Apesar de todos os esforços na direção de trazer mais diversidade e inclusão, a Gucci errou feio recentemente e está pagando caro por isso. A polêmica com o suéter black face parece longe de acabar. A grife postou uma foto da peça preta, com gola alta que sobe até os lábios, onde há um recorte que simula lábios vermelhos – a imagem faz referência ao personagem Sambo (também erroneamente usado pela Prada) e imediatamente foi atacada nas redes sociais. A situação fica ainda mais complicada por ter sido lançada no período em que se comemora o Mês da História Negra.
A peça foi rapidamente retirada de todas as lojas e a marca escreveu um comunicado se desculpando oficialmente.
Gucci deeply apologizes for the offense caused by the wool balaclava jumper.
We consider diversity to be a fundamental value to be fully upheld, respected, and at the forefront of every decision we make.
Full statement below. pic.twitter.com/P2iXL9uOhs— gucci (@gucci) February 7, 2019
Porém, o estrago já estava feito. O diretor Spike Lee disse, na sexta passada, que não vai usar Gucci ou Prada até que as marcas contratem mais designers negros. Em seu perfil no Instagram, Lee, que tem ganhado diversos prêmios por seu Blackkklansman, escreveu: “é óbvio para as pessoas que elas não têm ideia em relação a imagens racistas e blackface. Acordem”. Ele também disse que “as grifes precisam de profissionais negros dentro do escritório quando essas coisas acontecem”.
Inúmeras figuras do hip hop também estão boicotando a marca. Vale lembrar que os artistas dessa cena são amantes de moda, grandes consumidores e outdoors ambulantes, fazendo propaganda muitas vezes gratuita de dezenas de grifes de luxo. T.I, Soulja Boy e Waka Flocka Flame e o designer Jerry Lorenzo, da fear of God, estão falando abertamente sobre a questão. “Como um cliente que consome com 7 dígitos e um apoiador de longa data da sua marca, eu devo dizer: Vocês fuXXXX com a gente. Desculpas não aceitas”, escreveu Tip. “Nós não iremos aceitar esse tipo de desculpa tipo ‘ops, foi mal, não era nossa intenção ser racista'”.
Eles organizaram até um “call to action” que tem sido divulgado via Instagram:
Quem também se posicionou foi o estilista e alfaiate Dapper Dan. Ele tem uma história com a marca há anos, de altos e baixos. Dan ficou famoso por inserir o logo da Gucci em suas peças nos anos 80 e 90. Daí em 2017, foi Alessandro Michele que inseriu um de seus designes na coleção de Cruise 2018. No final, os dois lados decidiram trabalhar juntos com Dapper colaborando com a marca italiana em uma coleção cápsula e modelando para a campanha de alfaiataria.
Dan postou uma declaração dizendo que antes de ser uma marca, ele é um homem negro. “Mais uma empresa entendeu escandalosamente errado. Não há desculpas que possam apagar esse tipo de insulto. O CEO da Gucci concordou em vir da Itália para o Harlem esta semana para se encontrar comigo, junto com membros da comunidade e outros líderes do setor. Não pode haver inclusão sem responsabilidade. Eu vou responsabilizar a todos”.
Seja qual for o resultado de tudo isso, que este acontecimento sirva como (mais um) aprendizado para a moda, que tem errado frequentemente em relação a cultura negra. E se tem uma coisa que a Gucci pode fazer é servir como exemplo, não apenas admitindo o mal gosto e o erro e se desculpando, mas trazendo para seu ambiente de criação e trabalho a diversidade necessária para que isso não aconteça mais.