Até alguns anos atrás, pensar em Tod’s era remeter a tradicionais e atemporais mocassins, do famoso Gommino, aquele com as bolinhas (são 133, inseridas manualmente) na sola criado nos anos 70 pela marca aos diferentes tipos de loafers. Desde que Alessandra Facchinetti assumiu a direção criativa da grife em 2013 (coincidentemente o mesmo ano em que a Tod’s abriu sua primeira loja no Brasil), essa imagem tem mudado. A marca registrada da Tod’s continuam sendo os acessórios, mas a estilista, ex-Valentino e ex-Gucci, modernizou sapatos e bolsas, dando uma injeção de contemporaneidade cool totalmente desejável à grife, mudança catapultada nos desfiles da grife, que ganharam o apelido de “Céline de Milão”, dado por Suzy Menkes, tamanha é a expectativa que a designer conseguiu gerar com suas coleções que traduzem conceito de moda de maneira feminina e usável, como Phoebe Philo faz com seus shows em Paris.
+ O desfile da Tod’s para o Inverno 2017
+ O desfile da Tod’s para o Verão 2016
“A dificuldade era traduzir este lifestyle dos sapatos e dos acessórios para a roupa, algo que Alessandra Fachinetti tem conseguido com muito sucesso”, conta Claudio Castiglione, em entrevista ao FFW. Gerente geral mundial da Tod’s, o italiano chegou nesta segunda (11) ao Brasil para participar do evento Artisan Set, que acontece nesta terça (12) na loja do shopping JK Iguatemi, uma das duas da grife no País (a outra fica no shopping Cidade Jardim, SP). “A força da marca está em prestar atenção nos detalhes, criando um produto com um know how que não se pode comprar, que é adquirido com muita experiência e passado de pai para filho. E é um desses artesãos que trabalham com a gente que trouxemos para o Brasil para que ele mostre algumas etapas desse processo artesanal de confecção de um sapato”, diz Castiglione, sobre a ação que inclui ainda a gravação das iniciais dos nomes dos clientes em acessórios, durante o coquetel de lançamento do Verão 2016 da grife.
Com o DNA calcado no processo artesanal, a Tod’s se orgulha em ressaltar que todos os seus sapatos e bolsas são feitos artesanalmente (são usadas máquinas em alguns processos, mas sempre executados por um artesão, nada é automatizado). O couro é comprado em outros países mas os produtos são 100% confeccionados na Itália. Num momento da moda em que a velocidade de produção é enorme, a oferta idem, e as pessoas começam a voltar a valorizar movimentos como o “slow fashion”e o conceito do artesanal e do exclusivo, a grife investe ainda mais nas suas raízes. “Como temos nossas próprias fábricas – na região de Marche, no centro da Itália – podemos desenvolver nosso negócio de maneira mais lenta, porém de forma que os clientes queiram nos seguir.”
Assim, a Tod’s aposta na modernização da imagem de seus acessórios com uma estilista que deu vida a um novo segmento para a grife, o das roupas, por enquanto vendidas no e-commerce próprio, no Net-a-Porter e em 25 lojas físicas da Tod’s pelo mundo e com planos de chegar ao Brasil (talvez já a partir do ano que vem, ainda sem confirmação). Junto a isso, a outra estratégia é a da aproximação com a arte.
Filho do fundador da Tod’s, que começou a marca nos anos 1920, Diego Della Valle é hoje o CEO da grife e do grupo, que inclui as empresas Hogan e Fay. Um dos bilionários listado na Forbes e uma das trinta maiores fortunas da Itália, Della Valle anunciou o seu maior investimento no mundo das artes em 2011, ao patrocinar a restauração do Coliseu, doando 25 milhões de euros para o projeto, com abertura para visita do monumento este ano, nos próximos meses. Em 2010, fez colaboração com o centenário La Scala de Milão e patrocinou um balé com o corpo de baile do teatro, que contava a trajetória do processo artesanal da confecção de um sapato. O mais recente desfile da grife, para o Inverno 2017, contou com performance da artista Vanessa Beecroft. “Queremos mostrar o processo artesanal de uma maneira artística, por isso a partir de agora a ideia é sempre fazer parcerias com artistas nos desfiles, além de outras ações com arte”, conta Castiglione, que aponta o fotógrafo, ilustrador e diretor de arte Jean-Paul Goude, famoso por campanhas como a do perfume Candy, da Prada, e mais ainda por sua parceria com Grace Jones, como a provável próxima colaboração de passarela da grife.
Sobre a adequação aos novos tempos virtuais da moda, Castiglione salienta a importância das mídias sociais mas aposta apenas no Instagram e no Facebook para a Tod’s, e prefere usar o site da marca para promover muitas de suas ações. O “see now, buy now” (a coleção à venda imediatamente depois do desfile) também não está nos planos da empresa. “Fizemos uma ação isolada no último desfile: produzimos dez bolsas da coleção de passarela e vendemos logo após o show no site. Mas foi mais um jogo, uma brincadeira, do que uma nova diretriz.”