O mundo está assustado diante do avanço do coronavirus e os impactos econômicos que estão chegando a porta de todos, do pequeno trabalhador às grandes indústrias, passando por profissionais liberais de diversas áreas. A mídia, contabilizando o número de óbitos em tempo real, faz com que milhões de pessoas no mundo inteiro se sintam apreensivas e ameaçadas.
Mas o isolamento forçado tem mostrado um outro tipo de impacto: um impacto positivo. Os países que sofreram severos bloqueios para impedir a disseminação do coronavírus tiveram um benefício não intencional. O surto contribuiu, pelo menos em parte, para uma queda perceptível na poluição e nas emissões de gases de efeito estufa.
Observações por satélite mostraram que as medidas temporárias provocaram reduções significativas nas emissões nocivas. As restrições na China, por exemplo, fizeram com que o tráfego aéreo, ferroviário e rodoviário fosse pausado ou reduzido em algumas regiões. Segundo Lauri Myllyvirta, analista do Centro de Pesquisa em Energia e Ar Limpo da Finlândia, as restrições contribuíram para uma queda de 25% nas emissões de dióxido de carbono na China durante quatro semanas a partir do final de janeiro, em comparação com o mesmo período do ano passado.
Os satélites de monitoramento de poluição operados pela NASA e pela Agência Espacial Europeia observaram reduções drásticas na poluição do ar sobre a China durante duas semanas em fevereiro, quando a quarentena estava em vigor. Os satélites mediram as concentrações de dióxido de nitrogênio, que é liberado por carros, usinas e instalações industriais, de 1º a 20 de janeiro e novamente de 10 a 25 de fevereiro. A diferença era inconfundível, como você pode ver no post abaixo.
Since the outbreak of COVID-19 in China NASA has observed a massive drop in air pollution. This is due to the halt of industry, transportation, and more due to the virus. pic.twitter.com/lWFOZ8HNp9
— Climate News (@ClimateNews10) March 18, 2020
Em Nova York, houve uma queda de 28% na poluição no mesmo período. Já em Veneza, os canais frequentemente turvos começaram a ficar mais claros, com peixes visíveis na água abaixo. Embora sombrio, é algo que os cientistas disseram que poderia oferecer lições difíceis sobre como preparar – e idealmente evitar – os impactos mais destrutivos da mudança climática. “Podemos ajudar a prevenir crises no futuro, se estivermos preparados. Acho que existem algumas lições gerais que podem ser muito úteis”, diz a CNN Christopher Jones, desenvolvedor líder da CoolClimate Network, um consórcio de pesquisa aplicada da Universidade da Califórnia, Berkeley.
Portanto, o impacto no meio ambiente é positivo. Mas tudo vai voltar ao que era antes, uma vez que a epidemia for combatida? Queremos voltar ao status quo ou queremos reestruturar nossa economia e reduzir emissões e poluição?
Em termos de sociedade, a dor, o medo e a preocupação normalmente são compartilhados com nossos amigos e familiares, mas agora, com todos trancados em casa, esse sentimento de solidariedade está tomando conta das pessoas e contaminando as redes com boas iniciativas para o bem coletivo.
Um dos exemplos vem do Espírito Santo, das empresárias Alexandra Rediguieri e Marcella Moysés, que criaram um perfil no Instagram que conecta empreendedores e pequenos produtores do estado. Alexandra é dona de uma loja de acessórios e logo sentiu o impacto do coronavirus, com a loja completamente vazia, assim como as ruas de sua cidade. Em um video no Instagram, ela falou à sua rede sobre a necessidade deles divulgarem o trabalho dela. E ela se deparou, naturalmente, com muitas outras pessoas na mesma situação. Assim nasceu o Limonada 2.7, um canal que estimula parcerias, compartilha conteúdo e cursos, oferece apoio e incentiva o comércio online de pequenos empreendedores, que vão desde vendedores de água de coco na praia a empresários com lojas em shoppings.
Em São Paulo, a jornalista Priscilla Torelli começou uma ação coletiva usando como plataforma de comunicação o perfil do Insta @vilabuarque, que está funcionando como um canal de apoio entre moradores do do bairro que estejam no grupo de risco e voluntários que podem ajudar em tarefas como comprar alimentos.
E quem não se emocionou com o video de um pianista em Barcelona, que levou seu piano pra varanda e tocou My Heart Will Go On para quem quisesse ouvir. Não demorou para que um vizinho saxofonista se juntasse a ele. O que tem acontecido é que as pessoas já estão com as emoções à flor da pele e ver pessoas agindo com gentileza e delicadeza e pensando no bem estar dos outros é algo raro no nosso dia a dia “normal”. Mas é incrível como ações assim contagiam, elevam nossa alma e têm a capacidade de mudar o ambiente.
A solidariedade também chegou a médicos e enfermeiros que estão trabalhando sem parar, em muitos casos em condições longe do ideal. Por terem contato direto com muitos pacientes infectados, eles também estão sempre correndo algum risco. Uma foto com uma mensagem deles escrita em inglês viralizou e está sendo agora reproduzida em várias línguas, inclusive em português. Esse movimentou gerou o #aplausosnajanela, marcado para esta sexta (20.03), às 20h30, um momento que que cidadãos irão aplaudir os profissionais da saúde.
Sem contar as inúmeras iniciativas de empresas que têm liberado serviço pago durante a quarentena. Ontem mesmo publicamos uma matéria que mostrava os cursos gratuitos de instituições como Faculdade Getúlio Vargas, Udemy e Senai, entre outras, que estão liberando diversos cursos durante o período de isolamento.
A editora L&PM está liberando, desde terça-feira, um ebook grátis por dia, além de oferecer todos os livros digitais do catálogo com 30% de desconto. Operadoras de TV com serviço de assinatura também estão abrindo muitos de seus canais pagos até o dia 31 de março.
Ações como essas ajudam na parte psicológica do isolamento. De repente se ver obrigatoriamente fechado sem poder usufruir da nossa liberdade de ir e vir foi algo que pegou as pessoas de surpresa e isso, naturalmente, tem um efeito sobre nós. Passado o primeiro impacto, as pessoas estão se reorganizando através de grupos de suporte, ferramentas de reunião online e até de balada com o app HouseParty, que já era usado por adolescentes em 2017 e que está praticamente renascendo.
Um grupo de amigos criaram o perfil no Instagram @wfhfits (working from home fits) que postam os looks das pessoas trabalhando de casa. Milhares de iniciativas legais estão surgindo e quem sabe isso não fica como um aprendizado pra gente construir de uma vez por todas uma sociedade colaborativa.
View this post on InstagramMy grandma has ears that listen, arms that hold, love that’s never ending, and a FIT THAT IS BOLD!