©Juliana Knobel
Não me lembro da primeira vez que ouvi o som do Primal Scream, mas lembro da primeira vez que me apaixonei pelo vocal Bobby Gillespie e o som viajante que fazia com sua banda. Foi durante um feriado na casa de uma amiga, em Campos de Jordão, em meados dos anos 90, com nossa turma da época. Durante o dia, almoços, passeios, teleférico, colheita de hortênsias, conversas. À noite, momentos lisérgicos, jogados em almofadas e dançando na sala com vista para o jardim. Um vento frio entrava pela janela, mas a gente nem sentia. No som, “Come Together” e “Higher than the Sun”, dois hits do álbum “Screamadelica”, o maior clássico do Primal e um dos melhores da década de 90.
My brightest star’s my inner light let it guide me
Experience and innocence bleed inside me
Hallucinogens can open me or untie me
I drift in inner space, free of time
I find a higher state of grace, in my mind
(Trecho de “Higher than the Sun”)
©Juliana Knobel
Essas músicas, assim como todas as outras do álbum, serviram de trilha para muitos momentos da minha vida, tendo como ápice um show deles que vi no teatro de uma universidade em Londres. Devia ter umas cem pessoas no máximo, coisa pequena, pouquíssima divulgação, vi um flyer jogado em qualquer lugar e corri pra lá. Não tinha segurança e nada nos separava daquele pequeno palco. Coloquei minha bolsa lá em cima, aos pés de Bobby, onde eu também fiquei, hipnotizada, higher than the sun.
Quase 20 anos mais tarde, minha alegria ao saber que eles viriam tocar no Brasil mais uma vez foi a mesma dos tempos passados. Em um show realizado pelo projeto Popload Gig, vimos como a banda está com tudo em cima, com energia e carisma. Eles abriram com “Movin on Up”, com o público já na palma da mão, sedentos por ouvir “Screamadelica” na íntegra. E a partir daí foi um hit atrás do outro. E Bobby ainda está… LINDO! Desculpa, mas vai rolar uma tietagem agora. Diferentemente de muitos outros frontmen que também eram reconhecidos por outros talentos além do musical (os hoje botocados Jon Bon Jovi, Axl Rose, Simon Le Bon, Mike Patton e até Bowie), ele ainda tem sex appeal, energia e aquela voz delícia que o consagrou. E está magérrimo, bem alinhado em seu terno skinny, o equilíbrio perfeito entre o clássico, o sexy e o cool. Olha, que a moda faz muito esforço para criar imagens assim…
©Juliana Knobel
“Loaded” também foi incrível, mas foi ao final de “Come Together”, com o público cantando a capella, um dos grandes momentos do show, que terminou com a animada “Rocks”.
Nem a vontade de ser Mick Jagger tira o charme de Bobby, mas só uma coisa me incomodou: o telão não me pegou. Poderia ser melhor, assim como a iluminação. Reproduzindo imagens lisérgicas a partir do logo do “Screamadelica”, o visual traduz uma viagem que foi feita há 20 anos e não fala mais com a realidade das pessoas que viveram isso naquela época (a maioria, eu imagino).
Se valeu? Muito. Foi uma noite feliz.
©Juliana Knobel
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Após o show, o baixista Mani tocou no Alley Club