A vida fragmentada
Miuccia Prada contou aos jornalistas presentes que se sentiu presa entre a humanidade e a realidade virtual. “Você tem que abraçar o novo mundo, mas não quer perder sua humanidade essencial”, disse ao editor Tim Banks, do BoF. “Você junta as duas coisas ou as mantém separadas? O mundo inteiro está se deparando com essa questão”. Para traduzir essa inquietação, ela olhou para algo que nunca deu muita bola: quadrinhos. Esse é um ótimo exemplo que mostra porque suas coleções andam entre a beleza e a estranheza, o novo e o retrô, o feio que é bonito ou o bonito que é feio. Miuccia não tem preconceitos; sua mente é livre ao ponto dela se inspirar em algo que não gosta porque, em algum momento, conseguiu fazer a conexão entre essa coisa (no caso, os quadrinhos) e seu pensamento atual. “Eles são feitos à mão, são simples e reais. Mesmo quando contém as piores fantasias, ainda parecem simples. São pequenos fragmentos da vida, que é exatamente como você absorve informação hoje. Então fui ficando cada vez mais atraída por eles, mesmo nunca tendo gostado antes”.
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Artistas convidados
E essa atração foi definitiva para a coleção, tanto que a marca convidou dois artistas para traduzir graficamente, através das histórias em quadrinhos, seu estado de espírito. Os desenhos do belga Ollie Schrauwen e do taiwanês James Jean estão na cenografia (chão, parede e teto), em macacões, camisas e bolsas não apenas em sua estética fragmentada e confusa, mas também na fonte como o nome Prada aparece em algumas peças. A eles, Miuccia pediu: “façam suas histórias, mas tragam o toque humano e não o do super herói”.
Macacões
Um dos destaques da coleção é o macacão, que tem esse caráter humano; é a roupa-uniforme associada ao trabalhador, ao fazer. Sua simplicidade encantou Prada, que fez do macacão sua obsessão atual. “Estou louca por eles. Me apaixonei, provavelmente porque são simples”. De 43 looks, 18 são macacões, de cores e materiais variados e ainda um inteiro estampado com quadrinhos. Em todos os momentos, aparecem com camisas de golas pontudas por baixo. E para quebrar o visual construído na simplicidade, alguns looks traziam casacões mais pesados por cima.
Golas
As golas ganham um novo papel na alfaiataria da Prada – ou apenas uma boa sacada de styling (descobriremos em breve!). O fato é que elas estão em evidência total nesta coleção. A camisa, um dos itens mais básicos do guarda-roupa masculino, desempenha exatamente esse papel: o de uma peça simples e fácil; às vezes mal aparece, levando o olhar para as golas levantadas e o jogo de cores e padronagens entre as peças de cima.
Quando o verão chegar
Vale mencionar. Os shorts, bem curtinhos, parecem mais difíceis para o consumidor “comum” da marca, mas facilmente agradam os fashionistas. No desfile, eles compõem looks importantes e são usados com trenchcoats e meias longas.
De dentro pra fora
As etiquetas que antes ficavam do lado de dentro, agora estão para fora. E não apenas no desfile masculino. A marca divulgou recentemente em seu perfil no Instagram a #PradaEtiquette, que questiona o papel do logo enquanto símbolo de status. A etiqueta icônica hoje está dentro e fora das peças da grife e mostra a relação entre marca e produto.
O que vai pegar
E como estamos falando de Prada, há uma imensa variedade de acessórios. De sapatos, meias, cintos e bolsas (ótimas as que remetem aos anos 70, mas que também foram usadas muito nos 90). Esses sim, certamente veremos em quantidade pelas ruas mundo afora, especialmente os que têm intervenções gráficas.