Por trás da criatividade de Demna Gvasalia, há o talento para negócios de Guram Gvasalia. CEO da Vetements, o irmão de Demna é o responsável pela estratégia comercial da marca que em dois anos saiu do underground e se transformou na grande esperança de mudança do sistema da moda atual. “Para construir um negócio na moda são necessárias as mentes criativa e de business, e quem acha que pode fazer os dois acaba falhando”, contou Guram, em entrevista à i-D. O CEO organizou, há cerca de duas semanas um evento com Sarah Mower, editora da “Vogue” americana, em que convidou centenas de estudantes de moda de várias escolas britânicas, incluindo a London College of Fashion, onde estudou, para o talk “Collective Action”, realizado durante a reinaguração da Dover Street Market, em Londres.
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Na entrevista que Guram deu à i-D, depois do evento, ele justifica o anúncio recente da Vetements de mudar a data de seus desfiles, que acontecerão, já este ano, em junho, e com masculino e feminino dentro da mesma apresentação. “Hoje o varejo gasta de 70% a 80% do seu budget nas pré-colecões. As coleções principais se tornaram menos relevantes. O motivo disso é o ciclo de entrega das roupas. As coleções desfiladas em março são entregues no fim de julho, no melhor dos casos. Diferentes circunstâncias fazem com que algumas cheguem às lojas em setembro, outubro. As lojas entram em liquidação logo depois do feriado de Thanksgiving (final de novembro). No fim as coleções principais ficam nas lojas uma média de oito semanas, contra as 24 semanas de vendas das pré-coleções. Adiantar o lançamento das principais coleções para janeiro ao invés de março, dará a elas uma sobrevida de exposição de dezesseis semanas, ou quatro meses [ele se refere, aí, às coleções de verão, que mostradas em junho, no caso da Vetements, não em setembro na semana de Paris, podem chegar às lojas em janeiro, no lugar de março, o que acontece atualmente].”
A falência do sistema de moda atual foi citada em vários momentos, inclusive para mostrar a importância do talk com estudantes feito por ele em parceria com Sarah Mower. “A indústria está confusa e ainda lida com regras criadas há décadas e que agora estão ultrapassadas e irrelevantes para o mundo real”, acredita. Onde reside o principal problema? “O sistema é desnecessariamente complexo. ‘A demanda supre a procura’ é uma regra dos negócios que a indústria parece negligenciar. A superprodução é um grande problema. Por exemplo, se algo vai para a liquidação, significa que foi superproduzido e a demanda precisa ser reduzida de forma que case com a procura.” Gunram termina seu raciocínio com uma dica para nós, consumidores de moda, que também podemos fazer a nossa parte. “Pare de comprar coisas desnecessárias e comece a comprar roupas que você possa usar por anos. Fique longe do fast fashion e comece a procurar por qualidade, alimentando a ideia do slow fashion.”