A Victoria’s Secret está finalmente fazendo algumas mudanças para evitar um desastre total. A marca, que por mais de 20 anos, vendeu um ideal de beleza inatingível e irreal, tem sofrido backlash por conta de declarações polêmicas de seu diretor de marketing Ed Razek, como quando disse que mulheres trans e plus size não fazem parte do imaginário da marca.
Pois essa semana, a VS contratou sua primeiro modelo trans e ela é a brasileira Valentina Sampaio. “Valents” tem quebrado barreiras aparecendo na capa de revistas como Vogue Paris e Elle Brasil, e estrelando campanhas para marcas como Hope. Ela fez um ensaio para a linha mais jovem da VS chamada Pink e compartilhou sua alegria em seu perfil no Instagram.
Poucos meses antes, a marca já havia anunciado que não televisionaria seu show anual, como sempre faz. O motivo? A audiência caiu drasticamente, dado que foi fortemente observado na edição de 2018. Como comparação, considerando o mercado americano, a transmissão do desfile da Victoria’s Secrets em 2013 atingiu 9.7 milhões de espectadores. Em 2017 atingiu “somente” 5 milhões. “Devemos evoluir e mudar para crescer. Com isso em mente, decidimos repensar o tradicional desfile da Victoria’s Secret. A partir de agora, não acreditamos que a rede de televisão seja a opção certa”, diz o comunicado enviado para a imprensa.
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Segundo um artigo publicado no New York Times há menos de um ano, as vendas da VS vêm em declínio há anos e suas ações caíram 41% em 2018. Em um estudo realizado em setembro de 2017 pelo Wells Fargo, 68% dos entrevistados disseram que gostavam menos da Victoria’s Secret do que costumavam e 60% disse que a marca parece “forçada” ou “falsa”. “A Victoria’s Secret está perdendo participação para outras marcas porque está fora de alcance”, disse ao NYT Paul Lejuez, analista de varejo do Citi que acompanha a L Brands, grupo que detém a grife. “A forma como o marketing trabalha está fora de sintonia. As mulheres não querem ser vistas como supermodelos sexy estereotipadas que compram lingerie apenas para agradar ao homem”.
Já em 2015 a então angel Karlie Kloss entregou suas asas alegando que não teria mais tempo de cumprir todos os compromissos com a marca. Mas na verdade, ela estava estudando Teoria Feminista na Universidade de Nova York, o que a fez cancelar um de seus contratos mais lucrativos na época. “Eu não senti que era uma imagem que refletia verdadeiramente quem eu sou e o tipo de mensagem que eu quero mandar para as jovens do mundo sobre o que significa ser bonita”, disse à Vogue britânica.
Outras modelos que desfilavam para a Victoria’s Secret, como Lily Aldridge, Bella Hadid e Kendall Jenner responderam aos comentários de Razek sobre modelos trans em stories no Instagram no final de 2018, com Kloss e Aldridge escrevendo: “Pessoas Trans ou GNC (gender non conformity) não são um debate”. Já Kendall postou uma foto de um broche que diz “comemore mulheres trans”.
A mensagem de uma marca de lingerie com este perfil ter em seu casting uma modelo trans é positiva, porém não deixamos de pensar que parece ter sido feita a forceps, como uma maneira de encontrar uma saída, ou melhor, um lugar ao sol nessa nova configuração de mundo. Não há dúvidas de que a marca fez essa mudança tarde demais, quando já há muitas outras grifes que comunicam inclusão e conseguem verdadeiramente falar com diversos perfis de mulher. Na verdade, apenas chamar uma modelo trans não configura mudança, mas pode ser um ponto de partida.
Já faz tempo que há pedidos para que Ed Razek e Leslie Wexner, presidente-executiva da L Brands, deixem seus cargos. Por mais que eles tentem se adequar para salvar a marca que sempre foi sua galinha dos ovos de ouro, não será suficiente porque simplesmente eles mostram não entender do que esse momento se trata. Para Valentina e outras modelos trans esse emprego representa uma vitória, mas para a Victoria’s Secret pode ser puro gender washing. Só o tempo dirá.
*Update: Ed Razek, diretor de marketing da Victoria’s Secret e criador das Angels demitiu-se da empresa, segundo reportou o Wall Street Journal