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    Conheça Goga Ashkenazi, a bilionária por trás do novo momento da Vionnet
    Conheça Goga Ashkenazi, a bilionária por trás do novo momento da Vionnet
    POR Camila Yahn

    A Vionnet é uma marca francesa, fundada em 1912, mas adormecida desde 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial. Em 2006 ela foi reativada sem muito sucesso, porém de uns anos pra cá, temos visto um certo burburinho em torno dela, um desejado revival da Vionnet, que culminou com a contratação de Hussein Chalayan como estilista da linha de Demi-Couture e, mais recentemente, também do prêt-à-porter, anunciado em 16 de setembro deste ano.

    Todo esse movimento tem um nome: Goga Ashkenazi, bilionária do Casaquistão que, em 2012, comprou uma participação majoritária na grife conhecida por sua moda etérea e arquitetônica. Bonita, exuberante e com apenas 35 anos, Goga não apenas virou a dona da Vionnet, mas também sua diretora criativa. Detalhe: ela não é estilista e sim empresária no ramo de gás, petróleo e minas de ouro.

    O mundo da moda se dividiu achando que se tratava apenas de uma riquinha querendo brincar com moda. Amiga íntima do príncipe Andrew, da Inglaterra, de Lapo Elkann, herdeiro da Fiat, e Saif Gaddafi (filho do ditador da Libia, morto em 2011), ela também é ex-mulher do bilionário Timur Kulibayev, com quem tem dois filhos e uma relação enrolada. Timur está hoje casado com a filha do presidente do Casaquistão e é o preferido para sucedê-lo. Um documento do WikiLeaks o lista como o maior controlador de 90% da economia total do Casaquistão. Goga foi até chamada de Bond Girl pela imprensa internacional.

    Para uma Bond Girl, ela tem se esforçado e seu histórico mostra que, na verdade, não tem tempo para brincadeiras (no trabalho, que fique claro). Ela cresceu em Moscou e lá viveu uma vida de luxo após o pai privatizar uma fábrica no Casaquistão e enriquecer a família. Aos 12, sua mãe disse que a mandaria para estudar com os jovens mais promissores do mundo e Goga se formou em Oxford. Aos 24, junto com seu pai, estabeleceu uma companhia de petróleo e gás no Casaquistão, a MuniaGaz Engineering Group, e virou uma das primeiras oligarcas femininas de seu país. “Também estava no ramo de minas de ouro. Ainda tenho uma parte minoritária nelas, mas não coordeno mais no dia a dia”, disse à “NY Mag”.

    Imagina então uma mulher como Gaga chegando na moda para arrematar uma das joias da moda francesa. Aos poucos, ela vai conquistando respeito e espaço, não apenas através de seu trabalho, mas também de festas-homenagens a personalidades da moda, como Olivier Zham, da “Purple Mag”, para quem ofereceu um jantar luxuoso em sua mansão. E assim, caminhando por todas as vias, ela vai abrindo seu caminho.

    Apesar de crescer no ramo do petróleo, Goga sempre soube que a moda era sua paixão. “Minha vida antiga não tinha nada a ver comigo”. Tanto que seu radar estava ligado há um bom tempo. Antes da Vionnet, ela considerou comprar a Ferre, mas achou a marca em uma situação problemática e atrasada. Então pensou na Ungaro, mas os donos haviam vendido a boutique principal em Paris e os licenciamentos. Quando ficou sabendo que a Vionnet buscava parceiros, pegou seu jato particular no mesmo instante e, no dia seguinte, assinou um contrato de interesse. “Teria pago três vezes mais o que eles me pediram”, disse.

    Nos 10 meses que precederam a aquisição, ela ficou em Florença, em uma vila de 28 quartos e afrescos de Michelangelo, onde estudou história da arte e pintura. Em Milão, onde está o HQ da Vionnet, Goga mora em um palácio de quatro andares com obras de Andy Warhol, Basquiat, Marc Quinn e Tracey Emin. Em Londres, tem uma mansão em Holland Park, avaliada em 28 milhões de libras, e onde moram seus dois filhos, de 7 e 3 anos. Nem ela nem o pai moram com eles e passam por lá apenas para visitar; Adam e Alam são criados pela avó materna. Ah, e cada um tem duas babás, uma que fala russo e outra que fala inglês.

    Quando comprou a marca, não esperava virar diretora criativa, mas uma faísca com os estilistas que então estavam lá mudou seus planos. As gêmeas Barbara e Lucia Croce tinham vindo da Prada e faziam as roupas com silhuetas mais quadradas. “Fui ao showroom e fiquei em choque. Pensei: essa não é a minha mulher”. E sugeriu que as meninas contratassem um stylist, pedido que entrou por um ouvido e saiu pelo outro. Pouco tempo depois, adeus irmãs Croce.

     

    goga e chalayan

    Goga Ashkenazi e Hussein Chalyan ©Reprodução

    Seu primeiro desfile em outubro de 2012 não foi o que podemos chamar de sucesso, não só pela coleção em si, mas pela forma como resolveu apresentar: num jantar black-tie com toda a riqueza de um verdadeiro czar. Franca Sozzani, diretora da “Vogue” italiana, não aguentou, levantou e foi embora. “Expliquei a ela que essa não é a melhor forma de fazer e que às vezes você tem que ir na ponta dos pés”, diz a expert Eva Cavalli, mulher do estilista Roberto. “Mas ela toma riscos e já levou uns tapas na cara”.

    Goga também acredita em unir forças, como fez quando contratou a ajuda de Carine Roitfeld, que emplacou a Vionnet nos tapetes vermelhos em atrizes como Amy Adams, Cameron Diaz e Claire Danes, e quando chamou Chalayan para a linha de Demi-Couture. Na época, não ficou muito satisfeita com o resultado e chegou a falar: “Ele é um gênio, mas as roupas que fez para a gente não venderam nada, nada. Nenhuma das celebridades usaram também”. Ela chegou a pensar em contratar um estilista estrela, mas colidiu com seus egos. E pensando melhor, pode ter percebido que Chalayan não é um super star da moda, tampouco um desconhecido, tem experiência e um trabalho respeitado e inteligente. Sobre sua nova chefe, ele disse a “The Cut”: “ela é cativante, particularmente pelo fato de que de fato desenha e não é apenas uma mulher de negócios. “Ela também conhece suas limitações e entende a mulher para a qual desenha”.

    + Veja as coleções da Vionnet

    Onde Goga, Chalayan e Vionnet se cruzam? Parece improvável, mas há uma interseção. Madame Vionnet foi uma visionária em seu tempo, assim como Hussein é nos dias atuais, além de ser um entusiasta da tecnologia. Os experimentos de Vionnet cortes e plissados também eram considerados revolucionários e ela era conhecida como a arquiteta dos designers. Alguma semelhança aqui? Goga, por sua vez, entra fazendo essa conexão e injetando investimento para que o trabalho criativo encontre respaldo comercial, com lojas, linhas de acessórios, campanhas vistosas, bons desfiles, etc. “Meus planos para o futuro imediato da marca são fortalecer os códigos da Vionnet e trabalhar em parceria com Hussein, que vai trazer seu olhar único e abordagem conceitual ao nosso debate criativo e juntos vamos interagir com a estética da Vionnet”, disse ao site da “Vogue” UK.

    Anteriormente, as roupas da grife eram vendidas, em sua maioria, na Europa Ocidental, mas agora, com a entrada de Goga, que cresceu em Moscou, cerca de 40% das vendas acontecem na Rússia e no Oriente Médio. O preço médio de um vestido para o dia vai de US$ 800 a US$ 1.200; os de noite vão de US$ 2.000 a US$ 5.000. Eles têm boutiques em Milão e Bucareste, e logo abrem em Paris e Nova York. E um e-commerce está para entrar no ar.

    Goga também patrocina um prêmio na escola Central Saint Martins para que os estudantes devotem mais tempo pesquisando sobre a Vionnet, e quer fazer um acervo de todas as peças já criadas pela maison: a coleção pessoal de Madame Vionnet está guardada no Louvre.

    Perguntada pelo site Fashionista se ela vai conseguir levar a Vionnet para outro patamar, ela responde: “Outras pessoas tentaram, mas eu sempre digo: ou vai acontecer ou eu vou morrer tentando, porque esse é um sonho para a vida toda”.

    Nos anos 20, a loja de Madame Vionnet na Avenue Montaigne, em Paris, era considerado o templo da moda, vamos observar e ver se Goga e Chalayan têm o que é necessário para fazer essa conquista. E mais, se o introspectivo designer vai conseguir passe livre para mostrar sua visão para uma marca de 100 anos sob o controle da incansável Goga Ashkenazi.

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