Dois mil e nove foi um ano agitado para a moda. O mercado de luxo sofreu com os reflexos da crise mundial enquanto, no outro extremo da balança, as redes de fast-fashion se fortaleceram (em especial com o suporte da China, que oferece cada vez mais rapidez e custos menores de produção em série).
Os consumidores ficaram desorientados e houve uma retomada de valores: o público exigiu produtos com maior valor agregado, mais durabilidade e praticidade. Valores como agressividade e sensualidade (das roupas) também transmitiram a sensação de controle, segurança e poder. Não por acaso, a indústria das lingeries foi uma das poucas que passou pelo período de crise com lucros.
Mas o que será que 2010 reserva para a moda? À medida que a palavra “crise” vai deixando nosso dia-a-dia, o que vai acontecer com os nossos antigos hábitos de consumo – além dos novos que adquirimos durante o período de baixa na economia mundial?
O portal FFW ligou seus radares e encontrou algumas diretrizes para a moda em 2010. Confira:
Curto Prazo
Os desfiles de Inverno 2010 ainda serão guiados pelas incertezas de 2009, mas já devem mostrar alguns sinais de mudança. As coleções de Outono 2010 (veja todos os desfiles aqui) apresentaram novamente a retomada de cores mais escuras e referências militares (sintomas pós-crise ou somente mais um inverno?).
Ao mesmo tempo, as atenções se voltam para materiais e técnicas mais naturais. O tricô deve manter sua posição de destaque como nas últimas temporadas, aliado a outros materiais orgânicos e técnicas artesanais que prometem agregar “valor humano” às roupas.
Emoções e valores humanos
A longo prazo, são justamente os valores humanos que devem pautar a indústria de moda e comportamento de consumo a partir da metade de 2010.
A transformação mais profunda que a crise causou no mercado de moda está nos hábitos de consumo. Os consumidores perceberam que não são meras ferramentas de compra. Ações de marketing ou publicidade convencionais perdem relevância neste novo cenário, onde as pessoas abandonam o papel em que apenas “recebem” informações e “absorvem” conceitos, passando a ditar as regras.
Na prática, esse novo papel do consumidor de moda deve resultar num estilo visual que favorece roupas e acessórios que tenham as seguintes características:
>> Preservação: no sentido de manter algo antigo, com valor histórico. Daí podem surgir, além de itens baseados em estilos passados (roupas de inspiração vintage ou mesmo garimpadas em brechós), materiais e peças com aspecto envelhecido, desgastados pelo tempo e pelo uso contínuo responsável por acumular memórias e valores mais sentimentais.
>> Aldeia global: se teve uma coisa que a crise nos ensinou, é que não vivemos sozinhos no mundo. Elementos e referências étnicas devem aparecer nas passarelas, trazendo valores de diferentes culturas que poderão vir misturadas numa releitura da comunidade global em que estamos inseridos. A África, como de costume, deve ganhar destaque (novamente) através de suas cores e geometrias.
>> Tradição: crise econômica significa menor poder de compra. Sendo assim, a alternativa encontrada é investir em itens com tradição e durabilidade. O artesanato agrega esses dois valores, sendo assim bordados, estampas, pespontos e formas que recuperam memórias e valores antigos ajudam a ampliar o fator humano das roupas.
>> Elementos naturais: peças quase rústicas, feitas de tecidos naturais, geralmente com técnicas manuais, serão responsáveis por traduzir aquilo que há de mais essencial e simples em nossas vidas. Peles e tricôs com aspecto artesanal e outros elementos bucólicos devem ficar ainda mais em alta para ressaltar valores e emoções puramente humanos. Se quiser entender melhor essa macrotendência, releia textos do Arcadismo, período literário que resume o novo espírito da moda: bucolismo, antropocentrismo, simplicidade, fugere urbem.
– Por Luigi Torre