Nascido na Rússia ainda comunista, sem formação acadêmica em moda e com uma estética que mistura a velha União Soviética, sua reação ao capitalismo pós 1991 e a descoberta das influências do resto do mundo, Gosha Rubchinskiy é, hoje, um dos hot tickets do momento, parte do time russo que vem chacoalhando a moda internacional nos últimos anos, tendo como nome principal player Demna Gvasalia, da Vetements (e, desde a última temporada feminina, diretor criativo da Balenciaga). Natural, portanto, que seu desfile para o Verão 2017 na Pitti Uomo, na última quarta (15), tenha causado burburinho.
Gosha escolheu uma antiga fábrica de tabaco desativada em Florença (onde acontece a feira) para sua apresentação. Seu estilo, definido pela imprensa interncional de maneira elogioda como “pós-Soviético”, traz a alma que vem das ruas, mas ele parece querer transpor essa referência. “Todo mundo está cansado do streetwear. Esse é o momento dos ternos”, disse o estilista ao site da Dazed.
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De fato, as influências mais fortes dessa coleção vêm da alfaiataria e do esporte, representado por agasalhos, conjuntos de jogging e shorts das marcas FILA e Kappa, embora a imagem final tenha um apelo de look cool europeu das…ruas. Sua primeira coleção, lançada em 2008 com o nome de Evil Empire, já trazia elementos claramente esportivos, vindos especialmente do atletismo, do ambiente dos vestiários mesclados à cena noturna. “Dois anos depois todos os jovens de Moscou e São Petersburgo se pareciam com aquela imagem. Nós prevemos esse momento e agora é o principal estilo de street style na Rússia”, disse certa vez.
Com casting de amigos e da agência russa de streetcasting Lumpen, o desfile de Gosha trouxe, mais uma vez, as referências a seu país, das frases em russo estampadas nas camisetas ao vermelho da bandeira. Mas nada é e nunca foi literal em sua moda, que traz um mix da vibração de cores vivas contraposta à uma estética crua decadente: é como olhar para um foto antiga desbotada, de 30, 40 anos atrás, e sentir um misto de sedução pelo passado romantizado e repulsa por seu caráter ultrapassado, inadequado aos novos tempos.
Essa vontade de olhar para o passado para compreender o presente – e vislumbrar o futuro – também aparece na inspiração do estilista para a coleção: as fotos de seus amigos mais jovens (ele tem 31 anos) que, cansados do que é considerado “popular”, têm usado marcas esportivas antigas consideradas antiquadas. Algo parecido com o que fez o hip hop no fim dos anos 70 ao transformar os abrigos Adidas, antes looks de vovôs, em peças trendy de garotos cool que dançavam nas ruas uma jovem e nova cultura que estava surgindo e revolucionaria a moda e a música.
Um mix de Itália e Rússia apareceu tanto na coleção – com menção à alfaiataria e às grife esportivas italinas Fila e Kappa – quanto na trilha sonora, assinada por Buttechno (aka Pavel Milyakov), artista baseado em Moscou, com um voice over de uma gravação do cineasta e escritor italiano Pasolini declamando poemas de sua autoria.
Fotógrafo e também cineasta – Gosha chegou a pensar em abandonar a moda por falta de estrutura para produzir suas roupas, até que a Comme des Garçons se ofereceu para executar essa parte -, o estilista apresentou, depois do desfile, um filme feito em parceria com a cineasta russa Renata Litvinova, um conto de fadas neo-realista sobre sexo, voyeurismo e morte, filmado num prédio abandonado.