Em 2014, Juliana Jabour completa 10 anos de marca de olho nos próximos 10. Em entrevista ao FFW, a estilista revê o seu histórico profissional, desde o primeiro desfile até a coleção de Inverno 2015 que será apresentada na quinta-feira (06.11) no SPFW, e analisa o que vem por aí na próxima década: “Me vejo como uma marca menor, estabelecida, trabalhando para melhorar cada vez mais o tipo de produto que faço, para agradar ao meu público fiel”. Confira abaixo:
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“A marca já engatinhava quando eu fazia mini coleções de oito, 10 modelos para vender pra Pelu, mas foi em agosto de 2004 que fiz a primeira coleção, que começou a ser vendida em outros lugares, e o primeiro desfile. Foi quando eu realmente assumi: eu tenho uma marca, e a marca se chama Juliana Jabour. Fizemos um desfile na Vila da Pelu; foi muito legal, era um domingo à tarde, tudo low budget, com o chão coberto de eucalipto. Na sequência veio o convite pra Casa de Criadores, onde fiz duas temporadas, depois veio o convite pro Fashion Rio, onde fiquei 10 edições, e no Inverno 2011 eu vim pra São Paulo.
Esta coleção de Inverno 2015 não é exatamente uma retrospectiva dos 10 anos, mas de certa maneira não deixa de ser, porque o DNA da marca estará super presente, os elementos esportivos, as estampas gráficas. Tem uma pegada anos 1970 na silhueta, só que mais sportswear, com um olhar por Juliana Jabour. O cenário é do escritório do Houssein Jarouche com o artista plástico Abidiel Vicente – eles estão fazendo a passarela com elementos das estampas da minha coleção.
A produção continua low budget. Eu sou muito exigente, gosto das coisas caprichadas e bem feitas; olhando lá atrás, na Casa de Criadores, mesmo com tão pouco dinheiro, a gente conseguia fazer um negócio tão bonito! Mas não é que agora eu disponho. Por exemplo, na coleção passada, um dos motivos de eu não ter desfilado é que não tinha patrocínio. Fiquei arrasada; é a coisa mais importante do mundo. A visibilidade que você perde é sem noção, porque um desfile no SPFW te dá material de divulgação para seis meses.
Nesta temporada estou entrando na quarta parceria com a Evoke, em cima de um modelo deles com o qual me identifico muito, o Plays Louder 03 – uma história super gráfica que tem a ver com a coleção. Também vou lançar um brinco em parceria com a Mariah Rovery, que faz a Flex Jewels; e estou fazendo uma parceria com uma marca lá do sul muito legal chamada Di Cristalli, com dois modelos de sapatos feitos do zero. Já fiz muita colaboração, que é um desafio que eu adoro: Riachuelo duas vezes, Lancôme, Hope, Shoestock, Olook, Pony, Perky Shoes, Evoke, Sanrio, Rafael Falcci, Christopher Alexander, Brastemp, Nivea… e a Uniqlo, na Primavera/Verão 2008. Eles têm um projeto chamado Designers Invitation Project, mas em vez de fazer com estilistas consagrados, é com gente que está começando. E na época era eu o Alexander Wang, de quem sou fã incondicional, amo de paixão.
Aos 10 anos de marca, obviamente a bagagem aumenta; quanto mais você vive isso no dia a dia, mais você adquire know how, experiência, e fica cada vez melhor. Mas por outro lado é muito louco, a gente fica vendo tudo passar de camarote. Já vi o mercado incrível, já vi não tão bem assim… É uma luta diária, diferente do que as pessoas que não trabalham no meio pensam – que a gente vive no glamour, só faz desfile, tira foto com modelo. A gente tem que realmente amar o que faz, porque é uma coisa que nos consome. É uma loucura. Por ser uma marca pequena, eu acompanho todos os processos. Você não sabe o tanto de pepino que é – uma costura errada atrapalha a produção inteira!
Então a gente vai ganhando uma bagagem considerável, e vai ficando mais curtida, digamos assim. Aquela empolgação inicial vai dando uma acalmada, porque no fim das contas é um trabalho como outro qualquer, e é um trabalho que demanda muito. Mas eu amo o que faço. Às vezes imagino: “Se eu não estivesse fazendo isso, o que eu ia fazer?”. Não sei nem por onde começar. É difícil, mas na hora que bate a dificuldade, é nisso que eu penso.
Para os próximos 10 anos, quero cada vez mais fazer um tipo de roupa que eu acredito. Não que eu não precise vender, porque sem venda, a empresa não sobrevive – mas menos preocupada em pulverizar. Queria me dedicar um pouco mais à exportação, e fazer coisas paralelas – de repente assinar projetos pra outras pessoas. Quero poder, dentro do meu universo, me aprimorar cada vez mais, melhorar a modelagem, a qualidade, agregar coisas novas e diferentes a cada coleção, e trabalhar mais pé no chão, com a estrutura mais enxuta, fazendo uma produção menor pra atender esse nicho que eu sei que existe. Me vejo como uma marca menor, estabelecida, trabalhando pra melhorar cada vez mais o tipo de produto que faço, pra agradar ao meu público fiel.”
+ Veja na galeria abaixo uma retrospectiva do desfiles de Juliana Jabour no Fashion Rio e no SPFW: