“Quando enviei minha carta aos principais players da indústria da moda [em janeiro deste ano], era exatamente isso que eu esperava: uma transformação imediata”, comenta Paulo Borges sobre o desfile de Inverno 2010 da Prada que, pela primeira vez em muitos anos, usou modelos com um visual menos esquálido e muito mais saudável em seu casting.
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As tops Alessandra Ambrósio, Doutzen Kroes e Lara Stone: medidas mais reais e aparência saudável em foco na passarela da Prada © First View
Sarah Mower, crítica de moda do site Style.com, reforça a importância do desfile e o considera um marco: “Foi muito bom ver roupas de passarela sendo usadas por mulheres de verdade, com curvas. A Prada influencia muitos na indústria a seguirem os seus padrões. Tenho certeza que as consumidoras vão amar essa mudança”.
Miuccia Prada, uma das estilistas mais influentes da atualidade, é também uma das responsáveis por disseminar a estética não-saudável através de seus desfiles que, nos últimos anos, empregaram o que Sarah Mower chama de “um exército de zumbis adolescentes”. A busca por modelos de aparência fragilizada obriga diretores de casting a recorrerem às meninas mais jovens, muitas menores de idade, cujos corpos ainda não passaram pelas transformações da puberdade. Como consequência, as modelos veteranas, que têm corpos naturalmente mais curvilíneos, se veem forçadas a acompanhar o ritmo: é onde entram as dietas incorretas e a pressão psicológica que levam, em alguns casos, às disfunções alimentares.
Mas as peças já se movimentam no tabuleiro e o jogo ganha novas regras: a carta enviada por Paulo Borges resultou num convite pessoal de Anna Wintour para que ele participasse do encontro do CFDA realizado no começo de fevereiro, onde foram debatidas as causas e possíveis soluções para o problema da magreza extrema nas passarelas, editoriais e campanhas de moda. Editoras, stylists, agências e estilistas foram alertados sobre a responsabilidade social que devem exercer.
A revalorização da imagem feminina saudável na moda é um fenômeno cíclico (Linda Evangelista, Kate Moss, Gisele Bündchen, Sasha Pivovarova, Lara Stone), mas essa é a primeira vez que a indústria se organiza em prol de uma mudança favorável.
GUIA DE ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL + IDADE MÍNIMA PARA DESFILAR NO SPFW
Junto ao Ministério Público de São Paulo, o SPFW estabeleceu normas para preservar a integridade das modelos presentes no evento e ter garantias de que elas estão aptas a exercer a profissão. Mesmo não sendo responsável pela contratação das modelos – o que é feito pelos estilistas diretamente com as agências –, a organização do evento percebeu a necessidade de interferir desde 2007.
Entre as medidas em vigor atualmente está a necessidade de atestado médico garantindo a plena saúde e condições de trabalho, além de não se permitir menores de 16 anos nas passarelas e exigir alvará para as menores de 18 anos e maiores de 16 atuarem. Toda esta documentação é fornecida pelas agências antes da semana de moda.
Além disso, o SPFW lançou uma campanha com cartilhas de conscientização impressas e online distribuídas a pais, modelos e agentes para promover a alimentação saudável.
+ Baixe aqui o Guia de Alimentação Saudável criado pela organização do SPFW em 2007.