Terminou na última sexta-feira (27/11) a 26ª Casa de Criadores num dos dias mais fracos do evento, onde alguns problemas que apareceram ao longo de toda a edição se fizeram ainda mais presentes e evidentes. Com raras exceções (confira nas resenhas abaixo), a imagem que ficou foi de um encerramento desacelerado, sobretudo em comparação aos dias anteriores.
Ponto Zero
Quem abriu o último dia de desfiles foram os estudantes de moda que integravam esta edição do projeto Ponto Zero, dedicado a premiar a melhor coleção (e aluno) inscrito no programa. Leandro Gabionette (Universidade Anhembi Morumbi), Ana Paula Becker (Centro Universitário Belas Artes), Bruno Gonzaga (Fundação Armando Álvares Penteado), Alice Sinzato e Helena Luiza Kussik (Santa Catarina Moda Contemporânea), Cynthia Hayashi (Santa Marcelina), Cristiane Carla Soares (Senac) e Ana Beatriz Almeida e Claudia Leimi Yasumura (USP) foram os participantes que mostraram suas coleções bem menos inventivas e muito mais desinteressantes do que aquelas vistas no Projeto Lab e até mesmo no Fashion Mob.
Quem se destacou mesmo foi Bruno Gonzaga, da FAAP, com sua coleção repleta de tecidos sintéticos e formas soltas que mixavam boa informação de moda com alta dose de vida real. No entanto, quem levou o prêmio foi Cynthia Hayashi, da faculdade Santa Marcelina, numa coleção que explorava formas e sobreposições de pequenos tecidos.
Geraldo Couto
nspirado no último filme de Stanley Kubrick, “De Olhos Bem Fechados”, Geraldo Couto mostrou bons sinais de evolução à medida em que limpou alguns excessos dos seus vestidos de festa. Pra imprimir aquela imagem sexy e sofisticada do filme, o estilista apostou em vestidos curtos mais próximos ao corpo decorados com drapeados de lamê dourado ou aplicações de materiais brilhantes.
Couto podia ter deixado de lado as aplicações de grandes rosas de tecidos, ou as formas mais marcantes dos vestidos e capas de veludo em camadas que pesavam demais nos looks. O ponto alto, contudo, vem no final com ótimos vestidos curtos de paetês dourados em formas retangulares, cheios de movimento.
André Phergom
A alfaiataria é novamente o foco de André Phergom para o seu Inverno 2010. Repleto de boas ideias – como o deslocamento de penses e pregas –, o desafio maior para o estilista continua na execução das peças. Sua vontade de trabalhar formas e cortes inusitados, que fogem do convencional, muitas vezes acaba sendo um passo maior que a perna. Uma boa alfaiataria requer extrema habilidade técnica de modelagem, corte e acabamento, pré-requisitos que, desta vez, André não cumpriu.
Bom mesmo é o trabalho com pregas em camisetas e outros casacos de tecidos molengas como meia-malha, moletom e tricô. Aplicando essas pregas horizontalmente e de forma assimétrica em camisetas, cardigãs e outras jaquetas, André consegue um efeito interessante. Fica a dica: o estilista poderia levar soluções simples e inteligentes como essa para a sua alfaiataria.
Diva
Foi pensando num grande encontro entre as maiores divas de todos os tempos que Andréia Ribeiro apresentou o seu Inverno 2010. Daí vêm os vestidos de festa que dominam a passarela com formas das mais variadas e referências aos mais diversos estilos. O que não sai nunca de cena é uma vontade por um glamour exuberante que muitas vezes complica a adaptação da peça para vida real. O ponto alto fica com os vestidos mais simples, de formas contidas e adornos discretos, como os modelos acinturados no estilo 1950s.
A ideia de fazer um grande tapete vermelho acabou se tornando um exagero performático que, somado à extravagância das roupas, colocou uma lente de aumento nas falhas de acabamento e modelagem. Como faltou edição de moda (daí a importância de se trabalhar com um bom stylist), as ideias se diluíram e o desfile pareceu longo demais. A parte boa foi quando a própria estilista entrou na passarela com um vestido soltinho paetizado e casaco xadrez levemente brilhantes – foi um indicativo de que na loja, provavelmente, haverá roupas mais “reais” que, infelizmente, não fizeram parte da apresentação.
Prints I Like
O universo cômico-sombrio de Tim Burton deu o tom do Inverno 2010 da Prints I Like. Traduzido pela cartela de cores sóbrias e estampas que seguiam a estética dos filmes do diretor de “Noiva Cadáver”, “Edward Mãos de Tesoura” e “O Cavaleiro Sem Cabeça”, entre outros, a grife apresenta bons vestidos soltos e fluídos, que caem delicadamente sobre o corpo. Contudo, quando a estilista Luisa Aguiar começa a investir em formas mais estruturadas ou peças com construções mais elaboradas, vemos novamente a deficiência nos acabamentos na modelagem.
Weider Silveiro
Quem achou que a escolha do tema de Weider Silveiro seria um tanto quanto óbvia, ficou surpreso. Ao olhar para o Rei do Pop, Michael Jackson, em busca de inspiração para o seu Inverno 2010, o estilista se lançou num terreno perigoso, repleto de clichês e obviedades. O risco era alto, mas Weider se saiu mais do que bem, compondo uma das coleções mais emocionantes de toda essa edição da Casa de Criadores. Talvez esta tenha sido a melhor apresentação da carreira de Silveiro.
O estilista fez questão de abordar quase todos elementos mais essenciais da carreira do ídolo pop, pra quem moda era algo essencial. As formas mais literais se mostraram com inteligência, como as dragonas das jaquetas militares sobrepostas e com canutilhos, ou então as várias desconstruções das peças que, por exemplo, aplicavam de forma excepcional as abotoaduras sobre um vestido preto cheio de brilhos. Outras, mais sutis, como as estampas de lua em referência ao “moonwalk”, ou as medalhas e estrelas que aparecem no primeiro vestido feito totalmente de fita adesiva marrom.
A semelhança com Balmain é devida à proximidade da inspiração. Talvez Weider pudesse ter se distanciado um pouco do tema, buscando mais liberdade. Mas, no meio de tanta energia e emoção, esse detalhe passou quase que despercebido.
Gustavo Silvestre
A riqueza dos bordados e pesquisa de trabalhos manuais continua como ponto forte no Inverno 2010 de Gustavo Silvestre. Desta vez, o shape se aproxima do corpo e os comprimentos ficam um pouquinho mais curtos, quase sempre do meio da coxa para cima, lembrando aquela silhueta sexy/minimal dos Anos 90. Desta mesma referência saem os jeans que abrem o desfile, primeiro num vestido justinho, depois em calça e jaqueta délavé que, apesar de serem boas peças, ficaram perdidas no restante da coleção que tem como ponto alto os bons trabalhos de chenile, principalmente quando contrapostos às formas mais secas de alguns looks.