livro “Brasil Na Moda”, Clô relembra seu primeiro sucesso nacional: uma roupa “meio riponga” de algodão branco que consistia em uma saia com três babados, camisa pólo e lenço na cintura, tudo tingido no fogão do sítio dos pais.

    Logo mudou para a Rua Hungria, no mesmo prédio da pronta-entrega da G de Glória Coelho – a própria Clô tinha por volta de 20 peças para o mesmo propósito.

    Na mesma época, formou com colegas o Grupo Paulista, que desfilava no Hotel Maksoud. “Tinha a Armazém, Companhia Ilimitada, da Selma, a G, o Alcides e eu. E tudo o que acontece hoje já acontecia: manequins que brigavam, a Regina [Guerreiro, stylist] que tinha ataques e desmaiava no meio, a produção que atrasa…”

    O nome Huis Clo surgiu em 1979, e a primeira loja, em 1983. Não é exagero dizer que Clô Orozco definiu a mulher elegante brasileira. A qualidade impecável e o corte perfeito das roupas tornou-a sinônimo de uma sofisticação muito referenciada até hoje no Brasil.

    COSTANZA PASCOLATO

    Nascida na Itália e criada no Brasil, Costanza foi de menina rica a uma das mais famosas personas da moda brasileira.

    Nos anos 1970, começou na “Claudia” ambientando cenários e logo partiu para a produção de moda. “Me boicotavam muito porque me achavam dondoca. Sumiam com minhas roupas nas produções, faltavam nas minhas fotos”, relembrou em “Brasil Na Moda” (vol. 1).

    Costanza já acordou Tania Caldas no tapa, fez make e cabelo em editoriais, participou de reuniões que criaram o primeiro calendário brasileiro unificado de lançamentos, escreveu livros, para a “Folha de S. Paulo”, para a “Vogue”, deu consultorias e hoje sua principal função é tocar a tecelaria da família, a Santaconstancia.

    Quando comandava a “Claudia Moda”, sua influência era imensa, como comprova um episódio de 1983, em que ela que as mulheres adotassem a meia-calça preta: “Vieram me falar que as vendas de meias pretas estouraram no Brasil inteiro… E que o estoque de coloridas encalhou.”

    Mesmo sem representar um veículo fixo, Costanza ainda é presença obrigatória nos desfiles nacionais mais importantes. Paulo Martinez, editor de moda da “MAG!”, explica: “Primeiro por causa da história dela e, segundo, porque ela não cochilou. Continua acordadíssima, é muito informada, e isso faz diferença quando ela escreve sobre moda.”

    EMMANUELLE ALT

    Muitos podem considerar a escolha de Emmanuelle um erro. Afinal, não é Carine Roitfeld quem comanda a “Vogue Paris”?

    Mas não é como subordinada de Roitfeld que Alt está aqui. Ela também é consultora e stylist de duas das marcas mais influentes, em termos globais, da Europa: Balmain e Isabel Marant.

    Desde 2007, sob o comando de Christophe Decarnin, a Balmain vem galgando os degraus entre as grifes mais importantes do mundo. Não pela originalidade do trabalho, mas pela imagem rock’n’roll extremamente desejável que criou – em grande parte, mérito da stylist.

    Já Isabel Marant é reconhecidamente uma das promessas da nova geração. O estilo despojado que todas as garotas cool querem ter – e outros estilistas atrás dessas garotas também – muitas vezes parece saído diretamente do armário de Alt.

    Como na moda a Europa ainda é a parte mais referenciada do mundo, essas influências acabam, de uma maneira ou outra, respingando mundo afora. E Emmanuelle tem suas mãos nelas.

    GLORIA COELHO

    Gloria Coelho começou a carreira aos 6 anos, quando ganhou sua primeira máquina de costura da mãe no internato em que estudava. “Fiquei acordada a madrugada toda na expectativa de poder brincar de costura na manhã seguinte… Não sei porque me deu tanta ansiedade. Talvez a moda ja estivesse escrita na minha vida”, disse.

    Aos 13, já vestia as amigas. Criava tubinhos, um sucesso nos anos 1960, e trocava-os por roupas do famoso Dener com a mãe de uma amiga. Aos 19, criou um estilo de camiseta que foi uma febre.

    Depois de uma viagem a Europa, da qual trouxe saias indianas, criou uma de patchwork já com a etiqueta G – ela, que não brinca com astrologia, lembra que esta é “a sétima letra do alfabeto” –, outro sucesso retumbante. “As pessoas não paravam de me procurar atrás dessas saias… Quer dizer, eu não procurei a moda, a moda que me procurou.”

    Nos anos 1980, abriu sua primeira loja e passou a desfilar. Desde então, não parou mais. Nos anos 1990, ainda lançou uma segunda marca, a Carlota Joakina.

    Gloria teve muitos hits na carreira, o que mostra seu tino para os negócios: há a “roupa de reflexão” (como ela chama as roupas de desfile), que impressiona críticos com sua originalidade, e também a roupa comercial, uma mistura de criação com afinidade consumidora.

    Assim, de roupa futurista em roupa futurista, de look andrógino em look andrógino, Gloria deixa sua marca na moda brasileira e na moda brasileira de outros também.

    MIUCCIA PRADA

    Ah, Miuccia. Talvez a figura mais mítica da moda atual, essa italiana tem o poder de fazer o que quiser na sua passarela, sem medo algum. Afinal, a Prada é o Norte pelo qual os outros profissionais do meio se orientam: nem todo mundo quer seguir naquela direção, mas saber onde ela fica é bom para se situar.

    Politizada, discreta, misteriosa e extremamente hábil em atender aos desejos fashionistas, Miuccia Prada cria, temporada após temporada, itens que ninguém sabia que queria mas, de repente, são absolutamente necessários.

    E não são apenas bolsas ou sapatos, mas imagens inteiras, que ela faz questão de deixar inconstantes. Houve as lupinas de 2006, as viajantes de 2007, as rendeiras de 2008, as beach girls de 2009.

    A moda segue seus passos há pelo menos 20 anos, e deve continuar seguindo por sabe-se lá quanto tempo mais. O irônico é que, enquanto a moda sempre busca o novo, Miuccia reinventa o que já fez – e nós aceitamos de bom grado.

    PHOEBE PHILO

    Phoebe Philo é a garota dos olhos do mundo da moda. Quando deixou a Chloé para se concentrar na família, a estilista deixou também um sem número de fãs desolados porque, francamente, ninguém faz como ela faz.

    Seu talento para descobrir o que as garotas descoladas querem é único. Na Chloé, ela reinou com sucesso por cinco anos, e é creditada por ter tornado a marca cool mais uma vez: seus vestidos femininos e calças de cintura alta, além das muitas (muitas!) it bags tornaram o trabalho de Philo, sempre bem recebido pela crítica, extremamente rentável.

    Em 2008, ela aceitou comandar a Céline, a convite da LVMH. Em apenas dois anos, já reina novamente, mas de maneira distinta: substituiu a feminilidade de outrora pelo minimalismo.

    Como resultado, os cortes retos e simples da Céline estão se alastrando por páginas de revistas e redes de varejo mundo afora. Pode ser cedo para dizer, mas há uma boa chance que a nova mulher criada por Phoebe Philo torne-se uma das imagens da década. Uma vez rainha…

    SUZY MENKES

    A contraparte britânica de Cathy Horyn, Suzy Menkes escreve para o “International Herald Tribune” desde 1988. Por seu trabalho como jornalista, ela já recebeu o OBE (Ordem do Império Britânico, dada pela família real) e a Legião de Honra (dada pelo governo francês).

    Menkes é considerada por muita gente a jornalista de moda mais importante hoje, e não é por acaso: seus textos são claros, informativos e ao mesmo tempo opinativos – uma combinação rara em um ramo tão egocêntrico.

    Mas tanta experiência tem lá seus problemas. Recentemente, Suzy deu sua opinião na discussão sobre blogueiros de moda. Não foi a melhor coisa a dizer e ela mesma tratou de se retratar, pouco depois.

    Apesar dos deslizes de quem aprendeu o ofício em outros tempos, críticas de moda como Suzy Menkes dificilmente vão se tornar obsoletas. Elas são um clarão de entendimento quando certos aspectos de certas coleções nos deixam à deriva.

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