Um debate sobre o empoderamento feminino pela moda lotou o salão do Bozar, o Palácio de Belas Artes de Bruxelas, principal espaço cultural da cidade. Na ocasião, celebrou-se também a abertura da exposição “The Belgians – An Unexpected Fashion Story”. O bate-papo estava lotado e com convidados como a editora Suzy Menkes e a nata da moda e da arte de Bruxelas.
+ Onze curiosidades sobre a moda belga, que ganha exposição em Bruxelas
Participaram da mesa Diane von Furstenberg (ovacionada), Anne Chapelle, investidora de marcas como Ann Demeulemeester e Haider Ackermann, e a dupla formada pela atriz Rosario Dawson e sua amiga Abrima Erwiah.
Todas as participantes atuam em projetos paralelos que, de alguma forma, beneficiam mulheres em situação de carência ou violência.
Diane é mais conhecida por ser a princesa belga que viveu o american dream e é hoje uma das estilistas e empresárias mais bem-sucedidas do mercado global. Ela se casou jovem e, como nos contou, “eu não sabia o que queria fazer da vida, mas sabia que tipo de mulher eu queria ser”. O que significa ser uma mulher independente que pudesse pagar as próprias contas. Com uma mala cheia de seus primeiros vestidos de jersey, ela foi para os Estados Unidos na década de 1970 e fez sucesso muito rápido. O resto da história a gente conhece. O que pouca gente sabe é que Diane organiza com seriedade o DVF Awards para homenagear e dar suporte a “mulheres que têm coragem para lutar, força para sobreviver e liderança para inspirar”.
+ Diane von Furstenberg em São Paulo: “Minha missão é dar poder às mulheres”
Anne Chapelle trabalhava com pesquisa sobre Aids e tuberculose na África e até hoje atua ativamente na capacitação profissional de comunidades do continente africano.
E Rosario e Abrima são sócias no Studio 189, que usa a moda como agente social de mudança e criadora de novas oportunidades. Rosario nós conhecemos pelos filmes, mas é ativista desde os 10 anos, quando atuava em uma ONG de meio ambiente. Mais velha, ela foi para o Congo trabalhar com mulheres e crianças que sofrem violência e é colaboradora da ONU. Abrima, que já trabalhou na Hermès e Bottega Veneta, trocou Nova York pela África para focar no projeto. Entre os trabalhos conduzidos por elas está o acesso à educação por meio de workshops, programas e treinamentos. Além disso, elas fundaram uma marca para criar e promover conteúdo africano, a Fashion Rising Collection, com produtos feitos localmente, mas vendidos globalmente em um e-commerce próprio. “Sempre fui ativista e esse projeto surgiu depois de uma viagem que fiz para Ruanda, onde vi coisas que normalmente só vemos em filmes”, diz Rosario.
O debate foi rico porque mostra experiências diferentes, mas eficazes em mudar o panorama social de algumas regiões africanas. “Há muita energia lá e as pessoas trabalham duro. Nós apenas amplificamos o que eles já sabem fazer. Competência e know-how é muito importante para o desenvolvimento de mulheres e crianças”, diz Rosario.
Anne trouxe para a Bélgica um grupo de Soweto para uma temporada de três meses em que eles passaram por atividades de capacitação e hoje são todos professores na África. Segundo ela, não são apenas as mulheres que são vulneráveis, e seus projetos também beneficiam homens. Neste ano ainda, Anne volta para lá para acompanhar os resultados.
Para Diane, a situação da mulher no mundo ainda está muito ruim. Em Mosul, no Iraque, adolescentes e mulheres são vendidas em jaulas por US$ 150 (cerca de R$ 470) em feiras públicas de escravos.
Com seu prêmio, ela passa uma mensagem de força e tolerância e cria uma corrente de amor, homenageando mulheres que têm usando sua experiência e influência para transformar. “Eu me sinto tão pequena perto dessas pessoas. Nós temos que acreditar que podemos fazer a diferença. Nós temos uma voz e é nosso dever e privilégio usa-la em prol de pessoas que não têm voz. Para essas mulheres, o medo não é uma opção.”
A editora Camila Yahn viajou para a Bélgica a convite do órgão Visit Flanders.