Umas das primeiras peças produzidas por Elsa Schiaparelli foi um suéter de tricô com um laço branco trompe-l’oeil. Sempre interessada no humor, seja ele sombrio ou não, a couturière italiana captou o mood surrealista em suas criações inspiradas pela obra de alguns artistas. Na década de 1930, ela criou um chapéu-sapato inspirado num desenho de Salvador Dalí. Não demorou para que a simbiose do espírito criativo de ambos acontecesse: juntos, eles fizeram uma das primeiras colaborações entre moda e arte – essas que, atualmente, são tão comuns.

Schiap transpôs em roupas e acessórios – peças de Alta Costura, na grande maioria – reflexões sombrias de Dalí sobre o tempo e a condição humana. O resultado dessa parceria inclui algumas criações icônicas na história da moda, como o Chapéu Costeleta de Carneiro; o Vestido Esqueleto, da coleção Circus, em crepe de seda, no qual sobressaía, nas costas, a simulação das costelas e a espinha dorsal produzida pelo método de acolchoamento trapunto; e o Vestido Lágrimas, feito com o marocain, um tipo de crepe de seda com o qual ela usou uma estampa de carne dilacerada de Dalí, acompanhado pelo véu com aplicações de tecidos que simulavam lágrimas rosa e abstratas.

Vestido Lagosta ©Cortesia The Dalí Museum

Um dos mais famosos, o Vestido Lagosta foi usado por Wallis Simpson nas fotos tiradas por Cecil Beaton pouco antes de seu terceiro casamento, quando ela se tornou a duquesa de Windsor. Essas fotos contribuíram para dar destaque a Schiap, fazendo com que outras importantes mulheres usassem suas criações, como Mae West e Marlene Dietrich, que dizia: “Visto-me pela imagem. Não para mim mesma, não para o público, não para a moda, nem  para os homens”.

A Maison Schiaparelli fechou as portas em 1954. Mais de 60 anos depois, em 2012, a Maison foi reaberta no mesmo endereço, número 21 da Place Vendôme, em Paris. No mesmo ano, Anna Wintour usou no MET gala do Costume Intitute, em NY, uma releitura do Vestido Lagosta feita por Miuccia Prada, na abertura da exposição Impossible Conversations, que justapôs o trabalho dessas italianas.

Essas e outras peças, como acessórios de Alta Costura, joias, pinturas, desenhos, objetos e fotos, estarão à mostra, a partir do dia 18 de outubro deste ano, no The Dalí Museum, em Flórida, EUA. Imagination and Daring: Dalí and Schiaparelli é a primeira exposição que visa explorar a profícua parceria entre o espanhol e a italiana.

“Estamos honrados em trazer essa visão e trabalho de Elsa Schiaparelli para o Museu, não só como colaboradora e confidente de Dalí, mas também como outro exemplo de mulher dinâmica, cuja produção e estética constituíram uma força cultural”, disse o diretor do museu, Hank Hine. “Tendo inaugurado recentemente a exposição Frida Kahlo no Dalí Museum, que apresenta o trabalho dolorosamente belo da artista mexicana, encontramos um tipo de ressonância entre essas duas mulheres icônicas: ambas refletiram e influenciaram o zeitgeist nos tempos em que viveram”.

Imagination and Daring: Dalí and Schiaparelli estará em cartaz no The Dalí Museum a partir do dia 18 de outubro e permanece até 14 de janeiro de 2018.