O FFW selecionou seis fotógrafos como aposta de 2016. Eles têm histórias e estilos diferentes, mas estão começando a pegar trabalhos relevantes no mercado, trazendo frescor a diversas publicações.
Assim como notamos em matéria sobre uma nova geração de estilistas publicada na FFWMAG, essa turma vem despida de vícios. Buscam ser verdadeiros com seu olhar, sua principal ferramenta de trabalho, e produzem muitos trabalhos autorais, não para publicação, mas para o exercício da fotografia.
Outra coisa interessante é que eles são bons em vários tipos de fotografia. Eles não ficam presos ao que consideram ideal, ao contrário. De backstage a editorial de moda, passando por streetstyle e retratos, eles fotografam com gosto e personalidade. São muito inspirados pelas ruas e a cultura e o cotidiano jovens têm grande influência em seus trabalhos.
Muitos deles publicaram suas primeiras imagens no FFW e na FFWMAG e outros veículos independentes, como U-mag e Made in Brazil, que abrem espaço para talentos da nova geração e dali, são absorvidos pelo mercado. Revistas como “Vogue” e “L’Officiel”, e grandes marcas como Adidas, já têm alguns desses nomes em seu radar. O mercado de revistas independentes na Europa também são outro canal e alguns deles publicam com constância em revistas alemãs, inglesas, dinamarquesas e suíças.
Abaixo, conheça um pouco mais sobre o ex-diretor de arte Adriano Damas, o ex-office boy Alex Batista, o ex-designer gráfico Eudes de Santana, o ex-estudante de Comércio Exterior Gleeson Paulino, o ex-jornalista Hick Duarte e a ex-estudante de cinema Josefina Bietti (que nasceu na Argentina, mas vive há anos no Brasil). Agora todos fotógrafos e a turma que está dando cara nova à fotografia de moda no país.
Adriano Damas, 35 anos
Como começou: “Trabalho com imagem de moda fazendo direção de arte há 10 anos, mas sempre senti vontade de clicar os projetos nos quais estava envolvido. Em 2011 comprei uma câmera profissional e comecei a fotografar editoriais de moda para algumas revistas independentes, pro FFW, U+mag e algumas revistas de fora do Brasil, como “S Mag” (Dinamarca), “Used Mag” (Inglaterra). Nesse mesmo período comecei a fotografar as campanhas do Vitorino Campos, foram seis no total, e um aprendizado e tanto criar as campanhas com ele. Como diretor de arte criei campanhas e editoriais com alguns fotógrafos, como Rogério Cavalcanti, Eduardo Rezende, André Schiliró. Tínhamos um projeto, discutíamos as ideias, e eu acompanhava o shooting. Então, como já tinha essa experiência de funcionamento do set fotográfico, optei por não ser assistente e partir direto como fotógrafo”.
Principais trabalhos: Campanhas para Vitorino Campos, Cavalera, Morena Rosa, Valisere, ensaios para FFW, FFWMAG, U-Mag, Made in Brazil, L’Officiel.
Equipamento: Canon Eos 1ds Mark 3 de 21 mgpx
Como define seu estilo: “O que me influência sobretudo é a arte pré-rafaelita e renascentista x as pessoas do meu cotidiano e cultura urbana em geral, por isso acredito que o meu estilo seja artístico e natural, simples. Gosto quando a minha fotografia fica com aspecto amador, instantâneo, real. Se você consegue reunir essas características em uma foto e mesmo assim ela ser impactante e bela, ai você criou uma boa imagem”.
Veja os ensaios de Adriano publicados no FFW: Before Sunset, Hidden Sides e Daiane
adrianodamas.com + @adrianodamas
Alex Batista, 30 anos
Como começou: “Desde a escola gostava de como as pessoas se ‘comunicavam’ por meio das roupas que vestiam. Estudei sempre na mesma escola estadual onde, por muitos anos, todo mundo usava uniformes. Então, as poucas formas de mostrar a nossa personalidade era, ou através dos cortes de cabelo ou dos tênis que a gente usava. Assim, era fácil saber quem era da turma dos skatistas, do futebol, dos surfistas, dos clubbers… Na época, eu não entedia muito bem sobre isso, mas era como eu percebia a moda.
Primeiro, me interessei pela fotografia de skate, onde acompanhava o trabalho dos fotógrafos que gostava, como o Flavio Samelo, Shin Shikuma e o Alexandre Vianna. Em 2004, a Trip publicou um editorial em que os modelos eram os próprios fotógrafos que fotografavam uns aos outros. Henrique Gendre fotografando o Duran e vice-versa, Klajmic, o Abujamra, etc. Junto das fotos, tinha uma mini entrevista com cada um. Foi a partir daí que realmente decidi trabalhar com fotografia.
Entre tomar a decisão e realmente carregar o primeiro tripé como assistente, levou uns dois anos. Eu trabalhava como office boy na parte comercial da TV Globo e fiquei ensaiando durante um ano todo para pedir para ser demitido e, com o dinheiro da demissão, começar a me manter como autônomo.
Nessa época, eu já ficava meio que “stalkeando” os fotógrafos que eu gostava para tentar trabalhar com eles. O primeiro que me deu oportunidade foi o Marcio Simnch. Depois, o Gustavo Zylberstajn com quem eu trabalhei fixo durante quase cinco anos. Nesse meio tempo, trabalhei também com o Daniel Klajmic.
Em 2010/2011, ainda trabalhava como assistente e tentava começar a fotografar por conta própria. Perguntei para a stylist Letícia Toniazzo se ela não poderia me apresentar ao então namorado dela, na época, o Marcelo Gomes. Ela nos apresentou e eu comecei a assistir ele sempre que vinha ao Brasil. Em uma das campanhas que ele fotografou, conheci a Ciça Pinheiro, responsável por toda a direção de criação da Editora Trip. Conversamos e ela quis ver o meu portifólio. A partir daí, comecei a fotografar regularmente para editora e foi onde tudo começou de verdade”.
Equipamento: “Gosto muito de fotografar com filme e polaroid ainda, mas não é sempre que dá pra aplicar em um trabalho comissionado. No dia a dia, fotografo praticamente com câmeras digitais. Fotografo muito com câmeras “point and shoot”, tenho algumas de filme e recentemente comprei uma digital que eu posso transferir as fotos direto da câmera para o celular, sem ter que passar pelo computador. Lembro do meu primeiro retrato comissionado. Estava totalmente focado no equipamento e em como as pessoas iriam me dar crédito por estar “bem equipado”, que eu acabei esquecendo de criar qualquer relação com a pessoa que estava fotografando. Era um vício do tempo que eu fui assistente e os fotógrafos com quem eu trabalhei sempre tinham muitos equipamentos, então eu também deveria ter. Era óbvio que não iria dar certo. A foto está na nossa cabeça antes de tudo, então não importa se vai ser com muito equipamento ou apenas com o celular. Com a ferramenta que tiver na mão, você sempre vai extrair o melhor que puder”.
Principais trabalhos: Campanhas para Vitorino Campos, Cris Barros, Talie NK, Nike, retrato de Mario Testino e Giovanni Bianco pra FFWMAG e ensaios para TPM.
Como define seu estilo: “Não sei bem definir qual é o meu estilo. Tenho algumas referências do que eu gosto e que uso como ponto de partida, mas não é necessariamente uma regra. Hoje, cada vez mais, gosto de estar leve fotografando. Sempre que puder, uso luz natural e o flash próprio da câmera. Quanto menos “circo” tiver ao meu redor, mas vou conseguir focar na direção, na ideia da foto. Isso é o que eu acho mais importante”.
alexbatista.com + @batista.alex
Eudes de Santana, 31 anos
Como começou: “Comecei a trabalhar como fotógrafo ainda durante minha graduação de Design Gráfico na UEL, em Londrina, no Paraná. Estudamos várias disciplinas distintas durante o curso e cada aluno se identifica com alguma delas para se aprofundar posteriormente, e foi isso o que aconteceu comigo e a fotografia. Pedi demissão da agência de publicidade em que trabalhava para me dedicar exclusivamente a fotografia, mas foi mesmo quando me mudei para Barcelona para fazer minha pós em fotografia que meu trabalho começou a tomar forma e identidade. Depois de lá, fui agenciado na Alemanha, agência em que estou até hoje. Nunca trabalhei de assistente para outro fotógrafo. Muitas vezes me arrependo disso, mas por outro lado tenho certo orgulho de estar construindo minha carreira a minha maneira”.
Principais trabalhos: Capa da FFWMAG com Gisele, Serafina, Vogue, Vice Magazine, campanhas para Nike.
Equipamento: “Fotografo em filme 35mm e digital. Uso sempre lentes 35mm Carl Zeiss e Leica. Câmeras Contax G1 e Leica M6 para filme e Sony a7r para digital”.
Como define seu estilo: “Definir o estilo é muito complicado, mas o que eu posso dizer é que gosto do contato direto com meu subject. Evito grandes props para me sentir livre e me mover bastante, intimidando o menos possível quem estou fotografando. Com isso fica mais fácil de conseguir um ambiente tranquilo no set e o fotografado naturalmente transparece isso nas imagens.”
eudesdesantana.com + @eudesdesantana
+ Leia sobre a primeira exposição individual de Eudes
Gleeson Paulino, 27 anos
Como começou: “Fui morar em Viena com 17 anos. Comecei a faculdade de Comércio Exterior no Brasil, estava um ano adiantado. Tranquei, porque não sabia se era isso mesmo que eu queria. Foi daí que surgiu a oportunidade de ir pra Viena, onde fiquei cinco meses aprendendo alemão. Depois, fui morar em Londres, onde fui babá de um golden retriever. Nos primeiros meses minha adaptação foi difícil, eu não conhecia absolutamente ninguém. Mas aí conheci as pessoas certas e nunca mais quis sair de lá. Fiquei lá até 2011, sete anos que mais parecem uma semana. Foi tudo muito intenso. Sempre gostei de fotografia. Aos 12 anos, eu já curtia fotografar, mas nunca havia pensado que poderia levar isso como carreira. Em Londres, tudo mudou. Tenho sete anos registrados de Londres. Fotografava cenas do cotidiano, amigos, festas. Em 2009, me chamaram pra expor no Favela Chic de Shoreditch e na vernissage compareceu muita gente e vendi várias fotos naquela noite. Foi a partir daí que eu comecei a achar que minhas fotos tinham valor e que poderia levar isso mais a sério”.
Equipamento: “Sempre fotografei com Canon (digital) e Sigma (analógica), mas na verdade nunca me importei com marca ou tipo de câmera, acho que a fotografia está muito no olhar, independente do equipamento”.
Principais trabalhos: Campanhas para a marca João Pimenta, ensaio com Thairine para a FFWMAG 41 em parceria com o fotógrafo Rafael, revista 7/A de cinema, retrato junto com Matthew Zorpas para o blog The Gentleman. “E minha última viagem recente pelos os EUA, que durou três meses na estrada onde conheci pessoas especiais. Todos esses trabalhos foram super gratificantes e importantes na minha carreira até o momento, pois foram pessoas que acreditaram, me inspiraram e sempre me apoiaram”.
Como define seu estilo: “Acho que minhas imagens são um pouco dreamy, me inspiro muito em pinturas do século 17 e 18, luz e detalhes. Tento sempre trazer um ar de mistério e curiosidade para minhas imagens”.
gleesonpaulino.tumblr.com + @gleesonpaulino
Hick Duarte, 25 anos
Como começou: “Estudei Jornalismo em Uberlândia (MG), minha cidade natal, e minha primeira relação mais orgânica com a fotografia aconteceu na faculdade, nas aulas de Fotojornalismo. Como comunicador, sempre me interessei em escrever sobre cultura ou comportamento. A minha ideia inicial era unir essas duas áreas (fotografia e jornalismo) e produzir as imagens que ilustrassem os meus textos – fazer as fotos de um show que eu resenharia, por exemplo. Nesse cruzamento de disciplinas acabei me descobrindo mais fotógrafo do que jornalista. Mais interessado em documentar do que em narrar, do que analisar usando as palavras. Então comecei fotografando festas, festivais de música e moda independente. Durante três anos fiz parte do coletivo I Hate Flash, onde trabalhei ao lado de fotógrafos do Rio e de São Paulo na cobertura de festivais e semanas de moda”.
Principais trabalhos: Retratos de Paulo Mendes da Rocha, Ronaldo Fraga e Rico Dalasam para FFWMAG, trabalhos para Adidas, Cotton Project, Marina Abramovic Institute, as exposições Youth (leia aqui a notícia completa), que documenta jovens até 20 anos e Old Souls, com dípticos que relacionam paisagens e idosos que fotografou em viagens pelo mundo.
Equipamento: “Para a maior parte dos meus trabalhos, uso a Nikon D750. Para os projetos autorais ou os comerciais com uma liberdade artística maior, uso a analógica Nikon FM2. Eventualmente também uso uma filmadora VHS antiga (JVC) pra alcançar uma estética low resolution específica”.
Como define seu estilo: “Acho difícil essa parte de descrever o meu estilo, mas acho que as palavras que melhor resumem talvez sejam ‘raw, minimal e experimental'”.
Josefina Bietti, 31 anos
Como começou: “Comecei a fotografar enquanto estudava cinema em Buenos Aires. No início, trabalhei mais no universo da fotografia artística, mas depois comecei a me interessar pela moda. Trabalhei como assistente na Argentina pra uma fotógrafa chamada Candelária Gil. Quando cheguei em São Paulo, fiz algumas assistências pra o Jaques Dequeker e para o Fábio Bartelt.
Equipamento: “Fotografo com a Canon 5D mark III, mas pra meus trabalhos autorais e fotos de natureza e paisagens, uso a Pentax k 1000 de filme.
Principais trabalhos: FFWMAG 41, “L ‘Officiel Brasil”, Trailer Mag, Mais55 Mag, Serafina.
Como define seu estilo: “Minimalista, fresco e contemporâneo”.
Veja os ensaios de Josefina publicados no FFW: Glitter, Rough Touch, Somewhere, Confissão e Colors