Quando as diretoras Tina Brown e Dyana Winkler resolveram fazer um documentário sobre patinação, elas não imaginaram o universo que surgiria ao longo do caminho. A ideia por trás de United Skates, que venceu o Prêmio do Público no Tribeca Festival, seria fazer um filme para preservar a patinação que, para elas, parecia o último sopro da era disco.
Até que um dia, em uma conversa com dois patinadores, eles falaram: “a patinação não vai morrer, ela vai permanecer no underground. Se vocês querem ver o que é patinação de verdade, tem que vir com a gente”. Foi a porta que abriu para mostrar a enorme influência que as pistas de patinação tiveram na cultura hip hop.
Elas entraram em um ônibus com os meninos em direção a Richmond, Virginia, e foram direto para uma festa. “Assim que a porta abriu, vimos que havia milhares de patinadores lá. Foi quando entramos no universo do que virou esse filme”, diz Tina à revista i-D. Naquela mesma noite, elas perceberam que havia gente de muitos outros lugares como Atlanta, Detroit, Chicago, Nova York e Los Angeles porque os rinques de suas cidades haviam sido fechados. Aí sim, elas tinham uma história para contar que ia muito além da patinação em si.
United Skates mostra como as pistas de patinação nos EUA prosperaram por décadas como incubadoras da cultura hip-hop. “Descobrimos que muitos artistas começaram se apresentando nos rinques de patinação, como Busta Rhymes, Wu-Tang Clan, Rakim…”. Uma das pistas que visitaram, em Los Angeles, já teve performances de Dr. Dre, Queen Latifah e Ice Cube pouco antes deles estourarem.
E a partir daí, vários patinadores passaram a convidar as diretoras para suas cidades – cada visita levava Tina e Dyana para lugares ainda mais profundos da patinação. Descobriram que cada cidade é conhecida por estilos e movimentos próprios – Texas tem o slow walk; Atlanta o Jackknife e por aí vai. Elas também ouviram histórias sobre racismo e discriminação que envolve a polícia e donos brancos de pistas de skate. A discriminação surge de diversas maneiras – da segurança desnecessariamente pesada e da quantidade exagerada de policiais em “noites adultas” (em comparação com a falta de segurança nas outras noites), a pistas que, de repente, banem hip-hop, r&b e os patins de rodas menores que os patinadores afro-americanos usam.
Foi quando elas se deram conta que os rinques representavam muito mais do que apenas patinação. “Queríamos deixar claro no filme que esse é um espaço politicamente carregado que é profundamente relevante pro nosso país, por tantas razões”.
O doc também mostra como esses lugares servem como segurança para manter os mais novos, especialmente, longe de problemas com gangues e com a polícia. “Uma vez que vimos o que estava acontecendo, fizemos um esforço consciente para usar nosso privilégio de expor o que podíamos. Somos muito conscientes do fato de que não viemos dessa comunidade, então nos certificamos de que eles queriam que fizéssemos isso. Fizemos o filme com eles, de modo que não estávamos impondo nenhuma de nossas ideias, e sim apenas permitindo que eles nos usassem como ferramenta”, diz Winkler.
Tina Brown e Dyana Winkler levaram cinco anos fazendo o documentário. reuniram 500 horas de cenas e trechos lendários de estrelas emergentes do hip hop dos anos 80 e 90 se apresentando nos rinques. As duas escreveram, dirigiram, produziram e, por conta de estarem tão envolvidas e todos os processos, conquistaram um acesso de muita confiança com a comunidade, chegando a dormir em suas casas.
O filme está passando por diversos festivais até que encontre um distribuir para leva-lo ao cinema. O cantor John Legend entrou recentemente como produtor executivo, o que deve ampliar as chances do documentário entrar em cartaz.
Em Los Angeles, uma pista foi reaberta e recebeu apoio de estrelas pop que reconhecem sua importância para a cultura hip hop. Beyoncé, Jay-Z, Snoop Dogg, Drake e Usher já foram patinar lá para dar apoio à causa. Como diz Pepa, do grupo Salt-N-Pepa, no início do filme, “patinação era hip hop”.