Por Guilherme Meneghetti
Esta é a terceira edição do programa Top 5 no SPFW. Cinco marcas de diferentes estados do Brasil desfilam suas coleções aproveitando a projeção e visibilidade que a semana de moda proporciona. A iniciativa, uma parceria do Sebrae com o Instituto Nacional de Moda e Design (In-Mod), busca fomentar a abertura de novos mercados, inserir os pequenos negócios no circuito da moda e fortalecer a rede de parceiros ao oferecer consultoria e acompanhamento – da criação ao desenvolvimento da coleção.
Elencamos os destaques da terceira coleção desfilada no SPFW de Karine Fouvry (Rio de Janeiro), Borana (Espírito Santo), Vankoke (Rio Grande do Norte), LED (Minas Gerais) e Studio Kalline (Santa Catarina). Veja abaixo:
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Karine Fouvry
Ao planejar esta coleção, em vista de uma era turbulenta Karine Fouvry decidiu parar, respirar, refletir e voltar às raízes. “Quis falar de uma coisa mais pacífica, mais calma, como se estivesse renascendo. O objetivo é trazer uma espiritualidade, já que o nosso mundo está muito tumultuado. Por isso quis fazer um manifesto para voltarmos às raízes, a coisas que nos acalmam”, disse ela ao FFW no backstage, minutos antes do desfile.
Daí saem os vestidos, macacões e calças fluidas que esbanjaram leveza e movimento na passarela, em tecidos como linho, seda e algodão contrapostos a franjas e texturas de macramê e crochê, evidenciando o trabalho manual – algo que faz parte de seu DNA criativo. Na cartela de cores, Karine quis brincar com a família dos brancos: branco e off-white com pontos de bege, marfim e madeira, sempre clarinhos. Já os acessórios – colares de madeira e bolsas de fibra longilíneas e rasteiras – foram produzidos por artesãos de Manaus. E os pés, descalços. “Eu acho que quando a mulher anda descalça, o jeito de ela andar é muito mais natural, mais à vontade. Além do contato com o chão, a terra, ‘manter o pé no chão’, ter uma racionalidade, uma verdade”.
Borana
A grife capixaba de Patiara Aguiar surgiu em 2010 com uma alma essencialmente brasileira. No entanto, nesta temporada a mulher Borana não só explora as praias do Brasil como também do mundo afora. “Ela trouxe em cada look um pouquinho de cada praia por onde passou. Está explorando outros ares”, conta Patiara, sempre com sorriso no rosto, sobre a inspiração da coleção.
Se a marca surgiu em busca de estampas mais expressivas em biquínis e maiôs, nesta coleção além das estampas, texturas brilhosas ganham vida na passarela em consonância ao mix de estampas e muita cor em peças como biquínis, maiôs, croppeds, bodys e quimonos. As bolsas de cesto e os acessórios neon foram produzidos por artesãos de Manaus.
Em sua terceira participação no Top 5, o foco de Patiara agora é abrir pontos de venda em São Paulo e no Rio, já que existe grande demanda nos dois estados, além do mercado internacional, especialmente Portugal, onde a marca foi muito bem recebida.
Vankoke
Com vibes 80’s, a coleção da potiguar Adriana Patrícia para Vankoke teve muito brilho. “A inspiração foi a Supernova, um fenômeno astronômico em que as estrelas, depois de milhões de anos de sua evolução, no estágio final acontece uma explosão, caracterizada por um brilho intenso”. Foi o ponto de partida para a coleção, a melhor desde sua primeira participação no SPFW. Ombro marcado, fendas, decotes, assimetria e transparência pontuam blazeres, vestidos, macacões e calças carrots, numa coleção festa em que clássico e sexy ocupam o mesmo lugar.
A participação no Top 5 trouxe visibilidade necessária à marca em âmbito nacional, o que a fez abrir o e-commerce para atender varejo e multimarcas. O foco é atender todo o Brasil para, depois, poder exportar.
LED
A marca mineira de Célio Dias sempre teve um discurso político por trás de suas coleções. Um deles é o manifesto em prol da comunidade LGBTQI+. A cada edição, por exemplo, a marca fala sobre um tipo de “bicha”: na primeira coleção apresentada no SPFW foram estampados nas peças os dizeres “bicha power”; na segunda, “bicha apocalíptica”; e, desta vez, “bicha arretada”. Isto porque o Nordeste brasileiro serviu de inspiração à coleção. “Eu quis desmistificar essa figura do cabra macho, essa virilidade da figura masculina no nordeste”, conta Célio, que sabiamente trabalhou com elementos que remetem à região brasileira envolvendo-os em seu universo criativo, passando longe do óbvio.
A partir daí, surgiu a figura do veado, uma ironia (e afronte) pensando nas diversas vezes que a palavra é usada de modo pejorativo, como ofensa à comunidade gay. O artista mineiro Paulo Marcelo criou, então, o próprio veado da LED e o estampou à mão com caneta fosca nas calças, camisas, parcas e jaquetas da coleção. Os chifres também. “Acreditamos que é um símbolo de força”. Os crochês e tricôs foram trabalhados com mais força nesta temporada, alguns deles tiveram aplicação de metal, material com o qual foi recriado o chapéu de cangaceiro. Aplaudido de pé com muita energia, Célio entrou na passarela com uma camiseta na qual se lia “Ele Não” e, na parte de trás, “Bichas Resistam!”.
Studio Kalline
Após 28 anos no mercado e a participação em duas edições do Top 5, a marca de Santa Catarina percebeu que era necessário criar uma nova linha, a Studio Kalline, com foco num trabalho mais autoral e novas propostas de cores e combinações paro o couro, matéria-prima que é carro-chefe da grife. “Me inspirei bastante no comportamento da mulher contemporânea, nesse movimento, nessa fluidez em tudo que ela está passando hoje”, diz Eduardo Rizzotto sobre a coleção de estreia da nova linha.
Saias assimétricas, tops de um só ombro, calças e mangas volumosas, tudo com couro, são pontuadas por aplicações com pedaços do mesmo tecido em linhas onduladas e, em alguns vestidos, recortes a laser que são feitos com técnicas exclusivas da marca. O resultado é uma imagem limpa e sofisticada. Destaque para as funny packs com alças que vão da cintura ao ombro.