Prêt-à-porter ou alta-costura?
A primeira pergunta que não quer calar sobre o desfile da Vetements durante a semana de alta-costura de Paris é: aquele streetwear, mesmo que tão bem feito, é alta-costura? Fato é que a Vetements é convidada pela semana de couture de Paris e figura no calendário do site oficial da Federação Francesa de Alta-Costura. As regras rígidas para pertencer à Câmara Sindical da Alta-Costura de Paris – e o que dá apenas aos seus integrantes a autorização para usar a denominação “alta-costura” – não se aplicam aos convidados, e é nessa categoria que o coletivo francês “antimoda” mais na moda do momento se encaixa.
+ Veja a coleção completa da Vetements desfilada durante a semana couture de Paris
Locação
Há muita ironia na moda que o coletivo Vetements criou para ser “antimoda” e que hoje dita tendência no high fashion parisiense e mundial. A logomania, algo supercapitalista, é usado com marcas clássicas mas nada fashion, como a esportiva Champion, que reaparece nesta coleção. Nessa temporada, a marca deu um passo a mais e fez colaborações com uma infinidade de grifes. E da mesma maneira que a coleção é multimarcas, o endereço escolhido funciona da mesma maneira: os corredores da loja de departamentos Galeries Lafayette, com os corners de outras labels como cenário.
Diversidade
Criticado na temporada passada de Paris por não incluir um só modelo negro tanto no desfile da Vetements como da Balenciaga (da qual agora é diretor criativo), Demna Gvasalia tratou de se preocupar com a diversidade no casting, que teve modelos afro-descendentes homens e mulheres.
Colaborações
Demna Gvasalia e o grupo de estilistas que compõem a Vetements trabalharam com 17 colaborações de marcas de high fashion, jeanswear e grifes mais populares, como Juicy Couture, Manolo Blahnik, Levi’s, Hanes e Reebok. Para cada uma, encomendaram o que consideram seu expertise. A Hanes, então, fez camisetas, a Levi’s, os jeans, Manolo Blahnik, escarpins, a Brioni a alfaiataria. Tudo, no entanto, ganhou uma versão Vetements. “A gente recebia as peças, cortava tudo, mandava de novo e recebia emails chocados que diziam, basicamente: ‘O que aconteceu?'”, diz Gvasalia ao NYT, acrescentando que todo mundo concordou com as modificações. Um dos destaques são os agasalhos da Juicy Couture, com o logo da grife nas mangas ou na bunda, transformados em segundas peles justas, com top e calças usados juntos criando um efeito de macacão.
Caminho genderless
A silhueta super ampla, a camisaria e os códigos do streetwear contribuem para um caminho de roupa realmente sem gênero. Não aconteceu em toda a coleção – há vestidos superfemininos e peças como as da Juicy Couture também com bastante cara de mulher -, mas em vários momentos dá para ver o look sendo usado por mulheres ou homens, e não porque são peças masculinas que as garotas podem usar para fazer um gênero, mas porque são roupas realmente de gênero indefinido.
Botas
As botas de cano altíssimo viraram marca registrada da Vetements, e nesse desfile alcançaram um nível que chegam à cintura, sendo confundidas com calças de cintura alta. Num bom truque de styling, um dos pares é usado dobrado, ficando na altura do joelho, e o outro na altura da cintura.
Manolo Blahnik
O sapateiro famoso pelos modelos sexy e de salto altíssimo e que ganhou fama mundial no seriado “Sex and the City” topou a parceria inusitada com a grife de streetwear cru e bem diferente de seu estilo. Criou bonitos escarpins azuis e, segundo Gvasalia, aceitou de bom grado as intervenções anunciadas. Algo como “queimar” e “ferver” os sapatos!
Lotta Volkova
A stylist russa, amiga de Demna Gvasalia, além de assinar o styling do desfile também entrou na passarela como modelo, a exemplo da temporada passada.